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El Salvador prende 50 mil em guerra contra gangues e constrói presídio para 40 mil

País prolonga estado de exceção, que permite detenções sem ordem judicial; Bukele promove giro autoritário

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San Salvador | AFP

A polícia de El Salvador prendeu 50 mil pessoas nos últimos cinco meses, em meio ao que o presidente Nayib Bukele chama de guerra as gangues. A conta foi anunciada pelo diretor da Polícia Nacional Civil (PNC), Mauricio Arriaza.

Na noite desta terça (16), o Congresso unicameral aprovou, pela quinta vez, a prorrogação de um estado de exceção, que permitiu a maioria dessas prisões e está em vigor desde o fim de março. Dos 84 integrantes do Congresso, 66 votaram a favor.

Arriaza e os ministros de Justiça e Segurança, Gustavo Villatoro, e Defesa, René Merino, defenderam a extensão.

Suspeitos de integrarem uma gangue são levados pela polícia durante operação em Soyapango, El Salvador - Sthanly Estrada - 16.ago.22/AFP

Esse mecanismo, que permite prisões sem ordem judicial, foi instaurado em resposta a um aumento dos homicídios. Entre 25 e 27 de março uma onda de assassinatos promovidos por gangues tirou a vida de 87 pessoas no país.

Para abrigar parte dos 50 mil detidos, Bukele ordenou a construção de um presídio para 40 mil membros de gangues na zona rural da cidade de Tecoluca, centro do país, que deve ficar pronto até o fim do ano. Nos 142 dias em que o regime de exceção está em vigor, foram registrados "77 dias sem nenhum homicídio", declarou o ministro René Merino.

Até o dia 12 de agosto, 85% dos detidos eram homens e 15%, mulheres. Um total de 68,9% são acusados de pertencer à Mara Salvatrucha (MS-13). Em seguida vêm integrantes das facções Sureños (17,7%) e Revolucionários (12,7%), ambas ligadas à Barrio 18.

Antes do regime de exceção, analistas estimam que havia 16 mil membros de gangues presos. Em diferentes operações, a polícia e o Exército alegam terem apreendido mais de US$ 1 milhão, além de 1.283 armas, 1.543 veículos, drogas e celulares.

Prisões arbitrárias e demonstração de força

Desde o início do estado de exceção, detenções arbitrárias são a denúncia mais frequente de violação a direitos humanos em El Salvador. Das reclamações recebidas pela organização Cristosal, estão presentes em 97,4%; tortura e maus-tratos, em 12,1%. Até o final de junho, a organização contabilizou 54 pessoas mortas sob custódia do Estado em centros penais ou hospitais.

Como mostrou a Folha, outdoors indicam o número para o qual os salvadorenhos devem ligar se quiserem denunciar um pandilheiro, como são chamados os participantes de grupos criminosos que controlam parte do território. "Precisamos de sua ajuda para seguir capturando terroristas", dizem os cartazes. A estratégia está sendo usado para vinganças pessoais, afirmam organizações do país.

Bukele, eleito em 2019 com uma plataforma antissistema e prometendo uma política linha dura contra o crime, desde o início de seu mandato já invadiu a Assembleia com militares, destituiu juízes da Sala Constitucional da Suprema Corte e perseguiu jornalistas.

Manifestantes exibem fotos e cartazes ao pedirem a libertação de parentes detidos durante o estado de exceção em San Salvador, El Salvador - Jessica Orellana - 26.jul.22/Reuters

Em maio, o jornal El Faro revelou áudios que mostram negociações entre um membro do governo e criminosos da MS-13. A onda de violência do final de março teria ocorrido pelo fim de um pacto.

A resposta do governo Bukele a essa ruptura foi mais repressão, segundo Verónica Reyna, diretora do programa de Direitos Humanos do Serviço Social Pasionista, organização de prevenção à violência.
"É uma demonstração de força. 'Se vocês vão mostrar toda a sua violência, eu vou mostrar tudo que posso fazer para combatê-la'", diz.

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