Descrição de chapéu Eleições 2024

Boulos e Marta fazem 1º ato de rua em SP com provocação a Nunes

Pré-candidato do PSOL chamou rival de 'tchutchuca do Bolsonaro', e ex-prefeita disse que eleição 'não será passeio'

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São Paulo

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), que devem formar chapa para concorrer à Prefeitura de São Paulo, fizeram atividades em Parelheiros (zona sul) nesta quinta-feira (22) que incluíram provocações ao prefeito Ricardo Nunes (MDB).

A região, onde Marta conserva apoio, recebeu a primeira agenda conjunta deles na pré-campanha.

A petista rompeu com a gestão Nunes, da qual era secretária, para voltar à antiga sigla e ocupar a vice de Boulos. A aliança do emedebista com Jair Bolsonaro (PL), usada por ela como justificativa para o desembarque, foi criticada por Boulos, que chamou Nunes de "tchutchuca" do ex-presidente.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL) e a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) participam de plantio de muda de cambuci em Parelheiros, na zona sul de São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

Em discurso para apoiadores na região, Boulos atacou a presença anunciada de Nunes na manifestação convocada por Bolsonaro para o próximo domingo (25) na avenida Paulista. O ex-presidente chamou o ato afirmando que se defenderá das investigações que o ligam à tentativa de um golpe de Estado no país.

"Esse prefeito se comporta como 'tchutchuca' do Bolsonaro, não como prefeito da cidade de São Paulo", disse o psolista.

Ele não mencionou o nome de Nunes em nenhum momento da fala. Referiu-se ao adversário como "cidadão que está sentado na cadeira da Prefeitura de São Paulo", "prefeito fantasma" e membro do "time do inelegível", reforçando a polarização no pleito local entre Bolsonaro e o campo de Lula.

Marta, que falou à militância por pouco mais de 3 minutos, evitou alusões ao antigo aliado e buscou destacar legados de sua administração (2001-2004) para Parelheiros, distrito do extremo sul da cidade.

Ela pediu engajamento dos apoiadores na propaganda boca a boca e fez um alerta, ao afirmar que "a campanha não vai ser um passeio, nenhuma campanha é passeio".

"Agora, o coração dessa campanha, a vitória dessa campanha, não tá lá [longe] não, tá aqui em Parelheiros, na gente que sabe quais são as prioridades que essa cidade precisa", disse.

Na saída, ao falar a jornalistas, Boulos disse que rotulou Nunes como "tchutchuca" de Bolsonaro porque o oponente não tem identidade e rechaçou comparações com a sua relação com o presidente Lula (PT).

O deputado disse que são situações diferentes porque ele, embora seja apoiado por Lula, tem trajetória individual, militou em movimentos sociais e ajudou a construir um partido. "Não caí de paraquedas na vida política, como ele fez. E tenho ideias próprias, [como] não parece ser o caso do prefeito."

Em ofensiva contra Nunes, o psolista falou que o prefeito "só se omite" diante de crises e "lamentavelmente está submetendo São Paulo a esse constrangimento de ele ir no palanque do Bolsonaro para se defender [das suspeitas] de golpe de Estado". Disse ainda que não esconde seus aliados, enquanto o emedebista às vezes "tenta fingir que não é o candidato do Bolsonaro".

Marta deixou o local dos discursos sem atender à imprensa. Reintroduzida no PT após ter deixado o partido insatisfeita e ter votado como senadora pelo impeachment de Dilma Rousseff, ela foi aclamada no evento e recebida com os versos "olê, olê, olá, Marta, Marta".

A ex-prefeita se disse "muito à vontade, tranquila e contente" com a aliança com Boulos e afirmou se identificar com ele na atenção aos pobres. "Depois de muito tempo, nós vamos ter um prefeito nessa cidade que sabe o que as pessoas precisam, que tem um olhar para os mais necessitados, os idosos, as crianças."

