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Crise na Argentina leva a nova reforma, e Fernández cria 'superministério' da Economia

Mudança tira do cargo Silvina Batakis depois de 24 dias e é vista como intervenção política de Cristina Kirchner

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Buenos Aires

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou no final da tarde desta quinta-feira (28) uma nova reforma ministerial no governo. As mudanças incluem a criação do que foi chamado de "superministério" da Economia, entregue a Sergio Massa, atual presidente da Câmara.

A estrutura reunirá as pastas de Economia, Desenvolvimento Produtivo e Agricultura e Pesca. Silvina Batakis, que tinha assumido o Ministério da Economia havia pouco menos de quatro semanas, depois da renúncia de Martín Guzmán, vai liderar o Banco Nación; Daniel Scioli, antes no Desenvolvimento, voltará a ser embaixador no Brasil; e Julián Dominguéz, da Agricultura, deixará o gabinete.

Na prática, segundo analistas, Massa deve agir como uma espécie de primeiro-ministro, respondendo à vice Cristina Kirchner, num esvaziamento do poder do presidente. Em uma indicação do clima crescente de tensão na coalizão governista, o anúncio foi antecedido pela renúncia de Gustavo Béliz, secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência e um dos membros da cúpula mais próximos de Fernández.

Manifestantes pedem 'salário básico universal' em ato em Buenos Aires em meio à crise no governo de Alberto Fernández - Luis Robayo/AFP

Esse movimento se intensificou desde que Cristina começou a pedir mudanças mais radicais no gabinete ministerial, devido ao agravamento da crise econômica. O país enfrenta um momento de descontrole de preços, com alta inflação (64% ao ano), e encara a necessidade de ajustes como contrapartida da renegociação da dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

A vice foi contra o acordo e considera que o momento não é de realizar aumentos de tarifas, mas de incrementar a emissão monetária, para que a população mais pobre enfrente as sequelas do impacto da pandemia no país. Mais moderado, Fernández defende a responsabilidade fiscal.

A atual crise se tornou mais aguda quando o então ministro Martín Guzmán, alinhado à visão do presidente, renunciou no começo do mês. Na noite desta quarta (27), começaram a circular rumores de que Massa teria deixado vazar para a imprensa a notícia de que ele integraria o governo de alguma forma. Com a repercussão, ele foi ao Twitter negar essa possibilidade —por fim confirmada horas depois.

O presidente da Câmara, agora superministro, é peronista e filiado à Frente Renovadora, ou seja, não pertence à ala kirchnerista. Recentemente, porém, reconquistou a confiança de Cristina após anos afastados —ele chegou a ser chefe de gabinete quando a hoje vice ocupava a Presidência, mas se lançou candidato no pleito de 2015 contra o nome apoiado por ela, Daniel Scioli, derrotado por Mauricio Macri.

Massa será sucedido na chefia da Câmara por Cecilia Moreau. Diferentemente de Batakis, ele não tem formação de economista, mas de advogado. A escolha de um político para o lugar de uma ministra com formação técnica evidencia a tentativa de conciliar forças dentro da coalizão de governo.

Batakis havia chegado na manhã desta quarta de uma viagem aos EUA, onde teve reuniões com a chefe do FMI, Kristalina Georgieva —a quem afirmou que a reestruturação da dívida do país com a entidade, de US$ 44 bilhões, seguirá como foi negociada com Guzmán.

Béliz, segundo a imprensa local, teria se sentido muito incomodado com a briga interna dos peronistas e com uma afirmação do presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Mauricio Claver-Carone, de que a Argentina não tem condições de aprovar novos créditos no exterior.

Segundo o jornal La Nación, Béliz também se queixou da maior interferência de Cristina nos rumos do governo —algo que já havia acontecido logo depois da derrota nas primárias das legislativas, no ano passado. A vice então ordenou que Fernández trocasse ministros, colocando no gabinete nomes do kirchnerismo ou representantes de governadores, grupo que costuma ser mais fiel a ela.

O caso mais sintomático do início da perda de poder de Fernández foi em setembro passado, com a saída de seu chefe de gabinete, Santiago Cafiero, para a nomeação do ex-governador de Tucumán Juan Manzur. O presidente, de toda forma, conseguiu manter o auxiliar próximo, no posto de chanceler.

Sergio Massa, Alberto Fernández e Cristina Kirchner em evento no Congresso no começo do ano - Matias Baglietto - 1º.mar.22/Pool/AFP

As mudanças desta quinta começaram a ser desenhadas no fim de semana, em um encontro de quatro horas entre Fernández e Cristina no fim de semana —depois dele, o mandatário havia mantido a ideia de mudar apenas a pasta da Economia, enquanto a vice apoiava uma reformulação total da equipe. No final da noite desta quarta, o presidente e seus principais assessores ainda se reuniram na Casa Rosada.

O governo mostra preocupação com uma manifestação da esquerda marcada para sábado, quando ocorre o encerramento de um encontro entre ruralistas. Porém, após o anúncio da reforma ministerial, duas organizações anunciaram que não participarão dos atos, no que pode ser um indicativo de esvaziamento.

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