Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Xerifes ainda são precisos

Como no velho oeste, a grande área requer chefões assim como para impor a lei

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No passado mais distante era comum os maiores clubes do país terem zagueiros-centrais que eram tratados como xerifões da grande área, frequentemente com apelidos no aumentativo para impor respeito e despertar temor dos atacantes.

Ditão, no Corinthians, Luisão Pereira, no Palmeiras, são dois bons exemplos.

 O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, preside a sua primeira sessão da corte após a posse
O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, preside a sua primeira sessão da corte após a posse - Pedro Ladeira-18.ago.22/Folhapress

Havia outros, não necessariamente no aumentativo, como Moisés, no Vasco, Rondinelli, no Flamengo, e por aí afora.

Hoje em dia o melhor exemplo nem é brasileiro, o paraguaio Gustavo Gómez, do Palmeiras.

Chamá-lo de Gustavão não seria exagero, mas como virou moda os jogadores terem dois nomes fica assim mesmo, embora, na verdade, ele tenha quatro: Gustavo Raúl Gómez Portillo, 29 anos, 1,85 m, alto, forte, bom de bola e artilheiro.

Não é imprescindível ser malvadão para mostrar autoridade dentro da área. Ajudar, ajuda, sem dúvida.

As democracias também podem, até devem, abrir mão de chefões duros, que resolvam divididas na marra, não necessariamente com soladas.

Desde que o adversário também jogue limpo e respeite as regras do jogo, vá além do mero discurso de atuar nas quatro linhas do campo.

Daí ter surgido novo xerife no Brasil, também com dois nomes, Alexandre de Moraes, apelidado Xandão por um adversário criminoso e enlouquecido, que joga na extrema-direita, chamado Roberto Jefferson.

A alcunha saiu pela culatra de seu autor, porque Xandão passou a atuar pesado em defesa das regras, além das 17, as da Constituição Federal.

Diga-se que Alexandre de Moraes, corintiano de coração, chamado de canalha por Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro, tem triste contribuição para o futebol paulista, ao decretar, em 2016, quando era secretário da Segurança, a medida da torcida única nos clássicos em São Paulo, ato típico de quem, incapaz de achar solução, escala a pura e simples proibição.

Inegáveis, porém, e incomparavelmente mais importantes que os prejuízos causados ao futebol, são as medidas de Xandão em defesa de nossa democracia.

Por mais bolas nas costas que procurem lançar nas dele, Xandão as tem rebatido com firmeza, sem apelar, sem fazer faltas, impedindo-as de chegar à meta.

E olhe que no último confronto havia uma poderosa e milionária seleção composta pelos seguintes empresários golpeadores: José Koury, dono do shopping Barra World; Marco Aurélio Raymundo (o Morongo), dono da Mormaii; Afrânio Barreira, dono do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Luciano Hang, da Havan; José Isaac Peres, da rede de shopping Multiplan; Ivan Wrobel, da Construtora W3; e Meyer Nigri, da Tecnisa. Complete o time com o 01, 02 e 03 sob o comando do sociopata.

Xandão virou zagueiro vigoroso em defesa do que temos de mais precioso, o Estado Democrático de Direito, contra algumas vozes obscuras, e outras nem tanto, na mídia inclusive, gente insidiosa que, com dribles mal ajambrados busca solapá-lo.

São os atuais seguidores de empresários como Henning Albert Boilesen, do Grupo Ultra, que apoiou o golpe de 1964 e financiou a repressão, tortura e morte de opositores, ou admiradores do jornalista Cláudio Marques.

Pessoas que entrarão para a História do Brasil como vilões, cobertos de sangue e cujos descendentes terão vergonha de assinar o sobrenome para não ter de responder se são parentes de fulano ou de beltrano.

Xandão neles!

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