"Oito horas de trabalho, oito horas de sono, oito horas de lazer!" Esse era o grito de guerra dos trabalhadores engajados em vários países na década de 1880 —no Brasil o movimento ganharia força no começo do século 20.
As condições nas fábricas eram insanas, não apenas por conta da carga horária, mas também pela insalubridade e falta de segurança —"a fumaça que a gente tem que tossir", altas temperaturas, doenças infecciosas, a lista é enorme.
Sindicalistas, socialistas e anarquistas faziam barulho, manifestações e greves. Nos EUA, investigadores infiltrados da Agência Pinkerton antecipavam movimentos de revolta e prendiam os perigosos inimigos dos patrões.
A caldeira ferveu em Chicago, palco de uma batalha campal, com dezenas de mortos e centenas de feridos. As passeatas —pacíficas— haviam começado no dia 1 de maio de 1886 e avançado pelas ruas nos três dias seguintes.
Melhores salários, redução de cinco das 13 horas diárias de suor, uma folga por semana e férias eram as principais reivindicações. Hoje, nem o pior dos empregadores discordaria (descontados alguns rincões pátrios, onde a palavra salário sequer existe, o que dirá férias).
Os manifestantes, alguns com suas famílias, esbarraram nos tiros da polícia. O gatilho teria sido uma bomba lançada contra os fardados. A julgar pela qualidade das narrativas oficiais, bem pode ter sido o contrário. Quatro dos líderes populares foram enforcados, a despeito de protestos de intelectuais como Oscar Wilde e Bernard Shaw. Morreram cantando a Marselhesa.
O episódio, conhecido como o Massacre de Haymarket, inspirou o francês Raymond Lavigne, integrante da Segunda Internacional Socialista, a sugerir o primeiro de maio como dia internacional do trabalho.
Seu mentor era Jules Guesde, socialista radical, marxista heterodoxo (de acordo com Engels), anticolonialista e fundador, há 140 anos, do Partido Operário, que recusava toda e qualquer ligação com a burguesia. Guesde morreu no mesmo ano de "Ulisses" e da Semana de Arte Moderna —a modernista Pagu seria presa mais de 20 vezes em defesa da causa operária.
"Muitas decisões são tomadas enquanto estamos bebendo", escreveu num conto Raymond Carver, inovador literário de origem proletária. Sindicatos à parte, a força de trabalho se encontra na taverna. É onde deixa esvair a tensão bruta da mais-valia. Onde companheiras e companheiros riem, cantam, enchem a cara e a coragem. Onde também planejam marchas de repúdio à injustiça.
O boilermaker não é um coquetel e assume diversas formas. Mas é um momento de respiro para o barman, pois é simples: cerveja e algum destilado, normalmente uísque ou bourbon. Toma-se o destilado em um ou mais goles e a cerveja (chaser) em seguida. É uma maneira rápida e barata de se embebedar. Algo próximo da "cachaça de graça que a gente tem que engolir".
Deus lhe pague —o libador pede fiado. O mesmo Deus que olha indiferente para seus filhos no fogo das siderúrgicas, enquanto beberica seu néctar celeste. O boilermaker (caldeireiro) teria surgido entre operários do aço na Pensilvânia, estado no nordeste dos EUA com tradição de resistência sindical e militância anti racista.
Como na letra de "A Internacional": se nada somos, sejamos tudo.
BOILERMAKER
Ingredientes
- Um shot (50 ml) de uísque ou o destilado que preferir
- Meia pint (250 ml) de cerveja
Passo a passo
Entorne o shot e depois a cerveja ou beba alternadamente os dois. Ou ainda tente colocar o copo de shot dentro de um copo Boston sem misturar os conteúdos.
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