Descrição de chapéu Viaja SP

Baixio é Bahia de lagoas de água doce em meio a dunas, coqueirais e o mar

No litoral norte, vilarejo pacato vai ganhar hotéis, resorts e condomínios; estado conquista paulistanos, mostra Datafolha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Imagem mostra a região conhecida como Lagunas de Baixio, que fica na APA (Área de Proteção Ambiental) Litoral Norte, onde há desovas de tartarugas; vilarejo baiano concentra lagoas de águas cristalinas

Região conhecida como Lagunas de Baixio, que fica na APA (Área de Proteção Ambiental) Litoral Norte, onde há desovas de tartarugas; vilarejo baiano concentra lagoas de águas cristalinas Roberto de Oliveira/Folhapress

Baixio (Bahia)

Sem vivalma na praia, a imensidão do oceano de tons diversos torna-se ainda mais impactante. Imagine então quando a vegetação beira-mar se mistura a coqueirais e restingas. Conforme se avança areia adentro, jardins de mata atlântica, com espécies do cerrado, adornam o trajeto. O cenário é um ensaio para o gran finale. Acredite, aqui, o mar não é a estrela. Quem brilha é uma lagoa de água esverdeada, translúcida, na temperatura certa, arrodeada de areia branca.

O nome do lugar remete ao óbvio: Lagoa Verde, pois ela reflete, em suas águas, a cor da vegetação ao redor. No entanto, não há nada de óbvio nesse destino com que a Bahia nos presenteia. A bola da vez é Baixio, povoado simples com cerca de 2.000 habitantes, que começa a despertar aos olhos de visitantes daqui e de fora.

Da capital, Salvador, até lá são cerca de 120 km. A tentação já começa na Estrada do Coco/Linha Verde (BA-99), considerada a primeira rodovia ecológica do Brasil. O trajeto leva cerca de duas horas. Passamos por praias sedutoras como Forte e Imbassaí, além da Costa do Sauípe, antes de pegar uma via de acesso asfaltada até a Vila de Baixio, distrito de Esplanada.

Ainda soberana, a natureza é quem dita a paragem por essas bandas. A praia se estende desde a foz do rio Subaúma, na divisa com o município de Entre Rios, até a margem direita da foz do rio Inhambupe, que separa a vila da cidade de Conde.

Baixio tem lá sua singela capelinha, dedicada a São Francisco de Assis. Há algumas pousadas (destaque para a Aldeola) e um hotel beira-mar, o Ponta de Inhambupe. Nele, o restaurante Cambuí, também aberto a não hóspedes, é dono de um menu caprichado. Executado pelo chef paulistano Murilo Rocha, 35, o cardápio tem uma pegada mais voltada aos frutos do mar. Sua moqueca de peixe e camarão serve duas pessoas e custa R$ 189, assim como o camarão com arroz de coco e queijo coalho tostado (R$ 107).

Imagem mostra Capela de São Francisco de Assis, no centrinho do vilarejo de Baixio, "novo" destino que está atraindo a atenção de turistas brasileiros e estrangeiros ao litoral norte da Bahia, melhor estado para viajar, segundo pesquisa Datafolha
Capela de São Francisco de Assis, no centrinho do vilarejo de Baixio, "novo" destino que está atraindo a atenção de turistas brasileiros e estrangeiros ao litoral norte da Bahia, melhor estado para viajar, segundo pesquisa Datafolha - Roberto de Oliveira/Folhapress

O hotel é interligado a um condomínio, com uma parte voltada para a praia e outra para o rio Inhambupe, onde há casas para locação.

Situada na chamada Costa dos Coqueiros, a Vila de Baixio exibe 16 km de um litoral ainda pouco explorado, em meio a lagoas, dunas, mangues, rios e, é claro, muita areia para encarar.

Pegue como exemplo a Lagoa Verde. Para chegar até as suas águas, é preciso percorrer um trajeto de 20 km a partir do vilarejo. Atravessamos uma espécie de túnel de biomas. O percurso é feito, na maior parte do tempo, no ecossistema de restinga, com "ilhas" de vegetação de mata atlântica em meio a rios de águas límpidas.

Baixio é, sobretudo, um ambiente embelezado por lagoas. Diferentemente de outras regiões do Nordeste, onde elas se formam com o volume da água das chuvas, aqui, elas se desenvolvem com a água que brota diretamente do solo.

Pelo caminho, você irá cruzar com um córrego conhecido como riacho Reverso ou Avesso, como os mais velhos da vila chamam um rio que segue o seu curso de maneira oposta ao mar. Com cerca de 5 km de extensão, abastece uma área conhecida como Manguinhos, um mangue de água doce que serve de morada a dois importantes predadores da restinga: o jacaré-de-papo-amarelo e a sucuri.

Era desse mangue que o povo tirava madeira para cercar as propriedades. Hoje, porém, só tiram fotos, como bem lembra Roberto Wilson, 27, o Robertinho, condutor de turismo e resgatista, apaixonado por fotografar as belezas naturais da região.

Ao todo, são 13 lagoas (três delas abertas à visitação) formadas por 36 nascentes, conta Robertinho. A Verde talvez seja a mais intocada. Cercada por um arvoredo, exibe, ao centro, uma duna, que parece feita de açúcar. No encontro com a água doce da lagoa, ela, aos poucos, se desmancha e ganha novos formatos.

A maior lagoa é a Azul, dona de uma vegetação aprumada de mata atlântica, com cerca de 840 metros de extensão. Por sua vez, a Lagoa de Panela oferece estrutura de cadeiras e guarda-sol, além de equipamentos para a prática de stand up paddle, caiaque e rede molhada, ideal para famílias —a criançada ama.

Os passeios são feitos em veículos 4x4, sempre monitorados por guias nativos que trabalham para a Baixio Turismo. Como o terreno que abriga os atrativos é de propriedade particular, o turista precisa pagar pelo acesso valores que vão de R$ 70 a R$ 240 por pessoa. Há ainda opções de experiências com buggy, quadriciclo e bike por 80 km de trilhas.

Toda a área comprada pela construtora em Baixio, estimada em 6.300 hectares —o que equivale a mais ou menos 45 vezes o tamanho do parque Ibirapuera—, já foi usada para a criação de búfalos e a plantação de coco. Hoje, ainda restam 14 mil pés.

Em breve, vai ganhar condomínios e hotéis de luxo em uma de suas áreas mais belas: a chamada Lagunas de Baixio. Uma empresa brasileira, de Salvador, cujos acionistas são da região da Catalunha, na Espanha, prevê a construção de três resorts (um Fasano, um Anantara e um terceiro em fase de negociação), todos eles com unidades residenciais que farão parte ou estarão anexas a um hotel.

Os resorts e as casas terão capacidade para receber 3.000 pessoas. O projeto também prevê um aeródromo, com pista de pouso para jatos privados e aeronaves comerciais de grande porte, um heliponto e um "beach club". As obras devem começar ainda neste ano, com previsão de término em 2027.

De acordo com Antonio Barretto Junior, diretor do Destino Baixio, o projeto completo prevê manter 70% de todo o território preservado, uma vez que o lugar fica na APA (Área de Proteção Ambiental) Litoral Norte, onde há desovas de tartarugas.

Enquanto o vaivém de homens e máquinas não começa, é tempo de se fartar em meio aos privilégios dessa terra. A depender da época do ano, dá para colher direto da árvore o araticum, fruta do cerrado que ocorre geralmente em áreas secas e arenosas. Também é conhecida como pinha, condessa ou cabeça-de-negro. Derivado do tupi, araticum significa "árvore rija e dura, fruto do céu". Em Baixio, ganhou o apelido de "fruto da Quaresma".

Se não for época dele, com certeza vai ter mangaba, essa aqui, típica da caatinga. Seja como for, saborear uma delas com o corpo submerso numa lagoa de água mineral, tendo os pés beliscados por cardumes de piaba, é mais uma oferenda local.

Ah, a Bahia. É fácil entender por que conquista tanto o turista paulistano, como mostra essa pesquisa Datafolha. História, cultura, culinária, festas, praias, cachoeiras e chapadas, sem falar na simpatia baiana, fazem do estado uma espécie de abre-alas do Nordeste.

O jornalista viajou a convite da Prima

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.