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Autor de 'História Sexual da MPB' investiga origens da música brasileira desde 1500

Primeiro volume de 'História da Música Popular Brasileira: Sem Preconceitos' resgata artistas considerados cafonas e bregas

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Danilo Rezende
São Paulo

Num país com vocação para desdenhar de sua própria cultura, arriscar-se na função de memorialista exige disposição. O jornalista Rodrigo Faour mostra que isso não faz falta ao lançar agora o primeiro volume de “História da Música Popular Brasileira sem Preconceitos - Dos Primórdios, em 1500, aos Explosivos Anos 70”, livro publicado pela Record e concebido no apartamento da zona sul carioca que ele divide com o pai e mais de 8.000 discos.

Faour é especialista no assunto e já lançou outras seis obras a respeito dele, como “História Sexual da MPB” e as biografias de Dolores Duran, Cauby Peixoto, Angela Maria e Claudette Soares. Também ajudou as principais gravadoras do país a revitalizarem seus acervos, produzindo reedições, coletâneas e encartes informativos, num total de 600 títulos que inclui caixas de artistas como Mutantes, Simone, Nara Leão, Ney Matrogrosso, As Frenéticas, Chico Buarque e Caetano Veloso, entre outros.

A pesquisa para o novo livro começou em 2015, quando ele ministrava um curso sobre o tema na PUC e, ao produzir as apostilas, percebeu uma limitação no material historiográfico disponível. “A visão dos historiadores geralmente valorizava conceitos de nacionalismo, de alta e baixa cultura. Muitos artistas de enorme relevância popular não pareciam dignos de ser documentados”, afirma.

“A Marília Batista, por exemplo, gravou apenas sete discos até 1940, mas, pelo fato do Noel Rosa dizer que ela era uma das suas cantoras favoritas, entrou para a história. Já um cantor como Januário de Oliveira gravou 68 discos entre 1929 e 1940, ou seja, praticamente dez vezes mais do que ela. Fiquei impressionado e corri para os dicionários de música brasileira para descobrir quem foi esse cara.”

Além da bibliografia —geralmente segmentada— citada na obra, Faour investigou arquivos de época e catálogos de gravadoras, além de conversar com especialistas em gêneros que dominava pouco. Ele afirma que o livro é sua “modesta contribuição” para que as coisas básicas não se percam.

“Alguns cantores do rádio eram considerados cafonas por serem muito românticos ou por seu canto operístico e foram rejeitados pelos aficionados por bossa nova ou MPB. Mas eles são fundamentais, porque todos os artistas da era moderna da música brasileira ouviram esses cantores”, afirma. “Artistas considerados pop, americanizados, sem comprometimento político ou bregas foram alijados da história. E eu queria pôr todo mundo para dentro”, conta.

As quase 600 páginas do livro —acompanhadas de um encarte com centenas de fotos de artistas do século 19 até o final dos anos 1970— não seriam suficientes para contemplar todos os músicos de todas as épocas minuciosamente. Mesmo assim, o livro encaixa na linha evolutiva da nossa música popular mais de 2.300 nomes, entre compositores, cantores, instrumentistas, arranjadores, maestros, produtores, empresários e figuras da indústria musical.

Dos primeiros séculos há pouca documentação, mas se sabe que os religiosos encontraram na musicalidade dos índios um caminho de doutrinação, ensinando a eles a cantar no modo europeu e a tocar instrumentos como flauta, viola e cravo. Daí nasceram as danças do cateretê e do cururu, que se tornariam ritmos básicos da música caipira.

Entre os séculos 16 e 18, em Pernambuco, a influência africana entrou na roda, gerando o maracatu. Enquanto isso, na Bahia, da mistura entre brancos e pretos nascem várias danças, como a lasciva lundu, que conquistou o coração da colônia e se tornou a primeira manifestação cultural negra a ser aceita pela sociedade branca.

Mas a música popular brasileira ganha uma cara mesmo a partir do século 19, quando a família real importa pianos, novos ritmos europeus e danças de salão —como a valsa, a quadrilha, a polca e o tango andaluz. Dos cruzamentos entre eles saem, por exemplo, o choro e o maxixe, abrindo alas para o surgimento do samba, gênero que mais atravessou o século 20 no Brasil.

A partir das primeiras gravações, em 1902, o livro contempla de tudo. Em resumo, os “chorões”, os bambas, “nortistas”, cantores do rádio, sambistas, conjuntos vocais, o Carnaval, o apogeu do baião, o samba-canção, a música caipira, a pré-bossa nova, o jazz e o “samba de morro”, o comecinho do rock nacional, a canção nordestina, o romantismo popular, a Jovem Guarda, os festivais, o tropicalismo, o nascimento da chamada MPB, o samba-enredo, a música instrumental sofisticada, o Clube da Esquina, o pessoal do Ceará, os blacks, o sambalanço, o forró de duplo-sentido, os “cafonas”, o sertanejo, as divas do samba e muito mais, até 1978.

Se escrito antes das plataformas de música e do Youtube —em que Faour mantém um canal— a vontade de ouvir esses artistas seria um martírio para os mais curiosos. O segundo volume, com lançamento previsto para 2022, cobrirá de 1979 até 2021. Por enquanto, Faour oferece um livro em prosa, mas que também funciona como um livro de consulta, em que é possível descobrir ou redescobrir nomes eternos ou esquecidos que já iluminaram tantos Brasis.

História da Música Popular Brasileira: Sem preconceitos

Avaliação:
  • Preço: R$ 84,90 (574 págs.)
  • Autoria: Rodrigo Faour
  • Editora: Record

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