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Lula põe Boulos no palanque em agenda de cabo eleitoral e provoca Nunes e Tarcísio

Presidente faz ato do governo federal em SP com aliado apoiado pelo PT e cita ausência de prefeito e governador

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São Paulo

O presidente Lula (PT) iniciou sua atuação como cabo eleitoral de Guilherme Boulos (PSOL) ao colocar o aliado no palco de uma cerimônia do governo federal, neste sábado (16), em Itaquera (zona leste). A eleição do deputado federal à Prefeitura de São Paulo é uma das prioridades do petista para 2024.

A solenidade que marcou a estreia do presidente na pré-campanha foi escolhida a dedo para favorecer Boulos, que atua na pauta de habitação. Lula assinou contrato para as obras de um empreendimento a ser construído em parceria com o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), liderado pelo parlamentar.

Políticos do PT, do PSOL e de outras legendas da coligação também participaram do evento, o primeiro a reunir Lula e Boulos na capital paulista desde que o PT oficializou o apoio à pré-candidatura, em agosto.

Lula disse que os empreendimentos também terão recursos dos governos estadual e municipal e citou a ausência do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), rivais da esquerda na disputa municipal. "Eu acho que eles foram convidados e não vieram, mas se viessem seriam tratado com o maior respeito, porque educação a gente aprende em casa."

O presidente Lula e o deputado Guilherme Boulos (PSOL) em evento de obras do Copa do Povo, do Minha Casa, Minha Vida, em Itaquera (SP) - Bruno Santos/ Folhapress

O presidente prometeu voltar à região no começo de 2024 para retomar a construção de uma universidade da zona leste. "Eu vou vir aqui somente no dia que for para ligar a máquina e ela começar a remover a terra para a gente colocar o primeiro tijolo." Ele voltou a fazer referências religiosas ao atribuir sua eleição "a Deus e ao povo". "Nenhum pastor deste país tem direito de dizer que eu não creio em Deus."

O ministro Jader Filho (Cidades), que é do mesmo partido de Nunes, participou do evento —o MDB integra a base do governo federal. Além dele, estiveram no palco Fernando Haddad (Fazenda), Marina Silva (Meio Ambiente), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais).

Líder nas pesquisas de intenção de voto, Boulos vê como um trunfo o envolvimento de Lula na campanha. Ele cita os índices de popularidade do presidente na cidade e o resultado da eleição de 2022, quando Lula teve mais votos no município do que o então presidente Jair Bolsonaro (PL).

Neste sábado, o psolista afirmou que a obra na zona leste não foi lançada antes, apesar de o empreendimento estar autorizado desde 2019, porque havia na Presidência "alguém que não olhava para o povo, que governava com ódio".

"Daqui um ano, um ano e meio, vamos voltar aqui para entregar as chaves e fazer um churrasco para esse povo todo. Obrigado, presidente Lula, por devolver a esperança para o povo mais pobre deste país."

O deputado do PSOL evitou polemizar diante da ausência de Nunes e Tarcísio. "Tanto o governador do estado quanto a prefeitura cumpriram o seu papel institucional. Estar ou não presente em um evento não é o mais relevante."

A assessoria de Tarcísio disse que ele já tinha agenda de entregas de títulos de regularização fundiária em Caieiras e Osasco.

Nunes respondeu que "eventos relacionados a invasão, furar fila, desrespeitar leis" não terão sua "presença e apoio" e que a prefeitura trabalha em "um grande programa habitacional, respeitando as leis, sem invasão, respeitando a lista dos inscritos".

Pessoas, vestidas de branco ou vermelho, sorriem e posam juntas para foto
Lula e Boulos posam para foto durante evento em Itaquera, em São Paulo - Bruno Santos/ Folhapress

A estreia de Lula na eleição paulistana ocorre em meio às articulações que ele está fazendo para atrair de volta ao PT a ex-prefeita Marta Suplicy e torná-la candidata a vice. A proposta, revelada pela Folha, ganhou corpo nos últimos dias com um telefonema do presidente para a ex-petista.

A operação é complexa não só porque Marta saiu rompida do partido, mas também porque ela é secretária de Relações Internacionais de Nunes, que tentará a reeleição. Lula deve aproveitar a passagem por São Paulo para conversar pessoalmente com ela e tentar sacramentar a costura.

