Descrição de chapéu Twitter

Leitores se dividem sobre embate entre Musk e Moraes

Enquanto uns apontam que declarações de bilionário afrontam soberania nacional, outros afirmam que falas não devem ser vistas como ataques ao ministro

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São Paulo

Após uma série de declarações sobre o ministro Alexandre de Moraes, o bilionário e dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, foi incluído no inquérito das milícias digitais neste domingo (7), quando afirmou que o ministro deveria renunciar ou sofrer impeachment.

Nesta segunda (8), Musk chamou Moraes de 'ditador do Brasil'.

Em decisão, Moraes justifica a decisão pela "dolosa instrumentalização criminosa" da rede e pela campanha de desinformação sobre a atuação do STF e do TSE, "instigando a desobediência e obstrução à Justiça"

O empresário Elon Musk - Sergei GAPON / AFP

Após publicação do perfil institucional do X que informava o bloqueio de "determinadas contas populares no Brasil" devido a decisões judiciais, o empresário questionou o ministro dessa decisão e, pouco depois, afirmou que vai levantar todas as restrições, descumprindo ordem judicial brasileira. No X, Musk disse que "os princípios são mais importantes que o lucro".

Durante live neste domingo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) elogiou o empresário quando disse que ele assumiu a briga pela liberdade no Brasil. Seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL), também respondeu Musk e disse que está preparando um requerimento para promover uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados sobre o "Twitter Files Brasil e censura".

À esquerda, porém, as declarações de Musk reverberaram negativamente. Orlando Silva (PC do B-SP), autor do PL das Fake News, usou os comentários de Musk para reacender a discussão sobre a regulação das redes sociais e deve pedir ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que coloque o projeto na pauta.

O assunto é visto de diferentes formas, alguns defendem, outros rechaçam. A Folha pediu que seus leitores opinassem sobre o caso.

"Não vi ataques e sim questionamentos. Outra, Elon Musk, ao ser incluído no inquérito das Fake News, supostamente teria cometido algum delito nas dependências do Supremo. Então qualquer ser vivo do mundo pode entrar neste inquérito?", questiona Felipe Fernandes, 39, engenheiro que mora em Vitória (ES). Assim como ele, outros concordam que os comentários de Musk estão mais para críticas e questionamentos do que para ataques ao ministro.

Manoel Luciano de Castro Neves, estudante de 24 anos morador de Brasília (DF), concorda com essa visão. "Primeiro que não são ataques, foram perguntas do porquê Alexandre de Moraes censurar tantas pessoas; segundo que, pelo que o Elon Musk vem publicando, o ministro pedia para o Twitter bloquear contas como se estivessem infringindo os termos de uso, ou seja, não era para deixar claro que era um pedido da Justiça Estamos vivendo uma ditadura do Poder Judiciário", diz.

Felipe, estudante de 23 anos de Dourados (MS), ainda lembra do papel da imprensa neste momento: "À mídia, cabe noticiar o fato com imparcialidade, tal como está sendo feito no mundo inteiro. Além disso, é um dever questionar se o "outro lado" não está certo, será que Alexandre de Moraes realmente não está tomando medidas descabidas, autoritárias e inconstitucionais?"

A atuação do ministro é alvo de críticas, principalmente pelos apoiadores de Bolsonaro, que afirmam que há uma perseguição política de apenas um dos lados do espectro político, que o devido processo legal não é seguido e que a conduta de Moraes é irregular.

"São meras críticas à atuação de um agente público, perfeitamente normais em uma democracia. Mas há muito tempo não vivemos dentro dessa normalidade democrática. Felizmente o Musk não está submetido a esse terrorismo. Palmas para ele", diz Danilo Campos, juiz aposentado de 61 anos.

Na imagem, Alexandre de Moraes - Gabriela Biló /Folhapress

Por outro lado, muitos leitores disseram à Folha que os comentários de Musk direcionados ao ministro representam um ataque à soberania nacional. Esse é o caso do analista de sistemas Glauber Lima Cantacini Romano, 33, de São Paulo (SP): "[Os comentários] Representam um ataque à soberania nacional. Não é lugar de um cidadão estrangeiro, ainda que um bilionário operando uma empresa cujo produto é uma rede social atuante no Brasil, pressionar o Supremo Tribunal Federal de país algum."

