Marcos de Vasconcellos

Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado

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Ameaça velada de Gerdau deveria ter a sua atenção

Dono de siderúrgica defende aumento na taxa de importação de aço

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São Paulo

O Brasil tem algumas poucas famílias cujo sobrenome se confunde com as indústrias que comandam. E, quando um desses bilionários resolve botar o governo contra a parede, em público, é porque tem algo sério acontecendo. Normalmente —ainda mais no primeiro ano de mandato presidencial—, esse tipo de coisa acontece por telefone ou em ambiente fechado.

Na última semana, Jorge Gerdau Johannpeter, da família que comanda a gigante da siderurgia, decidiu reclamar da falta de uma tarifa de importação de aço alta o bastante para conter a enxurrada de metal chinês no Brasil.

Jorge Gerdau, presidente da siderúrgica Gerdau
Jorge Gerdau defende aumento no imposto de importação de aço para conter chegada de produto da China - Pedro Ladeira - 28.jan.16/Folhapress

Para uma plateia formada, em sua maior parte, por colegas empresários do setor, ele disse sentir insegurança do "processo decisório governamental" e intimidou: "Provavelmente, vamos ter de mudar nossa atitude política".

A "atitude política" da família Gerdau é noticiada a cada eleição. Em 2006, o grupo, então presidido por Jorge, doou R$ 1,6 milhão para candidatos de diferentes matizes, entre os quais estava o atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Em 2022, ele próprio doou R$ 540 mil —a maior fatia ficou para a direção estadual do Novo no Rio Grande do Sul. Seu irmão, Frederico, destinou R$ 3,9 milhões para o PL (de Bolsonaro) gaúcho. Tudo de acordo com os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O que incomoda Jorge Gerdau a ponto de soltar uma ameaça velada, convocando seus colegas do ramo a subirem o tom, é a entrada do aço da China no Brasil. Como você já deve ter visto, o mercado imobiliário chinês flerta com uma crise de grandes proporções. Na falta de demanda para construir por lá, mandam o aço para cá —a preços chineses.

O atual presidente executivo da Gerdau, Gustavo Werneck, no mesmo evento, disse que a empresa está na iminência de promover uma onda de demissões e desligamentos.

Assim como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começou a tributar as bugigangas e roupas compradas na Shein, Shopee ou Aliexpress, o empresariado quer uma taxação de 25% sobre o aço chinês. Atualmente, a tarifa de importação para itens como bobinas de aço ou chapas galvanizadas vai de 9,6% a 12,8%.

Os números de importação de produtos relacionados ao aço explicam a grita dos executivos sobre a concorrência. Em setembro de 2023, importamos o dobro de toneladas em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de 2022, aliás, já havíamos importado mais do que o dobro do que em 2019, pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Dois dias depois do evento da siderurgia, os analistas do BTG Pactual reduziram o preço-alvo (o valor previsto a ser atingido no médio prazo) para as ações da Gerdau (GGBR4). Mas mantiveram a recomendação de compra. Neste ano, o papel já caiu quase 10%.

Além dela, nosso mercado conta com CSN, Usiminas e Ferbasa. Suas ações —respectivamente, CSNA3, USIM5 e FESA4— estão todas no negativo no acumulado de 2023, enquanto o Ibovespa registra 9,3% de alta.

As exportações para a China têm um peso enorme no resultado das nossas siderúrgicas, assim como no da Vale (VALE3), que exporta minério de ferro para as concorrentes delas. Enquanto houver crise do outro lado do mundo, a briga delas será para defender espaço no mercado interno.

Após o evento do aço, é importante que o investidor fique atento à movimentação da Reforma Tributária. Essa é uma das poucas vezes em que vemos empresários pedindo mais impostos —ainda que na conta dos outros. Aumentar o custo para chineses pode até beneficiar as siderúrgicas nacionais, mas encarece a construção e a indústria, alimentando a tão temida inflação.

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