Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros
Descrição de chapéu transição de governo

Novo governo Lula vai ganhando cara

Equipe de transição começa debate propositivo com bons quadros e desafios após Bolsonaro

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Aos poucos, os contornos do terceiro governo Lula vão ficando mais claros. O clima de frente ampla do segundo turno parece ter reunido gente bem boa em torno do novo presidente. Tudo ainda pode dar errado, mas os sinais são bons.

Na COP27, Lula pode ter feito o melhor discurso de sua vida, o que mais impacto pode ter na vida das gerações futuras. Tudo ali está certo. Fazer aquilo não vai ser fácil, mas a equipe de transição de meio ambiente se destacaria em qualquer país do mundo.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com crianças e apoiadores brasileiros residentes em Portugal, após participar da COP27 e de encontros com os chefes de Estado e de governo portugueses, além do presidente de Moçambique - Carlos Costa - 19.nov.22/AFP

A equipe de transição para a educação também é muito boa. Já passou da hora de alguém generalizar para o Brasil a experiência de sucesso da educação básica cearense, e a escolha dos nomes até agora dá a impressão de que o plano é esse.

Isso já poderia ter acontecido: em 2015, Dilma Rousseff nomeou Cid Gomes, ex-prefeito de Sobral, para o MEC. Eduardo Cunha derrubou os dois.

Também há ótimos nomes cotados para a justiça e para os direitos humanos. Essas são áreas em que Jair Bolsonaro foi tão mal que se Lula sorteasse os ministérios entre os pacientes do manicômio judiciário, na pior das hipóteses, empataria com a equipe de Bolsonaro. Mas mesmo sem a comparação, a equipe nova é boa.

A grande incógnita continua sendo a equipe econômica. As indicações na educação, no meio ambiente e na justiça deixaram clara a direção que o novo governo pretende seguir nessas áreas.

Na economia, a equipe até incluiu nomes de diferentes origens ideológicas, mas antes que alguma síntese desses debates surgisse, a PEC do Bolsa-Família atropelou a conversa; isso era inevitável pelo calendário do orçamento, mas a condução inteira do processo foi feita pela ala política do novo governo, sem participação ativa da equipe de transição.

Mas mesmo na área econômica, as propostas mais concretas começam a aparecer. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou que o governo Lula pretende tocar o projeto de reforma tributária já em discussão no Congresso, proposto pelo presidente do PMDB, deputado Baleia Rossi.

Boa parte da discussão que embasa esses projetos de reforma tributária se originou no trabalho do economista Bernardo Appy, que participou dos governos Lula. Tanto quanto sei, Appy foi o único economista "ortodoxo" de primeira linha que apoiou Fernando Haddad no segundo turno da eleição de 2018.

Da mesma forma, o debate sobre a nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos vem ganhando corpo. Na semana passada, Felipe Salto, secretário de Fazenda em São Paulo, apresentou uma nova proposta de regra fiscal ao vice-presidente Alckmin. Salto foi um crítico do teto de gastos original quando ele foi criado.

E há debates que mal começaram, mas podem se mostrar frutíferos. Por exemplo, gostaria de ver o tema da industrialização brasileira tratado por uma equipe econômica com gente de orientação ideológica diversa.

Enfim, se a negociação da PEC no Congresso evoluir a contento, e as novas propostas tributária e de regulação fiscal forem implementadas rápido, os movimentos de mercado recentes podem ser revertidos.

Se tudo der certo, a economia vai cumprir seu papel de segurar as pontas enquanto as turmas da educação e do meio ambiente garantem não só bons semestres, mas boas décadas para o desenvolvimento brasileiro.

Erramos: o texto foi alterado

Felipe Salto é o atual secretário de Fazenda e Planejamento do estado de São Paulo, não ex-secretário, como afirmado em versão anterior deste texto

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