Boulos confirmou a negociação, mas evitou entrar em detalhes. "É lógico que eu participo dessas conversas, é lógico que vai ser sempre com diálogo e com a minha anuência, mas eu prefiro falar sobre esse assunto no momento em que estiver consolidado."

Ele disse que Marta foi uma "grande prefeita" e deixou marcas como CEUs, Bilhete Único e corredores de ônibus na periferia. Questionado se a escolha lhe causaria desconforto, ressaltou que a prerrogativa de escolha do vice será do PT.

"Existe um acordo político, e acordo político se cumpre. O PT cumpriu o compromisso político de apoiar a nossa candidatura e hoje o presidente veio aqui prestigiar o evento conosco, demonstrando o compromisso com esse processo. Eu obviamente cumprirei o compromisso de que a vice é do PT."

Marta tem desafetos no PT por ter votado a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e virado uma crítica do partido em que militou por 33 anos até se desfiliar, em 2015, rumo ao MDB. Apesar das arestas a serem aparadas, a avaliação é que a presença dela ampliaria as chances de Boulos.

Padilha disse que a decisão sobre Marta cabe à campanha de Boulos, mas elogiou o nome da ex-petista. "A Marta Suplicy tem uma grande experiência por ter sido prefeita de São Paulo", afirmou o ministro.

"Você anda na periferia de São Paulo e ouve saudades muito grandes. O povo gosta muito da Marta, então é uma pessoa que certamente vai ter uma influência sobre o destino da cidade de São Paulo", acrescentou o auxiliar de Lula, em aceno à ex-petista.

O ministro também minimizou a derrubada de vetos de Lula à desoneração e ao marco temporal no Congresso. "Não tem time campeão invicto no campeonato. Você pode empatar, perder, o que você não pode é perder a decisão e o mata-mata. O governo termina o ano ganhando todos os jogos decisivos no Congresso Nacional."

Lula assinou o contrato para o início das obras do empreendimento Copa do Povo, que fará parte do programa Minha Casa, Minha Vida - Empreendimentos. As unidades habitacionais serão erguidas em uma área invadida em protesto pelo MTST às vésperas da Copa do Mundo de 2014.

O terreno reivindicado pelo movimento fica perto da Neo Química Arena, uma das sedes da Copa. Segundo o MTST, o projeto das construções foi aprovado em 2017, mas ficou travado pelo governo federal, sobretudo no período Bolsonaro.

O movimento atribui à gestão Lula a retomada do diálogo entre as esferas federal, estadual e municipal para a autorização das obras. O empreendimento (o primeiro módulo com 640, mas com um total de 2.650 apartamentos) será tocado pelo MTST.

Lula estará em atos na capital em 2024

Boulos vem adotando uma estratégia para rebater as pechas de radical e extremista exploradas por adversários como Nunes, que se refere a ele como invasor de propriedades. O psolista tenta suavizar a imagem defendendo o papel de movimentos sociais e sinalizando disposição ao diálogo.

Lula prometeu a Boulos uma participação ativa na campanha. Segundo aliados, o presidente vai conciliar o papel institucional com as atividades de militante partidário. Ele confirmou neste sábado que vai intensificar a presença na cidade para solenidades do governo no próximo semestre.

Além de ter agido para pacificar a situação no PT e dissipar a resistência de alas da legenda à aliança com o PSOL, Lula determinou que o governo aumente o ritmo de anúncios e medidas na capital para impulsionar Boulos e promover uma identificação de seu nome com agendas positivas.

Desde que tomou posse, o presidente teve uma agenda escassa de compromissos na capital. O ato deste sábado foi um dos primeiros que ele fez na cidade com presença de público e tom festivo. Nos meses iniciais de seu terceiro mandato no Planalto, o petista priorizou viagens internacionais.

A eleição do ano que vem será a primeira desde a redemocratização em que o PT não terá candidato próprio na capital paulista. Lula fechou em 2022 um acordo com Boulos em que ele, em troca da aliança em 2024, abriu mão de concorrer ao governo estadual para apoiar Haddad, derrotado por Tarcísio.

O PT já governou a cidade três vezes, com Luiza Erundina (hoje no PSOL), Marta e Haddad. Em 2020, Boulos chegou ao segundo turno e foi derrotada por Bruno Covas, de quem Nunes herdou a cadeira. O psolista foi eleito com 1 milhão de votos em 2022 para seu primeiro mandato como deputado federal.

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