Edith de Oliveira Azevedo Zogbi, 55, produtora cultural de São Paulo (SP), acha a atitude do bilionário "um absurdo". "O Brasil é um país democrático que possui sua Constituição e leis que devem ser respeitadas por todos."

O gerente de marketing Carlos Eduardo Costa e Silva, 44, de Porto Alegre (RS), tem a mesma opinião que ela: os incomodados que se mudem.

"Um absurdo! Onde já se viu um estrangeiro querer pautar o que é ou não é legal no nosso país. Ter dinheiro e influência não dá a ele poder para fazer o que bem entende. Se ele não sabe respeitar nossas leis, que vá embora."

Da mesma forma que o autor do PL das Fake News recorreu a este instrumento, Wanessa Tatiani da Silva Santos, 42, assistente administrativa de Campos do Jordão (SP) também vê as ações de Musk como justificativa para a regulação das redes sociais.

"Uma afronta à soberania brasileira que encontrou respaldo na covardia do legislativo brasileiro que, quando teve a oportunidade, não aprovou a PL 2630. É urgente a criação de regras normativas para as Big Techs e, se necessário, o banimento daquelas que não querem se sujeitar à nossa Constituição. Sabe-se que tudo é um teatro da extrema-direita mundial que por aqui está representada na figura de Bolsonaro, mas é mais do que isso, é a tentativa de golpe pelo lado de fora, já que o golpe "por dentro" não teve êxito no 8/1."

"O Bilionário Mimadinho foi corrompido por narrativas falaciosas da extrema direita", diz Marcos Santos, 36, analista sênior de Belo Horizonte (MG).

Confira abaixo outras respostas enviadas à Folha:

"Não considero como ataques, mas críticas contundentes. É sabido publicamente que o ministro tem agido de ofício, incluindo pessoas como investigadas sem consulta à PGR, por exemplo. Além do mais, é também notório como o Supremo e o TSE, agindo de forma quase que interligada, pegaram para si o título de "Defensores da Democracia" e agem como se, para que a democracia não sofra críticas, seja NECESSÁRIO agir de forma autoritária, silenciando a voz de que se levanta contra os atores que integram as cortes citadas e fazem parte do grupo mais forte de autodenominados paladinos da democracia."

João Guilherme, 23, estudante (Jaboatão dos Guararapes, PE)

"Acho que o que ele fala faz total sentido pois o STF e o ministro Alexandre quebraram muitas regras nem que sejam morais com o objetivo de 'proteger a democracia'. No final os fins justificam os meios e aproveitam para eliminar inimigos políticos. Algo deveria ser feito contra os golpistas do dia 08/01 mas será que o que está sendo feito não passou as regras? Olha o exemplo do Monark por exemplo ele nem participou ou instigou o dia 8 e teve que se exilar fora do país por emitir opiniões mesmo que erradas"

Felipe Dirques, 24 anos, advogado (Rio de Janeiro, RJ)

"É um acinte que um estrangeiro, absolutamente ignorante sobre os Direitos Constitucional e Infraconstitucional brasileiros delibere, por dispor de recursos materiais a tanto, atacar o Brasil sob acusações enviesadas que, além, revelam seu receio conquanto aos projetos de regulamentação das redes e mídias sociais que tramitam no Congresso Nacional. Por que será, não é mesmo? Ademais, não foi tal senhor que bloqueou jornalistas que o criticavam? E que foi ameaçado pela UE com multa superior a 350 milhões de Euro por otimizar o ecossistema de desinformação através do X?"

Leandro Sartori Molino, 49, advogado (São Paulo, SP)

"Devaneio megalomaníaco de um bilionário e um flerte com o neofascismo."

Guilherme Leonard Neiman Cavalcante, 28, engenheiro (São Paulo, SP)

"Não fazem sentido algum, vindos de um agente externo que não compreende os intuitos da nação e da legislação brasileiras. Se a plataforma dele não se encaixa na nossa lei, ou ele muda ou sai do país."

Júlio Silva, 31, professor (Passos, MG)

"Um verdadeiro ato heróico, uma vez que temos um ministro do STF que atropela a Constituição com um inquérito infinito que foi aberto de forma inconstitucional e se mantém aberto de forma ilegal perseguindo pessoas por opiniões. Além disso, temos uma mídia que fica calada diante da perseguição e da censura uma vez que sabe que por causa das redes sociais, acabou perdendo o monopólio da informação."

Thomas Vieira, 33, empresário (São Paulo, SP)

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