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Aliança com Marta evidencia pragmatismo de Boulos e PT na eleição em SP

Lula e aliados reeditam ideia de frente ampla e pregam diálogo para barrar vitória de aliado de Bolsonaro

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São Paulo

A articulação para repatriar Marta Suplicy ao PT e juntá-la a Guilherme Boulos (PSOL) é o sinal mais evidente até aqui do pragmatismo que move o presidente Lula (PT) e o pré-candidato apoiado por ele na eleição paulistana. A ordem nos dois partidos é fazer o que for preciso para vencer.

Boulos, que passa por um processo de moderação ao estilo do adotado por Lula em outras eleições, sinaliza à militância que a prioridade dele e de Lula é derrotar o campo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje tido como aliado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), postulante à reeleição.

Guilherme Boulos (PSOL) e Lula (PT) em ato do governo federal para lançar empreendimento que beneficiará o MTST, na zona leste de São Paulo - Bruno Santos - 16.dez.2023/Folhapress

A inspiração é o espírito de frente ampla incorporado à retórica da candidatura presidencial do PT em 2022, com a superação de diferenças com antigos detratores, simbolizada na escolha de Geraldo Alckmin (PSB) para vice, e a suavização de bandeiras da esquerda como a descriminalização do aborto.

"Nós não faremos uma campanha para marcar posições ideológicas", disse Boulos na terça-feira (9) a uma plateia de apoiadores no ato em que o PDT oficializou apoio à sua pré-candidatura.

"Faremos uma campanha com o máximo de amplitude democrática, para ganhar a eleição e governar para o povo de São Paulo", completou o deputado federal.

A diretriz foi reforçada na ocasião pelo presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro, que falou na necessidade de "abrir mão de todas as vaidades e projetos políticos" em nome de algo maior. Ele lembrou que a sigla pela primeira vez está fora da cabeça de chapa na capital e pregou união para "derrotar o bolsonarismo".

Nos bastidores da pré-campanha, a avaliação é que as concessões serão avaliadas conforme a relação de custo-benefício e haverá cautela quando esbarrarem em questões caras ao chamado campo progressista. Boulos tem dito que não abrirá mão de seus princípios na formulação do plano de governo.

A composição com Marta passou pelo crivo das cúpulas do PSOL e do PT, apesar do carimbo de golpista que recebia até outrora em razão do voto favorável da então senadora pelo MDB ao impeachment de Dilma Rousseff (PT). Ela nunca fez autocrítica sobre a decisão e contesta a narrativa de golpe.

Boulos, que nos últimos tempos desfia elogios à gestão dela como prefeita (2001-2004) e a legados como CEUs, Bilhete Único e corredores de ônibus, esteve nas ruas contra a deposição de Dilma e outras medidas que Marta ajudou a aprovar no Senado, como a reforma trabalhista da gestão Michel Temer (MDB).

Marta fez campanha por Bruno Covas (PSDB) na eleição municipal de 2020, quando Boulos chegou ao segundo turno contra o tucano e perdeu. Covas a convidou para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais, e Nunes, que assumiu com a morte do prefeito, decidiu mantê-la.

Ela só deixou o cargo nesta semana, num processo de demissão tumultuado por causa da negociação aberta que mantinha com o PT para retornar à sigla que deixou em 2015, após 33 anos. Na época, ela relacionou o partido a roubalheira e desvio de recursos para financiar um projeto de poder.

Marta foi recebida por Lula no Palácio do Planalto na segunda-feira (8) e posou para fotos, prontamente espalhadas por petistas, pavimentando o retorno dela ao partido, em vias de ser sacramentado.

Há resistências internas, mas o envolvimento direto de Lula na costura tende a desarmá-las. A Folha antecipou em novembro que a volta de Marta ao PT era discutida por alas do partido, que avaliavam como determinante para o sucesso do arranjo um pedido do presidente à ex-prefeita.

Marta receberá Boulos em um almoço neste sábado (13) em que, no pano de fundo, está um esforço para "quebrar o gelo". Sem proximidade e com posições contraditórias em temas que mobilizaram a esquerda nos últimos anos, eles têm agora a missão de se entrosarem e alinharem discursos.

Incumbido por Lula de auxiliar na reaproximação do PT com Marta, o deputado federal Rui Falcão (SP) foi convidado para o encontro. Ele tem repetido que o momento é de "olhar para a frente" e passar uma borracha em questões do passado para evitar que São Paulo caia nas mãos do bolsonarismo.

O tom no PT reedita o empregado por Lula na candidatura à Presidência, quando deu aval para a reconciliação com desafetos e figuras que tinham passado à oposição e apoiado o impeachment.

A operação para o resgate de Marta às hostes petistas foi aprofundada desde o encontro dela com Lula. Entre líderes do PT, predominou uma postura elogiosa à gestão dela e a opinião de que a aliança vai turbinar Boulos por somar atributos como experiência no Executivo e diálogo com setores da elite.

A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou em rede social que "a chapa do companheiro Guilherme Boulos será muito fortalecida se tiver a participação da ex-prefeita Marta Suplicy, que tem força na periferia de SP, pelo excelente trabalho que fez quando foi prefeita pelo PT".

Na mensagem, Gleisi deu boas-vindas à ex-prefeita —que ainda não se filiou— e exaltou a soma de forças "em defesa da democracia e do projeto de transformação" do país. "Vencer a eleição da Prefeitura de São Paulo é importantíssimo em nossa luta contra a extrema direita e o bolsonarismo", disse.

No entorno de Boulos, a estratégia é tentar ampliar a base para além da esquerda, já tida como eleitora convicta dele. Além de ter o apoio de Lula, o deputado ressalta o fato de ter conseguido unidade no segmento —que só não é total por causa da pré-candidatura de Tabata Amaral (PSB).

O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) tem tentado convencer a opinião pública de seu apreço pelo diálogo com diferentes setores, na intenção de combater os rótulos de invasor de propriedades, extremista e radical explorados por Nunes e pelo bolsonarismo.

O psolista atraiu para a equipe que prepara seu programa de governo um conjunto diverso de ex-secretários de gestões na prefeitura e no governo estadual. Ele deve receber contribuições de políticos e técnicos que trabalharam, por exemplo, com Alckmin (quando era do PSDB) e Bruno Covas.

No evento em que apresentou os colaboradores, em dezembro, Boulos foi questionado pela Folha sobre críticas à sua aproximação com o centro e a direita. "Todo mundo conhece minhas posições, sabe de onde eu vim e o lado que eu tenho", respondeu, dizendo-se aberto a negociar com todos que se opuseram a Bolsonaro e queiram evitar a eleição de um aliado dele na cidade.

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