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Descrição de chapéu oriente médio

Libaneses querem que comunidade no Brasil vote em eleição de importância histórica

Cansaço com a classe política faz com que ativistas considerem peso da diáspora para mudar rumos do país

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Washington

As eleições parlamentares libanesas estão previstas para março de 2022, mas o pleito já motiva debates urgentes nesse país, que vive alguns dos piores anos de sua história recente. Hoje, um dos campos de batalha é sua diáspora espalhada por diversos países —incluindo o Brasil.

Cidadãos libaneses têm até o próximo sábado (20) para se registrar pela internet e poder votar. Ativistas e diplomatas em cidades como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro têm feito campanhas para que a comunidade local participe da eleição. O cadastro é feito por uma página do Ministério do Exterior libanês.

O Brasil abriga uma das maiores diásporas libanesas do mundo. Segundo a embaixada, são cerca de 200 mil cidadãos. A estimativa do número de descendentes —que só podem votar se tiverem a cidadania— varia de maneira imensa, dependendo de quem faz o cálculo. Segundo o governo brasileiro, entre 7 milhões e 10 milhões de pessoas com origem libanesa vivem no país.

Manifestantes carregam punho, símbolo dos protestos de 2019, e um cartaz contra os líderes políticos libaneses em ato na praça dos Mártires, em Beirute, no mês passado - Anwar Amro - 17.out.21/AFP

"É só com o voto da diáspora que o Líbano vai mudar", diz Lody Brais. Figura influente na comunidade, ela preside a Associação Cultural Brasil-Líbano e pilota, entre outras atividades, a campanha pelo registro dos eleitores no Brasil. "Os políticos que estão lá já perderam a credibilidade."

Brais, que nasceu no norte do Líbano, diz que nota um maior interesse da diáspora depois da sequência de crises que recentemente assolou o país. Hoje, quase 75% da população vive em situação de pobreza, segundo as Nações Unidas. "Todos nós temos família lá. Daqui, a gente pode mudar o Líbano, tirar quem está no poder há tempo demais."

O discurso reflete certo fastio perceptível também em quem vive no próprio território libanês. Recentemente, tiroteios deixaram ao menos sete mortos em Beirute quando diferentes grupos foram às ruas manifestar seu cansaço: com a classe política corrupta, com o Judiciário e com a interferência do Hizbullah e de sua facção rival, as Forças Libanesas.

O voto do exterior é algo recente para a nação do Oriente Médio. Essa é a segunda vez que ele será possível depois da estreia, em 2018, e há bastante ansiedade quanto à incorporação de novos eleitores em um sistema político mergulhado em tensões partidárias. Nos últimos meses, discutiu-se inclusive a criação de seis assentos exclusivos para a diáspora no Parlamento, limitando o poder de representação. A proposta acabou rejeitada em outubro, e os libaneses no exterior poderão votar, como os demais, para todas as 128 cadeiras.

Em 2018, a participação foi bastante baixa. Apenas 82 mil cidadãos no exterior se registraram, e 46 mil votaram de fato —enquanto o comparecimento no país foi de 1,8 milhão de eleitores. Mas o Líbano mudou desde então, e mais pessoas têm se envolvido com a política. Segundo as autoridades, 118 mil pessoas já tinham feito o cadastro online até a última sexta (12), e a estatística crescia a olhos vistos, com a aproximação do prazo no dia 20.

Libaneses vivendo no Brasil tiveram uma participação excepcionalmente tímida no pleito passado, considerando sua expressividade. De acordo com os dados oficiais, 2.112 se registraram e só 287 votaram. Fontes diplomáticas afirmaram acreditar que, neste ano, o número deve subir de maneira expressiva, dado o contexto dramático.

O aumento no interesse da diáspora está ligado à percepção de que esta é uma espécie de eleição do fim do mundo. Beirute passou por uma onda de protestos em 2019, foi devastada por uma explosão em 2020, viu novas manifestações —ligadas às investigações sobre o episódio no porto— deixarem mortos no mês passado e vive uma das piores crises econômicas do mundo desde o século 19.

O preço dos alimentos está subindo a níveis impagáveis e o governo já não fornece serviços básicos, como eletricidade, na capital. Moradores contaram à Folha que, sem energia, não podem estocar comida na geladeira. Sem acesso à internet, voltaram a ouvir música em rádios de pilha. Com o desabastecimento de combustível, abandonaram os carros na garagem.

Outra explicação para uma maior participação da diáspora é o fato de que há, hoje, mais libaneses fora do país. Dezenas de milhares de pessoas deixaram o Líbano nos últimos dois anos, desgostosas com a situação política e econômica —não está claro quantas delas foram para o Brasil.

"O voto é um manifesto, uma declaração de apoio ao país", afirma Miled Khoury, cônsul honorário do Líbano em Campinas. Ele tem feito campanha para informar os eleitores sobre o prazo de registro. "Ser cidadão não é só mandar remessa de dinheiro. É estar perto, é participar."

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