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Filhos de Trump aproveitaram viagem à Europa para avançar negócios pessoais

Apesar de terem postos no governo americano, eles mantêm negócios ativos

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David Nakamura Toluse Olorunnipa Amanda Ferguson
Limerick, Doonbeg e Washington | The Washington Post

​Quando o assunto é festa, superar um jantar de Estado com a rainha da Inglaterra é difícil, mas os filhos do presidente Donald Trump  —Donald Jr. e Eric— pelo menos tentaram manter o clima, em um giro improvisado pelos pubs de Doonbeg, na Irlanda, onde pagaram por rodadas de cerveja Guinness para os moradores locais e desfrutaram da adoração do público em uma aldeia na qual a família Trump tem imóveis. "É divertido quando os Trump vêm à cidade, não é?", disse Eric Trump na quarta-feira (5), em meio às festividades.

Não só Trump mas os Trump —e o plural faz diferença. Enquanto o presidente saltava entre três países europeus cumprindo deveres oficiais, nesta semana, seus quatro filhos adultos— não podemos esquecer as filhas Ivanka e Tiffany—  participavam com destaque de muitos momentos de alta visibilidade.

Eles participaram de um jantar de gala com a rainha Elizabeth 2ª, visitaram as Salas de Guerra Churchill, assistiram à celebração do 75º aniversário da invasão da Normandia e, no caso dos filhos homens, verificaram se os negócios da família no Trump International Golf Links & Hotel, em Doonbeg, onde o presidente passou seus dois dias finais de viagem antes de retornar a Washington na sexta-feira (7), iam bem.

Se a ideia da viagem era transformar os Trump em embaixadores internacionais da imagem dos Estados Unidos, ela também despertou questões ao destacar a recusa do presidente de estabelecer limites claros entre seus deveres oficiais e seus negócios pessoais.

Ivanka​ e o marido Jared Kushner têm postos no governo, e os dois filhos mais velhos de Trump comandam a Trump Organization e suas propriedades imobiliárias em todo o mundo, que incluem o clube de golfe em Doonbeg. Lara Trump, mulher de Eric, que também está participando da viagem, é assessora de campanha do presidente. Barron, 13, o filho mais novo de Trump, ficou em Washington.

A questão de quem está pagando pela presença da família e do possível custo da viagem para os contribuintes americanos surgiu como uma subtrama não resolvida, com jornais na Escócia e em Londres vasculhando bancos de dados do Departamento de Estado americano e reportando sobre os hotéis de luxo e as limusines dispendiosas que estão servindo ao governo dos Estados Unidos.

Durante a viagem, os filhos de Trump documentaram suas atividades em posts profusos no Instagram —a visita ao palácio de Buckingham, o voo de aviões militares clássicos sobre a Normandia, a cerveja no bar de Doonbeg—, em uma espécie de exibição moderna de slides de férias para mostrar ao pessoal lá em casa os momentos de diversão da família.

Em diversos momentos, as imagens pareciam divergir dos interesses de uma delegação oficial do governo americano, em termos de representação dos interesses geoestratégicos do país.

"As questões que cercam a viagem da família surgem da decisão da família Trump de manter controle ativo de seus negócios e apontar Ivanka e Jared para postos no governo", disse John Wonderlich, diretor executivo da Sunlight Foundation, uma organização que promove a transparência no governo e busca documentar os possíveis conflitos de interesse envolvendo a família Trump.

"Não é completamente inapropriado que membros da família participem de um jantar de Estado, mas será que eles estão tentando demonstrar sua união e que os interesses familiares e de negócios coincidem?", disse Wonderlich. "Sempre fica essa dúvida sobre suas intenções. Não se pode dizer que estamos apenas diante de uma viagem de família."

Os assessores de Trump desdenham essas questões e apontam, em conversas privadas, que outros presidentes dos Estados Unidos visitaram a Europa com suas famílias e filhos.

Os presidentes Barack Obama e George W. Bush levaram os filhos em algumas viagens internacionais, e alguns de seus antigos assessores afirmam que não existe coisa alguma de inerentemente incorreto em arranjos desse tipo.

Em 2013, por exemplo, o casal Obama levou as filhas Malia e Sasha —ambas menores de idade na época— em uma visita a três países africanos, o que incluiu uma visita familiar à ilha Robbin, onde Nelson Mandela passou duas décadas aprisionado.

Em 2002, a então primeira-dama Laura Bush levou a filha Jenna, que era estudante universitária, em uma visita oficial do governo a três países europeus.

A presença dos filhos de presidentes eleva os custos das viagens oficiais, porque eles requerem proteção do Serviço Secreto, mas é menos claro que outras despesas teriam de ser bancadas pelos contribuintes, dizem antigos funcionários do governo americano.

A primeira dama Melania Trump, que participa da viagem, tem função oficial no governo, assim como Ivana Trump, 37 e Kushner, 38, ambos assessores de primeiro escalão da Casa Branca.

Donald Trump Jr., à esquerda e Eric trump visitam um pub local na vila de Doonbeg, durante visita do presidente americano à Europa. - REUTERS

Mas Donald Jr., 41; Eric, 35; Tiffany, 25; e Lara Trump, 36, se enquadram a uma categoria mais nebulosa —especialmente os dois filhos, diz Jeff Rathke, que trabalhou por 24 anos como diplomata no Departamento de Estado.

