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EUA fazem primeiro teste completo de míssil hipersônico

Americanos estavam relutantes acerca da tecnologia, já dominada por Rússia e China

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São Paulo

Após anos de um desenvolvimento problemático e dúvidas acerca do comprometimento político com o projeto, os Estados Unidos testaram pela primeira vez de forma completa um míssil hipersônico.

O voo do AGM-183A ARRW (sigla para Arma de Resposta Rápida Lançada do Ar, mas que soa como "flecha" em inglês) ocorreu na sexta (9) e foi bem-sucedido, segundo a Força Aérea americana.

Bombardeiro B-52 americano com um protótipo inicial de míssil hipersônico durante teste fracassado em 2010 - Força Aérea dos EUA - 26.mar.2020/AFP

Com isso, os americanos tentam ganhar espaço numa corrida em que estão atrás da Rússia e da China, seus principais adversários no campo militar, e talvez até de países menores que lhe são hostis, como a Coreia do Norte e o Irã.

O ARRW, fabricado pela Lockheed Martin após ganhar um contrato de US$ 480 milhões em 2018, foi lançado por um bombardeiro estratégico B-52H. Antes, havia passado por uma acidentada fase de ensaios, marcada por fracassos.

Apenas em maio deste ano ocorreu um teste em voo bem-sucedido, no qual foi testado o primeiro estágio da arma. Ele é o "corpo" do míssil, um lançador de combustível sólido de alto desempenho que pode chegar a cinco vezes a velocidade do som.

Outro teste ocorreu em julho e, agora, o ARRW inteiro foi testado. Ele consiste de um veículo planador hipersônico com capacidade de manobras, que é empurrado até uma velocidade terminal 20 vezes maior do que a do som (24 mil km/h).

Grandes mísseis balísticos, do tipo que levam armas nucleares das grandes potências, chegam a essas velocidades perto da hora de atingir o alvo, mas seguem uma trajetória previsível. A vantagem dos novos hipersônicos é essa, poder manobrar.

Esses modelos, em estudo desde a Guerra Fria, ganharam destaque mundial quando integraram o pacote de "armas invencíveis" anunciado pelo presidente russo, Vladimir Putin, em 2018.

Um dos modelos russos, já em operação, também é um planador hipersônico, o Avangard. A diferença é que esse modelo, que pode levar uma ogiva nuclear, é lançado do solo por um míssil intercontinental até atingir a altitude de ação.

Outro modelo hipersônico russo é o Tsirkon, míssil de cruzeiro que voa a altitudes menores e foi desenhado para ser uma arma lançada por navios contra alvos marítimos. E há também o Kinjal, mais básico, na forma de um míssil balístico lançado por aviões, que já foi empregado na Guerra da Ucrânia.

A China correu atrás e, no ano passado, surpreendeu analistas ocidentais com o que pareceu ser o teste sofisticado de um planador hipersônico. Além disso, tem em operação outro modelo do gênero, o DF-17. Neste ano, anunciou um míssil desenhado para ataque a porta-aviões, diferencial ofensivo dos rivais em Washington.

Norte-coreanos e iranianos anunciaram modelos diversos, mas sem comprovar sua existência, algo natural dada a opacidade dos regimes desses países.

No caso americano, havia dúvidas políticas também sobre os hipersônicos. A Força Aérea já disse não estar convencida do custo-benefício dessas armas, tenho em vista a solidez da chamada tríade nuclear americana: ogivas que podem ser entregues ao alvo por meio de mísseis em silos, lançados por aviões ou submarinos.

Tanto foi assim que o programa do novo bombardeiro estratégico do país, o B-21 Raider, foi acelerado. Já há seis unidades em estágios diversos de produção e, na semana passada, foi feita a apresentação da primeira delas para testes em solo. O primeiro voo deve ser em 2023.

Seja como for, o sucesso agora dará gás aos hipersônicos americanos. "O time do ARRW desenhou e testou um míssil hipersônico lançado do ar em cinco anos", celebrou o general Jason Bartolomei, diretor do programa na Força Aérea.

Os fracassos do ano passado haviam levado a um corte de quase US$ 160 milhões no programa para 2022, mas agora isso tende a ser revertido. Restará saber como os hipersônicos, armas que podem empregar ogivas atômicas ou convencionais, serão integrados à doutrina operacional dos EUA.

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