José Henrique Mariante

Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman

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José Henrique Mariante
Descrição de chapéu
CPI da Covid congresso nacional

Uma semana esquisita

Não é fácil virar pedra após décadas de cuidados com a vidraça

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A última semana foi a primeira deste novo ombudsman. Restaram apenas observações.

Domingo. A Folha amanhece em casa com um novo caderno de cultura, Ilustrada Ilustríssima. No jornal impresso, é claro, já que no site Ilustrada continua Ilustrada, e Ilustríssima, Ilustríssima. A estreia inclui detalhado perfil do secretário da Cultura, que trabalha de pistola na cinta e conduz a ofensiva bolsonarista contra redes sociais. Outro destaque, texto sobre os 50 anos do show “Gal Fa-Tal”. Havia vida inteligente nos anos 1970, e muitos só se lembram dos coturnos .

Domingo ainda. Morre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, outra resistência à ditadura. A Folha traz extenso pacote, à altura do personagem. Desenhos das principais obras fazem falta. Como explica uma das análises, os cortes são importantes para entender melhor a sua obra. Seria interessante registrar também que o Sesc 24 de Maio ocupa o prédio que era da Mesbla.

O WhatsApp pisca. “Como a Folha publica uma coisa dessas?” O que provocou indignação foi o texto “Veja cinco bares onde assistir à final do Campeonato Paulista neste domingo”. Reportagem sobre uma atividade legal ou promoção de aglomeração em plena pandemia? É legítimo o jornal prover serviço aos leitores, é inegável a falta de sensibilidade (e assim será, por um bom tempo).

Morre o piloto André Ribeiro, único brasileiro a vencer uma corrida de Indy no Brasil, certamente memória apenas de quem passou anos na editoria de Esporte. Câncer de intestino, 55 anos. O fato passa batido pela Folha, que gastou papel com ele nos anos 1990.

Segunda-feira. O jornal registra a morte de Max Mosley, um dos cartolas mais importantes da F1, outra lembrança esportiva. Teve a carreira maculada por um vídeo, publicado pelo finado News of The World, em que aparecia em uma orgia com prostitutas vestido de nazista. A versão do jornal impresso, muito pequena, omite o detalhe que sublinha o fetiche: seu pai, Oswald Mosley, foi um líder fascista, trabalhou ostensivamente por Adolf Hitler no Reino Unido.

Ilustração de Carvall para coluna Ombudsman do dia 30 de maio de 2021
Carvall

Segunda-feira pesada. A Folha publica mais detalhes da predação sexual sistemática atribuída a Saul Klein, denunciado por estupro e aliciamento por 14 jovens. A história das orgias supervisionadas até por ginecologistas causa repulsa, mas o título ameniza: “Saul Klein estruturou sítio para fetiches sexuais de ‘sugar daddy’’’. “Desde quando estupro é fetiche”, pergunta uma das vítimas em forte relato na quinta.

Terça-feira. A Folha lista as infrações cometidas pelo presidente e seu obediente general em passeio de moto no Rio. Editorial e colunista o descrevem como “selvagem da motocicleta”, alusão ao filme de Francis Ford Coppola. O personagem “Motorcycle Boy,” porém, passa longe da apropriação bolsonarista em duas rodas, tanto que é morto pela polícia... Tudo bem, ninguém se lembra mesmo dos anos 1980.

A morte de George Floyd, provocada pelo policial Derek Chauvin, completa um ano e é discutida em série de eventos no Instagram da Folha.

Ainda terça-feira. Vai ao ar o primeiro capítulo da série Inocentes Presos. O ponto alto é o vídeo com a jornada absurda do vendedor de balas Wilson Alberto Rosa, preso por 32 dias em 2017. A única semelhança entre Rosa e o assaltante é a cor da pele. Assista.

Quarta-feira. Título difícil na Primeira Página do jornal impresso: “Posição russa em prisão eleva seu poder na Belarus”. Em Saúde, reportagem mostra que o país tem menos isolamento social que campeões de vacinação. Misturando três variáveis, mortes, vacinação e mobilidade, os gráficos do assunto são impenetráveis.

Quinta-feira. Dia de revés histórico para o “Big Oil”. A Justiça da Holanda obriga a Shell a acelerar a redução de suas emissões; nos EUA, a Exxon Mobil é obrigada por acionistas a ceder dois assentos do conselho a representantes de um fundo ativista. Manchete de Financial Times e The Wall Street Journal, o tema é quase ignorado pelos pares brasileiros. O resto do planeta soa como ficção científica para quem vivencia a era Ricardo Salles.

Expresso Ilustrada, podcast cultural da Folha, explora o acompanhamento em ritmo de BBB da CPI da Covid, celebrado por cientistas sociais. Pênis, tênis, ex-atriz pornô, Holocausto, Nuremberg, a salada de assuntos de senadores e inquiridos é vasta. Ainda bem que existe Marcelo Adnet.

Sexta-feira. A Folha amanhece em formato de newsletters no celular. São várias as listas de notícias disponíveis. Nova ferramenta, o Minha Folha permite escolhê-las por assuntos, salvar artigos, seguir colunistas, tópicos e até repórteres.

O novo ombudsman agradece. Ler, ver e ouvir a Folha, assim como seus leitores, será rotina exclusiva nos próximos 12 meses. Não poder entrar na briga para ajudar a fazer e consertar as coisas, após quase três décadas de Redação, torna o processo bastante aflitivo. Sim, nada de novo.

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