É preciso avançar nos estudos da cannabis medicinal
Uso médico da planta é muito diferente da maconha traficada
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
É imperativo clarificar este tema, já que o uso medicinal da cannabis, tanto do canabidiol (CBD) quanto do THC, fazem parte de vasta literatura médica no Brasil e no mundo. Temos estudos nacionais a partir de 1973, com os farmacologistas Isac kaniol e Carlini, seguidos de estudos clínicos com Zuardi e outros autores, relatando eficácia terapêutica e segurança no uso em estudos experimentais e clínicos.
Embora uma parte da sociedade seja a favor da liberação da cannabis recreativa, uma grande parte dos médicos e seus pacientes defende a liberação da cannabis apenas para uso medicinal, dada a crescente literatura que ampara o uso numa enorme variedade de doenças graves e muitas vezes sem tratamento disponível ou refratários aos tratamentos convencionais, tais como doenças neurodegenerativas e neuropsiquiátricas (Huntington, Alzheimer, demência frontotemporal, esclerose lateral amiotrófica, esclerose múltipla, epilepsia, Tourette, autismo, depressão e Parkinson refratários, câncer e doenças autoimunes, entre outras doenças crônicas e intratáveis.
A eficácia nesta gama de doenças deve-se à existência do sistema endocanabinoides (SEC), um mecanismo de regulação homeostática, que auxilia na manutenção do equilíbrio fisiológico e que vem sendo desvendado desde a década de 1960. O SEC regula todos os outros sistemas: hormonal, imunológico e neurotransmissores, entre outros.
A cannabis tem centenas de compostos terapêuticos, entre canabinoides, terpenos e flavonoides. O único composto da cannabis que tem risco de causar prejuízo —em pessoas geneticamente predispostas ou em cérebros em desenvolvimento— é o THC.
Mesmo assim, se dado em conjunto com o CBD (canabidiol), seus efeitos deletérios são minimizados. Embora o CBD seja o canabinoide mais estudado dentre os mais de 140 já identificados, há alguns com efeito terapêutico já identificado: THCA, CBDA, CBDV e CBG, por exemplo.
Ao contrário da opinião do ministro Osmar Terra (Cidadania) nesta Folha, o THC tem efeitos terapêuticos muito claros. Afirmar que somente um dos canabinoides tem efeito benéfico é uma opinião enviesada e desatualizada de quem é a favor apenas do canabidiol sintético, este sim parte da milionária indústria farmacêutica que se beneficia e beneficia lobistas.
Apesar da opinião do colega ministro, os extratos de cannabis medicinal produzidos no Brasil são dez vezes mais baratos e eficazes, pois são extratos puros da planta, com todo o espectro de canabinoides agindo em sintonia para uma melhor função, o chamado efeito comitiva.
Finalmente, para dar o benefício da dúvida em relação à motivação do posicionamento do ministro, esclarecemos que o uso médico da cannabis é muito diferente da maconha traficada. A segunda é geneticamente modificada para ter alta concentração de THC, sem CBD, provém do tráfico e não sabemos sua origem —se é orgânica ou se está misturada com outras substâncias ilícitas.
Qualquer médico que defenda esse uso não estará respeitando o juramento que fez a Hipócrates. Já a cannabis preparada com fins terapêuticos, cultivada sem agrotóxicos, preparada com rigor e controle de qualidade, com conhecimento de seus compostos para que possam ser prescritos de acordo com a patologia a ser tratada, após avaliação médica responsável, é de grande utilidade para diversas famílias que convivem com o sofrimento de entes queridos vítimas de doenças graves, incapacitantes, muitas vezes lentamente letais.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters