Mathias Alencastro

Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

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Descrição de chapéu China Coronavírus

Da Covid zero ao fim da Covid, reabertura na China é alívio global

Nada como um cavalo de pau de política pública para entender como um Estado se comunica com a sociedade

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Nada como um cavalo de pau numa política pública para entender como um Estado se comunica com a sociedade. Nas últimas duas semanas, o regime chinês promoveu uma campanha de libertação contra si próprio.

Ele indicou a descontinuação dos temidos centros de quarentena, das campanhas de testes invasivas e dos megaconfinamentos. Propagandas mostram homens e mulheres arrancando suas máscaras num gesto de alívio. Os comunicadores alertam o número cada vez menor de pacientes graves. Dirigentes do Partido Comunista aparecem publicamente sem máscara e sem distanciamento social.

Movimento de pedestres em cruzamento de Xangai - Aly Song - 8.dez.22/Reuters

O monstro das restrições sanitárias, alimentado durante três anos pela tecnocracia obcecada com o controle social e pela vontade de mostrar a superioridade global do modelo de governança chinês, foi enterrado nos primeiros sete dias de dezembro.

A relação entre o crescimento dos protestos e a abolição das restrições sanitárias está longe de ser estabelecida. A multiplicação de histórias trágicas do cotidiano, nem todas verificáveis, certamente desgastaram a imagem do regime. O próprio Xi Jinping teria reconhecido que as manifestações eram resultado da "frustração" de três anos de política de Covid zero.

No entanto, a sociedade chinesa viveu as restrições sanitárias de forma muito dinâmica e heterogênea, o que impede grandes generalizações.

A evolução da comunicação oficial do regime sugere que as dificuldades econômicas pesaram mais na decisão final do que a insatisfação popular. O birô político do Partido Comunista se reúne duas vezes por ano para fazer o balanço da situação econômica. Em julho, seu comunicado insistiu na política de Covid zero; no encontro de 7 de dezembro, a expressão foi abolida e a prioridade passou a ser a busca pelo equilíbrio entre desenvolvimento econômico e controle da epidemia.

Uma mudança tornada inevitável pelos dados da economia. O crescimento caiu de 8% para 3% e as exportações despencaram quase 9% entre 2021 e 2022. Enquanto o desemprego jovem explodiu, a classe média perdeu grande parte da sua renda arcando com os custos da política sanitária. A saída da Apple e de outras empresas, que começaram a deslocar parte das atividades para Índia e Vietnã, ligou a luz de alerta.

Agora o regime aposta na euforia econômica para compensar o choque com o eventual fim da política de Covid zero. Agências de turismo já estão sendo invadidas por novos clientes e exportadores voltaram a rodar o mundo para retomar contratos. A crise no setor da habitação parece sob controle e as previsões do PIB voltaram a ultrapassar a barra dos 5%.

A retomada também se dá na frente diplomática. Depois da última cúpula do G20, Pequim e Washington voltaram a trabalhar juntos em temas essenciais como a Guerra da Ucrânia, a crise climática e a geopolítica da energia. Ainda é cedo para medir como o impacto da política de Covid zero mudou a relação dos chineses com o regime. Mas a reabertura da China é uma boa notícia para o mundo inteiro.

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