Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Bem-estar social passa pelo planejamento urbano

Cidades mais densas e vibrantes aumentam o acesso a bens e serviços e permitem mobilidade socioeconômica

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Até que ponto o planejamento urbano pode ser utilizado como ferramenta para melhorar a qualidade de vida da população, um atributo cada vez mais importante em um cenário de crescimento urbano acelerado em todo o mundo?

Se, por um lado, o planejamento pode induzir mudanças nas caraterísticas físicas das cidades, por outro, o conhecimento da relação entre o ambiente urbano construído, as formas de operação das cidades e o bem-estar das pessoas pode ajudar na concepção de modelos de desenvolvimento urbano mais adequados.

Pesquisa do Departamento de Planejamento Urbano Regional da Norwegian University of Life Sciences, na Noruega, analisou os sete aspectos que ligam o ambiente construído e a vida nas cidades ao bem-estar das pessoas, que são deslocamentos, lazer, trabalho, relações sociais, habitação, reações emocionais e saúde.

A satisfação com os deslocamentos pela cidade depende não só do tempo e do modo das viagens, mas também de outros fatores, como segurança, conforto e limpeza. A forma urbana compacta é propícia ao aumento da satisfação com os deslocamentos, pois, além de reduzir os tempos de viagem, pode promover caminhadas e ciclismo. Como efeitos colaterais positivos, temos a inclusão social e a melhoria na qualidade de vida.

Estudos mostram que o ambiente construído está positivamente relacionado à satisfação com o lazer, assim como áreas verdes, amenidades e proximidade com regiões centrais das cidades.

O nível de diversidade e a acessibilidade às oportunidades para trabalho e educação podem contribuir de forma efetiva para o bem-estar. Estudos apontam que cidades mais densas e vibrantes aumentam o acesso a bens e serviços, possibilitam a interação diária e a atração de talentos, facilitam o empreendedorismo, e permitem mobilidade social e econômica.

Pesquisadores urbanos têm tradicionalmente investigado como o espaço urbano pode influenciar as relações sociais, em escala menor do que a de uma cidade, focando, portanto, nos relacionamentos na comunidade ou em bairros. Embora hoje em dia esses laços sociais locais pareçam ser menos importantes para indivíduos altamente educados e de maior renda, eles ainda são extremamente valiosos para o bem-estar, especialmente de grupos mais vulneráveis, incluindo os idosos e a população de baixa renda.

Moradores de bairros mais densos e de uso misto parecem formar laços de vizinhança mais impessoais, resultando em menor coesão social. A densidade mais baixa pode propiciar maior controle aos residentes acerca das pessoas com as quais se encontram e socializam regularmente. A menor concentração de residentes aumenta a propensão de ocorrer encontros frequentes entre vizinhos, presentes em número limitado, ajudando a criar a confiança necessária entre eles e, assim, o desenvolvimento de laços sociais.

Por outro lado, os residentes de bairros densos, em áreas centrais, podem criar e manter vínculos com residentes de outros bairros mais facilmente, devido à centralidade geográfica e à acessibilidade.

Estudos empíricos têm examinado características da moradia ligadas à satisfação com a vida, onde se destacam tamanho, adequação do espaço interior, qualidade da construção, amenidades, localização e preço. Os espaços comuns vinculados à habitação podem propiciar maior privacidade e interação social entre vizinhos, além de oferecer um lugar seguro para as crianças brincarem, melhorando a satisfação da família com sua habitação.

O ambiente construído tem a capacidade de desencadear respostas emocionais que podem, por sua vez, contribuir para o bem-estar emocional das pessoas. Vegetação bem cuidada e espaços abertos atraentes e convidativos são atributos habilitados a desencadear respostas emocionais positivas, pois estão ligados com a redução do estresse e a ampliação da sensação de bem-estar.

Políticas, planejamento, legislação e regulamentos urbanos devem ser desenvolvidos considerando, entre outros aspectos, o conhecimento baseado em evidências sobre as ligações entre as cidades e o bem-estar das pessoas.

Ferramentas de planejamento devem permitir aos planejadores e profissionais a intervenção e a melhoria da qualidade de vida em diferentes escalas e espaços da cidade, possibilitando a inclusão de grupos vulneráveis no processo de planejamento, e a redução das iniquidades e da exclusão social.

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