"O presidente continua a ser dono da Trump Organization, mas seus filhos adultos dirigem o negócio", disse Rathke. "Parece-me que esse seria um caso clássico no qual um funcionário do departamento ético teria de definir se é apropriado que os custos de viagem de filhos adultos sejam cobertos pelo governo, ou se há necessidade de reembolso."

Os filhos de Trump não viajaram no Air Force One, o avião oficial do presidente, para a visita de três dias a Londres. Repórteres que viajaram no avião não viram Donald Jr. e Eric a bordo quando o presidente voou da Irlanda à Normandia e de volta, para a cerimônia pelo desembarque do Dia-D —embora os dois estivessem presentes ao evento.

"Não há palavras que descrevam estar aqui no local de uma das batalhas mais sagradas da história", escreveu Donald Jr. como legenda de fotos postadas no Instagram.

Representantes da Casa Branca se recusaram a comentar.

Antigos funcionários do governo dizem que os familiares do presidente tipicamente não participam de reuniões bilaterais mas que é frequente que tomem parte de eventos culturais.

Os filhos de Trump estavam presentes no jantar de Estado com a rainha e em um jantar formal em homenagem ao príncipe Charles em Winfield House, a residência do embaixador americano no Reino Unido, Woody Johnson.

Ivanka Trump estava à mesa com seu pai, o secretário do Tesouro Steve Mnuchin, o príncipe Andrew e a primeira-ministra Theresa May, em uma reunião com líderes empresariais britânicos.

Ela destacou essa discussão no Instagram, entre uma foto dos filhos de Trump posando em um bunker usado por Winston Churchill na Segunda Guerra Mundial e uma imagem filtrada que a mostrava em companhia de Kushner olhando de uma janela do Palácio de Buckingham.

 
Ivanka depois deixou a delegação para representar o governo em uma Conferência de Cúpula Mundial de Empreendedorismo em Haia.

Em Londres, o presidente Trump foi hospedado em Winfield House, supostamente porque o palácio de Buckingham está passando por reformas.

Os assessores de Trump ficaram em alguns dos bairros mais elegantes da capital britânica, pagando diárias superiores a US$ 500 em hotéis como o Intercontinental Hotel Park Lane. Em 20 de maio, o Departamento de Estado submeteu um pedido de mais de US$ 1,2 milhão em acomodações ao hotel, de acordo com dados sobre gastos do governo federal noticiados inicialmente pelos jornais The Scotsman e Guardian.

Os carros com motorista disponíveis diante da embaixada dos Estados Unidos incluíam diversos utilitários esportivos Rolls-Royce de fabricação recente, cujo preço de venda supera os US$ 100 mil.

O local de hospedagem dos filhos de Trump não foi revelado.

Antes de se tornar presidente, Trump costumava criticar o presidente Obama e sua família regularmente por seus custos de viagem.

"As férias dos Obama na Espanha custaram 467 mil aos contribuintes", tuitou Trump em 27 de abril de 2012. "Eles amam gastar dinheiro".

Tim O'Brien, autor de uma biografia de Trump, disse que o presidente parece estar tentando preparar um futuro para seus filhos na política.

"Toda a experiência de Donald Trump - como homem de negócios no planeta e como morador de Nova York expandindo os negócios de seu pai - foi a de que você adquire relacionamentos, dinheiro e sucesso por meio do acesso", disse O'Brian. "E ele está dando aos seus filhos todas as vantagens que pode em termos de acesso, enquanto é presidente dos Estados Unidos".

Antes da viagem, um funcionário do governo britânico, informando jornalistas sobre os antecedentes da visita, disse que o governo May estava "lisonjeado" por a família de Trump ter desejado participar da ocasião, dando a entender que isso era uma prova da força do relacionamento entre os dois países.

Donald Trump Jr., à esquerda, Ivanka Trump, centro e Eric Trump escutam ao presidente americano durante conferência do Ministério das Relações Exteriores Britânico. - AFP

Em Doonbeg, uma pequena aldeia costeira com menos de mil moradores, no oeste da Irlanda, os moradores locais estavam curtindo a presença dos filhos de Trump nos cinco pubs locais, quarta-feira (5). Os visitantes e os jornalistas que os acompanhavam foram de bar em bar, pagando bebidas aos moradores.

"Doonbeg ama os Trump?", gritavam os irmãos, recebendo aplausos de confirmação.

"Foi uma ótima publicidade para Doonbeg. Ninguém tinha ouvido falar de nós até agora e de repente o nome da cidade está sendo mencionado no mundo inteiro", disse Caroline Kennedy, dona do Igoe Inn. Sobre o presidente americano, ela disse que "ele é um bom homem de negócios. Sempre que uma visita dele é anunciada, Doonbeg é mencionada".

Para os Trump, foi uma rara chance de festejar longe do olhar reprovador que acompanhou o itinerário de seu pai. Milhares de pessoas protestaram durante a visita do presidente a Londres, e outros milhares se manifestaram contra ele em Dublin.

Perguntado se os filhos de Trump haviam falado sobre política, Hugh McNally, dono do pub Morrisey's bufou em resposta. "Os meninos estão de férias aqui", disse. ​

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