Descrição de chapéu Eleições 2024

Congresso do MBL tem Kim em campanha e promessa de 'matar bandido'

Pré-candidato a prefeito de São Paulo falou em encontro anual de seu movimento que ocorre na capital

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São Paulo

O deputado federal Kim Kataguiri, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pela União Brasil, adotou tom de campanha durante o congresso nacional do MBL (Movimento Brasil Livre) e, em discurso linha dura sobre segurança pública, fez a promessa de, se eleito, dar aval para matar criminosos.

A fala foi aplaudida pela plateia. O evento, que teve cerca de 2.500 ingressos vendidos para sua oitava edição anual, segundo a organização, ocorre neste sábado (4) em um espaço na Mooca (zona leste).

"O bandido, ou ele muda de cidade, ou ele muda de profissão, porque aqui em São Paulo não vai dar para ficar. Porque, se apontar a arma para a cara do cidadão aqui na cidade de São Paulo, nós vamos te matar. Se você apontar uma arma para o cidadão paulistano, nós vamos te matar", disse Kim no palco.

O ex-deputado estadual Arthur do Val e o deputado federal Kim Kataguiri durante o 8º Congresso Nacional do MBL, realizado neste sábado (4) em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

O deputado afirmou que, em uma eventual gestão sua, essa será a orientação tanto para a Polícia Militar quanto para a Guarda Civil Metropolitana. Uma de suas plataformas de campanha para 2024 é a transformação da GCM em Polícia Municipal, em sinalização aos eleitores preocupados com a violência.

O deputado, que também disse ser preciso "declarar guerra aberta ao PCC" para sufocar o crime organizado na cidade e combater furtos e roubos, fez as declarações durante painel ao lado do vereador Pedro Duarte (Novo-RJ), integrante do MBL que é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro.

Minutos depois, Kim foi questionado por um rapaz do auditório sobre o risco da afirmação sobre dar ordem para matar criminosos. Segundo o espectador, que disse ser morador do Jardim Ângela (zona sul), a mídia poderia passar a atribuir à política da prefeitura eventuais mortes na periferia.

O deputado reafirmou o posicionamento e disse que não está defendendo nada que não esteja previsto pela legislação. "É legítima defesa de terceiro", respondeu, acrescentando que a medida teria o apoio de boa parte da população.

Kim também fez críticas ao candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), e ao líder nas pesquisas, Guilherme Boulos (PSOL). Atacou o que chamou de incapacidade de gestão do primeiro e se referiu ao segundo como um representante da extrema esquerda que fez a vida liderando invasões.

Apesar de ter sido lançada pelo MBL após um processo de prévias internas, a candidatura de seu integrante ainda é incerta, já que hoje o partido apoia Nunes. Em entrevista à Folha em setembro, Kim afirmou dar 100% de certeza de que seu nome estará na urna.

O deputado, que vem tentando obter apoios internos, registrou em agosto 8% de intenções de voto no Datafolha, ante 32% de Boulos, 24% de Nunes e 11% de Tabata Amaral (PSB).

Durante o congresso, o MBL anunciará o início do processo de criação de um partido próprio, ideia gestada nos últimos anos. O grupo, que considera o projeto o maior de sua história, alocou seus candidatos desde 2016 em diferentes legendas, como União Brasil, Patriota e Novo.

O plano é iniciar a coleta das assinaturas necessárias para oficializar o pedido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). É preciso reunir 492 mil apoios, distribuídos por ao menos nove estados. A expectativa é que o partido esteja formado para as eleições de 2026. Nas de 2024, o formato atual será mantido.

O congresso do MBL neste sábado reúne integrantes de vários estados, como Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Pará e Bahia. Camisetas, canecas e livros do movimento são vendidos para a plateia, formada majoritariamente por homens. O público predominante está na casa dos 20 a 40 anos.

A programação inclui campeonatos de debates entre membros do MBL e a realização de um "Congresso simulado", em que os simpatizantes discutem e votam projetos fictícios como se fossem eleitos por partidos de verdade. Há, inclusive, os que representam siglas de esquerda, como PT e PCO.

Até a véspera, havia ingressos à venda. O tipo padrão saía a R$ 250 por pessoa, e o vip custava R$ 1.000, dando acesso a uma área com open bar, "acomodação exclusiva" e possibilidade de contato com os palestrantes. Food trucks de comida e bebida foram espalhados pelo local.

A lista de convidados incluiu o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), o doutor em filosofia e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo e o professor e engenheiro agrônomo Xico Graziano, entre outros nomes ligados aos espectros liberal e conservador.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) chegou a ter a presença anunciada há meses para uma mesa em que rebateria a tese de golpe aplicada ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), mas a atividade foi desmarcada na véspera em razão de um alegado compromisso de viagem do ex-mandatário.

O MBL, que foi um dos agitadores da derrubada da petista e ajudou a impulsionar a direita no país depois de 2014, vê nas próximas eleições uma oportunidade de consolidar um espaço à direita.

Depois de apoiar a eleição de Jair Bolsonaro (à época no PSL, hoje no PL), o movimento rompeu com o presidente no início do governo, o que levou o grupo a um reposicionamento político e acabou mais tarde provocando a saída de membros e uma reorganização da base de militantes.

O objetivo com a eventual candidatura de Kim é manter o capital político atingido na capital paulista com a candidatura em 2020 de Arthur do Val, que surpreendeu e ficou em quinto lugar, com 9,78% dos votos válidos.

O ex-deputado estadual, conhecido como Mamãe Falei, perdeu o mandato após virem a público no ano passado falas machistas relacionadas às mulheres ucranianas vítimas da guerra. Ele segue atuante como membro do movimento, mas ficou inelegível por oito anos após a cassação.

Durante o encontro deste sábado, Arthur disse que "é uma obrigação do MBL ter candidatura em 2026", apontando para a Presidência da República. Ele defendeu que o grupo atraia pessoas de direita mais velhas e que, em suas palavras, "geralmente são bolsominions".

Na divulgação do encontro anual deste ano, o grupo disse que o evento tinha como objetivos superar os "dias de tormenta" de 2022, numa alusão ao caso de Arthur do Val e às consequências negativas para a imagem do grupo, e preparar a estratégia política para o próximo ciclo.

"O 8º congresso nacional é o momento de comemorarmos nossos dias de glória depois dos dias de tormenta no ano passado. É a ocasião em que todas as lideranças ao redor do Brasil se reúnem para pensar juntos o que o MBL fará no ano eleitoral de 2024", afirmou o texto.

Durante o evento, foram apresentados novos integrantes que têm ganhado protagonismo na linha de frente do movimento, como os influenciadores João Bettega, Gabriel Costenaro, Jota Jr. e Arthur Scara e o empresário Rafael Macris.

Outro expoente que tem ganhado espaço é o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil-SP), vice-líder do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) na Assembleia. Zacarias circulou pelo evento com status de celebridade, parando para atender a pedidos de selfies e conversar com admiradores.

Entre os planos anunciados no congresso estão a ampliação do Clube MBL e da Academia MBL, núcleos para a formação de militantes e a oferta de cursos. O clube tem 8.000 membros, segundo o movimento, com acesso a conteúdos exclusivos e privilégios. A Academia chegou à marca de 1.554 inscritos.

Uma das metas para 2024 é impulsionar uma lista de 50 influenciadores espalhados por diferentes regiões, descentralizando o trabalho para além de São Paulo. Foram apresentados no telão dados que, segundo o grupo, demonstram crescimento robusto da base de seguidores de seus principais nomes.

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