Diego
Medina
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No
último fim-de-semana, Alain Prost, tetracampão mundial de
F-1, resolveu falar de Michael Schumacher, o mais novo tricampeão
da categoria. Disse pouco, mas disse tudo.
"Foi um risco para a Ferrari introduzir o sistema Schumacher.
Claro, você pode ser crítico em relação ao fato de tudo ter
sido feito apenas para um homem. Mas para a Ferrari era a
única alternativa. Para serem bem-sucedidos, eles precisavam
de disciplina."
Sim, é fato. Schumacher e o clubinho que ele exigiu que Jean
Todt e Luca Montezemolo trouxessem da Benetton instalaram
uma ordem germânica na escuderia. A receita era antiga, bastava
seguir e ter um pouco de paciência para ver o bolo crescer
_foi criada por Niki Lauda nos 70, tempos da genial "Transversale",
com grande sucesso.
Ross Brawn, Rory Byrne e mais uma meia dúzia de técnicos e
engenheiros que ninguém nunca ouviu falar (e que o próprio
piloto não incluiu na sua "lista de magníficos") foram os
responsáveis por transformar a Ferrari em um carro vencedor.
Aos italianos coube fazer o que melhor sabem, os motores e
o dinheiro, sem ter que carregar o fardo de um chassi ineficiente,
a grande mácula técnica da escuderia nestes 21 anos.
"Sem um piloto do calibre de Schumacher, a Ferrari dificilmente
sobreviveria sem um título.
Sem Michael, a escuderia seria politicamente destruída."
Prost sabe tudo. Sabe o que é ser entregue aos leões, no caso
os jornalistas italianos, por dizer apenas a verdade _que
o carro era uma porcaria no final de 1991.
Sabe também que muitas decisões puramente políticas dilataram
o jejum de títulos da escuderia, que Montezemolo teve que
dar um jeito primeiro na indústria de automóveis Ferrari antes
de fazer o mesmo com a escuderia. E que, quando fez isso,
escolheu para o trabalho o único homem que seguraria essa
barra por tantas temporadas avesso ao tiroteio: o melhor e
o mais caro.
Sim, o mais caro. Mas o melhor? Prost assina embaixo.
"Nunca fui capaz de pilotar qualquer carro no máximo da velocidade
e por todo o percurso.
Nisso, ele é melhor do que eu."
*
Nesta
semana, Ecclestone também resolveu colocar os pingos nos is.
Em uma entrevista à "F1 Racing", publicação na qual tem participação,
aliás, afirmou que o controle da categoria pertence à SLEC,
a holding suíça presidida por sua mulher, Slavica.
Na verdade, ao chefe-executivo da empresa, no caso, ele próprio.
"A EM.TV tem 50% das ações.
Mas é como se tivesse apenas 5%.
Quem manda é o chefe-executivo.
E este, você sabe, sou eu."
A bravata tem recado certo. A empresa alemã que comprou metade
dos direitos comerciais da F- 1 em março passado estuda oferta
de um grupo formado pelas principais montadoras instaladas
na Europa, a maioria delas com envolvimento na categoria.
Ecclestone sabe obviamente que a intenção das fábricas é verticalizar
o processo, e que isso seria o fim dos times. Todo seu poder
de negociar com a FIA e com as TVs foi dados pelos times.
O fim dos times é o fim de Ecclestone. Enfim, o fim da F-1.
Notas
Na
primeira curva
Gil de Ferran passou a semana sob feroz tiroteio por
causa da batida logo depois da largada na Austrália. O piloto,
na verdade, estava preocupado com Paul Tracy, que vinha pelo
lado de dentro da curva. Enfim, se merece crítica, a leva
por ter esquecido que a Indy, com regras baseadas na artificialidade,
premia quem se mantém na pista, não quem abusa dela. Dramático
será perder o título para Adrian Fernandez.
Na berlinda
Aumentam as especulações de que Pedro Paulo Diniz vai
se tornar sócio _sim, sócio_ de Alain Prost, adquirindo ações
da equipe e garantindo uma vaga para 2001.
Na contramão
Antonio Pizzonia vai fazer um teste na Indy. Só para experimentar.
E, para tanto, vai perder o GP de Macau de F-3.
E-mail: mariante@uol.com.br
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