Ana Fontes

É empreendedora social e fundadora da RME (Rede Mulher Empreendedora). Vice-presidente do Conselho do Pacto Global da ONU Brasil e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República

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Ana Fontes

A descredibilização do sucesso feminino: por que não somos levadas a sério?

Se você é uma mulher bem-sucedida, provavelmente terá que explicar como, quando e por quê

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Dias desses, estava rolando meu feed do Instagram e vi que Anitta, a cantora, estava lançando mais um trabalho, que também era um dos assuntos mais comentados no Twitter. Não, o texto desta semana não é sobre música.

Falemos sobre a aceitação do sucesso das mulheres. Quando o sucesso de uma mulher não será mais motivo de dúvida quanto ao seu próprio mérito? Minha reflexão de hoje é: por que as mulheres não são levadas a sério?

Nadezda Grapes/AdobeStock

Você pode ou não gostar de Anitta ou do gênero de suas músicas, mas não se pode negar o talento e o trabalho árduo por trás de sua jornada. O que era um deslize nas infinitas notícias e comentários do feed, me incomodou profundamente.

Uma mulher 50+, que já ocupou cargos de chefia em ambientes corporativos predominantemente masculinos e brancos, sabe o quão difícil é manter sua autoridade e ser respeitada nesses ambientes. Sei o quão hostil é vivenciar e manter-se firme.

Tenho para mim que o sucesso é mais facilmente aceito quando se é homem e branco. O sucesso parece acontecer de forma natural; ninguém questiona como ou quando você chegou lá. No entanto, se você é mulher, provavelmente terá que explicar como, quando e por quê. Lamento dizer que, muitas vezes, mesmo isso não será suficiente.

Recentemente li "Aurora: o Despertar da Mulher Exausta", da Marcela Ceribelli, onde em um trecho dizia: "Quando você não está acostumada a se sentir segura, apresentar-se autoconfiante pode parecer arrogância. Quando não está acostumada a se posicionar, ser assertiva pode parecer agressividade. Quando não está acostumada a tratar suas necessidades como prioridade, colocar-se em primeiro lugar pode parecer egoísmo". A dura verdade é que ser mulher é como pisar em ovos.

Você será julgada de toda e qualquer forma. Sua maquiagem, roupas e sua vida pessoal valem mais do que quantas vezes você teve que se virar depois dos 30, abdicar de momentos que não voltarão, quantos cursos você fez, quantas línguas aprendeu, o quanto estudou. E, mesmo assim, não será suficiente. Tentarão te diminuir, dirão que um homem te ajudou; se você não tiver um companheiro, pode ser rotulada de difícil; se optar por ser ou não ser mãe, haverá julgamentos.

Nosso sucesso está frequentemente atrelado a um homem. Enquanto os homens recebem uma, duas ou infinitas chances porque eles "erraram e foram apenas jovens", nós não podemos nos dar ao luxo de errar. Seremos lembradas sempre por algum erro ou deslize.

O que estamos deixando como legado para as nossas meninas? Dizemos a elas que podem ser o que quiserem, mas se a nossa carreira continua em cheque para muitos. Minha resposta sincera é: eu não sei.

Por aqui, seguimos educando meninos e meninas com uma educação mais igualitária e de respeito, buscando, com muita esperança (e um tantão de otimismo), que as gerações futuras achem essa sociedade patriarcal, que ainda não conseguimos derrubar, cringe demais.

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