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29/10/2003
Em fila dupla, caminhões ajudam a parar SP

Por volta das 13 horas, o trânsito pára inesperadamente na entrada da Rua Conselheiro Ramalho, na Bela Vista. Motoristas impacientes buzinam, gesticulam. Diante deles, um pequeno caminhão acende o pisca-alerta e os funcionários, como se estivessem parados num estacionamento, começam a descarregar botijões de gás que serão entregues ao longo da rua. É o bastante para formar uma fila de carros que vai congestionar ainda parte da Avenida Brigadeiro Luís Antônio por pelo menos 20 minutos.

Cenas como essa se repetem de norte a sul da cidade. Várias delas foram flagradas nos últimos dias. Os caminhoneiros, mesmo com a possibilidade de levar multa de R$ 127,69 e perder 5 pontos no prontuário do condutor, conforme o Código de Trânsito Brasileiro, acabam desrespeitando a lei, que proíbe parar e estacionar em fila dupla, e travando o trânsito em vias movimentadas.

Desde junho, a Prefeitura regulamentou a entrada de caminhões nas chamadas Zonas de Máxima Restrição de Circulação (ZMRCs), que englobam, por exemplo, os Jardins, onde antes só podiam circular de madrugada. Nessas áreas, o motorista precisa de autorização para circular, com o cartão-caminhão. "É um absurdo. O trânsito já é caótico e os motoristas de caminhão de carga e descarga não respeitam as leis", reclama o taxista Juvenal Mendes.

Não bastasse a costumeira confusão no trânsito na Rua 25 de Março, no centro, um caminhão descarregando telhas, em fila dupla, impedia a passagem de carros, na sexta-feira.

No tráfego já complicado da Avenida Santo Amaro na segunda-feira um caminhão fazia entrega de bebidas, ocupando uma das duas faixas da pista. "Virou um funil", reclamou o vendedor Anísio Marques. Ainda na segunda-feira, um episódio não muito raro na Alameda Vicente Pinzón, na Vila Olímpia: caminhões formaram uma fila tripla na rua.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não tem em separado o número de multas dadas a caminhões parados em fila dupla, mas, só de janeiro a setembro, registrou 11.348 infrações desse tipo envolvendo todos os tipos de veículos na capital. Um estudo da CET de 1997 aponta que apenas 6% dessas irregularidades são cometidas por caminhões, contra 70% dos carros.

Para o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, os motoristas infringem a lei por conta da escassez de vagas para estacionar e pela falta de política para a circulação de mercadorias.

"O caminhoneiro chega a ficar até seis horas esperando uma vaga", diz. Lopes critica também a falta de iniciativa dos empresários para resolver o problema.

Fila dupla não é a única infração que os motoristas acabam cometendo na busca por uma vaga. Em toda a cidade, as placas de proibido parar e estacionar são ignoradas. "Não tem outro jeito. Ou fico irregular ou não descarrego. As poucas vagas que existem são ocupadas por carros", reclama o caminhoneiro José Pontes, que estava ontem parado sob uma dessas placas, na Rua Padre Garcia Velho, em Pinheiros, por volta das 15h30. "Estou rodando desde as 7h30 para fazer 45 entregas."

Na Rua Belchior Coqueiro, no tumultuado Largo da Batata, também em Pinheiros, o caminhoneiro Francisco Cruz foi vaiado por motoristas enquanto descarregava o caminhão em local proibido. "Não tem vaga. Desculpa aí, gente", disse.

De acordo com o gerente de Planejamento da CET, Ronaldo Tonobom, diariamente circulam na capital 200 mil caminhões para a entrega de mercadoria, mas esse número poderia cair em até 50% se fosse aplicado o estudo de mobilidade de bens de serviços, feito pela companhia, em que se recomenda a entrega noturna. "Temos dados que apontam redução no uso da frota em até 80%."

Tonobom diz que a Prefeitura enfrenta ainda outro problema: 40% dos caminhões que circulam na cidade são de outros Estados. "Eles querem fugir das multas." Com placa de Poços de Caldas (MG), o caminhoneiro Pontes confirma. "Se minha placa fosse de São Paulo, já teria perdido o caminhão."

BÁRBARA SOUZA
De O Estado de S. Paulo

 
 
 

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