O roteiro da dupla incluiu uma visita à terra indígena Tenondé Porã, caminhada pelo comércio da região e o plantio de uma muda de árvore, da espécie cambuci. Os dois também tiveram encontro com moradores, no primeiro ato público desde que a chapa foi confirmada, no último dia 2, com a refiliação de Marta ao PT.

O dia dos pré-candidatos começou na terra indígena, a cerca de 60 km do centro da cidade e onde Marta e Boulos passaram por um centro de educação inaugurado por ela quando era prefeita. Eles foram recebidos por líderes de uma das 14 aldeias do território e assistiram a uma apresentação de crianças que cantaram músicas na língua guarani.

Os representantes dos indígenas também entregaram uma carta de reivindicações que foi assinada pelo pré-candidato a prefeito e sua vice. Entre os pontos com os quais se comprometeram, estão a criação de um programa de compensação ambiental e a melhoria das vias de acesso à área.

A etapa seguinte do giro por Parelheiros foi uma caminhada numa rua comercial, onde Boulos e Marta cumpriram o roteiro típico de candidatos: tomaram cafezinho numa padaria, cumprimentaram lojistas e posaram para fotos. A petista foi abraçada, distribuiu acenos e ouviu agradecimentos.

Num açougue, o funcionário encarregado de anunciar as ofertas ao microfone saudou a dupla e conclamou: "Vamos tirar esse Ricardo Nunes". A um morador com o celular em riste que perguntou como Marta se sente na volta ao PT, ela respondeu que está bem. "É a minha raiz", disse.

A maior parte dos transeuntes assistiu à passagem da caravana em clima alheio ao da campanha. Apesar das bandeiras, como a do PC do B, um dos partidos da coligação, moradores demoraram a entender do que se tratava —e outros mal perceberam. "É o Lula?", indagou uma jovem.

Vários pré-candidatos a vereadores do PSOL e PT acompanharam as atividades. A plenária que encerrou a programação do dia, num auditório cheio, também contou com a participação de vereadores e deputados estaduais e federais, além de dirigentes de partidos da coligação.

Na conversa com a imprensa, Boulos comentou a guerra Israel-Hamas, tema que já lhe rendeu críticas por sua posição pró-Palestina, e negou que venha se esquivando do assunto.

"Minha posição desde o primeiro momento foi de condenação do massacre desumano que está sendo conduzido na faixa de Gaza", disse, culpando "o governo de extrema direita do Binyamin Netanyahu".

"Condenei os ataques terroristas do Hamas, mas isso não significa em nenhum momento silenciar sobre esse absurdo desumano, essa barbárie", acrescentou ele, que em outubro teve que fazer um pronunciamento sobre a questão após uma fala ambígua em que não havia citado o Hamas.

Nesta quinta, o pré-candidato afirmou também condenar a "seletividade moral" diante da analogia do presidente entre a guerra e o Holocausto. "[Há] gente que agora sai condenando, atacando o Lula pela declaração que deu, inclusive o prefeito de São Paulo, e que eu não vi dizer um pio quando caiu bomba sobre escola e hospital na Faixa de Gaza."

Marta Suplicy e Guilherme Boulos com crianças da terra indígena Tenondé Porã - Marlene Bergamo/Folhapress

O circuito percorrido por Boulos e Marta fez parte das caravanas do Salve São Paulo, um movimento fabricado pela pré-campanha para levar o postulante a diferentes bairros e aproximá-lo de líderes comunitários e empresariais.

Reduto eleitoral de Marta, a região da zona sul ganhou o apelido de Martalândia. Como mostrou a Folha, a petista pode ajudar Boulos a expandir sua votação sobretudo em Parelheiros e no Grajaú, também na zona sul, onde ela ou o candidato apoiado por ela se sobressaíram nas últimas eleições municipais.

Prefeita de São Paulo de 2001 a 2004, Marta retornou ao PT em ato no início deste mês para ser vice de Boulos em ato com a presença do presidente Lula, que costurou a volta dela, plano noticiado pela Folha em novembro. A ex-prefeita era secretária da gestão Nunes até dezembro e usou a aliança dele com Bolsonaro como justificativa para romper com o prefeito e regressar ao antigo partido.

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