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Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Em funeral de ícone dos direitos civis, Obama faz discurso mais duro contra Trump

Cerimônia em homenagem a John Lewis reuniu três ex-presidentes americanos em Atlanta

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Brasília

O ex-presidente Barack Obama aproveitou o funeral de John Lewis (1940-2020), nesta quinta (30), uma cerimônia de grande peso simbólico para os defensores dos direitos civis nos EUA, para fazer o discurso mais duro até o momento contra o atual líder americano e candidato à reeleição, Donald Trump.

Ativista antirracismo que marchou com Martin Luther King e congressista durante décadas, Lewis morreu aos 80 anos, com um câncer no pâncreas, em 17 de julho. O evento reuniu três ex-presidentes, líderes políticos, religiosos e centenas de admiradores na igreja batista de Ebenezer, em Atlanta.

Obama, primeiro presidente negro do país, disse que, Lewis é provavelmente o maior "discípulo de Martin Luther King" e que, assim como muitos americanos, tem uma dívida com "sua potente visão de liberdade."

O ex-presidente dos EUA Barack Obama discursa durante funeral do deputado e ícone da luta pelos direitos civis John Lewis - Alyssa Pointer/Reuters

Em uma fala politizada, Obama, principal cabo eleitoral do candidato democrata à Presidência, Joe Biden, mesclou elogios a Lewis e críticas a posições do governo Trump.

Sem citar o nome do republicano, atacou a sugestão do presidente americano de adiar as eleições presidenciais, marcadas para novembro, e a violência de agentes federais contra manifestantes pacíficos.

Na manhã desta quinta, Trump defendeu o adiamento do pleito em uma publicação no Twitter, afirmando, sem apresentar provas, que a votação pelos correios poderia desembocar na "eleição mais imprecisa e fraudulenta da história" e em um "grande embaraço para os EUA".

Obama afirmou que pessoas no poder atacam o "direito ao voto com precisão cirúrgica, até mesmo minando o serviço postal, às vésperas das eleições". "Será preciso usar votação por correios para que as pessoas não adoeçam", reiterou, referindo-se à pandemia do novo coronavírus.

Em outro momento, lembrou George Floyd, homem negro asfixiado por um policial branco em Minneapolis, no final de maio, cuja morte desencadeou atos antirracismo em todo o país, e criticou a atuação de forças federais contra protestos pacíficos, principalmente em Portland.

Enviados por Trump para a cidade no estado do Oregon para coibir atos antirracistas, a ação dos agentes tornou-se alvo de críticas, após imagens que viralizaram na internet com policiais sem identificação realizando ações violentas e detenções de pessoas em carros também não identificados.

"Testemunhamos com nossos próprios olhos policiais se ajoelhando nos pescoços de afroamericanos. George Wallace [ex-governador do Alabama, um dos principais líderes segregacionistas dos EUA na década de 1960] pode ter partido, mas testemunhamos o governo federal enviando agentes para usar gás lacrimogêneo e cassetetes contra manifestantes pacíficos", disse Obama, enquanto era aplaudido de pé.

Os outros ex-presidentes presentes na cerimônia, George W. Bush e Bill Clinton, também se pronunciaram.

O republicano Bush, que comandou os EUA entre 2001 e 2009, afirmou que os americanos vivem num país melhor e mais nobre por causa de Lewis. “John e eu tivemos nossas discordâncias. Mas nos EUA pelo qual brigou e nos EUA em que acredito, diferenças de opinião são elementos inevitáveis e evidência de uma democracia funcionando."

Clinton, antecessor democrata de Bush, ressaltou a habilidade "impressionante de Lewis em acalmar águas turbulentas". "Quando ele poderia ter ficado com raiva e determinado a cancelar seus adversários, tentou convertê-los. Ele acreditava que a mão aberta era melhor do que o punho cerrado", afirmou.

Lewis nasceu em Troy, no Alabama, em 1940. Quarto de dez irmãos de uma família de camponeses, foi um dos mais jovens integrantes do grupo Viajantes da Liberdade, que lutou contra a segregação racial no transporte público dos EUA nos anos 1960.

Também foi o líder mais jovem da manifestação de 1963, em Washington, na qual Luther King proferiu seu histórico discurso "eu tenho um sonho".

Dois anos depois, quase morreu em um protesto pacífico e antirracista em Selma, no Alabama, no qual teve o crânio fraturado pela polícia. O episódio ficou conhecido como "Domingo Sangrento".

A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, também esteve no funeral. Afirmou que Lewis insistia na verdade em sua atuação no Congresso e que, enquanto atuou como parlamentar, esforçou-se para que seus colegas enxergassem "o movimento dos direitos civis e outros [movimentos] por meio de seu olhar".

Ao final da cerimônia, a banda BeBe Winans apresentou uma música composta em homenagem a Lewis. Batizada "Good Trouble" (boa confusão, em inglês), a canção relembra uma frase muito usada pelo congressista para alertar as pessoas da necessidade da "boa confusão, a necessária confusão".

Após o encerramento do funeral, o corpo do ativista foi levado por uma guarda de honra ao cemitério Southview, em Atlanta. Enquanto isso, dentro da igreja, os presentes cantavam e dançavam a música "Happy", de Pharrel Williams, uma das preferidas de Lewis.

Um vídeo do ícone da luta pelos direitos civis dançando ao som da canção viralizou.

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