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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Empresário ucraniano cobra posicionamento de Bolsonaro contra ataque russo

Sergio Maciura, dono de agência de turismo com foco na Ucrânia, diz que viagens em toda Europa serão abaladas

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São Paulo

O empresário Sergio José Maciura, dono da agência de turismo Dnipró, especializada em viagens para a Ucrânia, avalia que o país invadido pela Rússia e seus vizinhos serão prejudicados com a redução de turistas, mas o fluxo na Europa em geral também vai sofrer os efeitos da ação militar.

Maciura, que também é presidente da câmara Brasil-Ucrânia, diz que suspendeu missões empresariais e que a comunidade cobra do governo Bolsonaro um posicionamento efetivo contra o ataque.

Sergio José Maciura, diretor da empresa Dnipró Gold Turismo, especializada em viagens para a Ucrânia e presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Inovação Brasil-Ucrânia - Divulgação

Como o sr. está acompanhando a guerra daqui? Sou neto de ucranianos, estamos comemorando 130 anos da nossa imigração para o Brasil. Temos família, primos, tios, uma relação direta lá. É dramático. Essa relação com a Rússia sempre foi muito conturbada.

A Rússia nunca aceitou uma Ucrânia independente e isso se acirrou com as conversas da Otan, desencadeou o processo dessa invasão, essa agressão russa ao território. Estamos acompanhando.

Tenho uma sócia, de uma empresa ucraniana, que está escondida com a mãe e a filhinha pequena em um bunker na fronteira com a Rússia. E não sabemos a extensão dessas ações do Putin. Estamos perplexos, em pleno 2022 uma nação com o poder da Rússia fazer o que está fazendo.

O sr. tem uma agência de turismo. As viagens foram canceladas? Tenho uma empresa com o nome do rio Dnipró da Ucrânia. Ela nasceu há 29 anos focada no destino Ucrânia, pela nossa relação familiar. É um país belíssimo, tem riquezas históricas, culturais. É claro que para um país invadido, naturalmente, ninguém quer ir em situação de risco.

Janeiro a março não são meses tradicionais de viagens para lá por causa do frio. Não temos roteiro de inverno. Então, não estamos com passageiros lá. Nossos projetos sempre são depois de maio e junho.

Claro que vai impactar dependendo de como a situação estará por lá. Hoje, está tudo parado, ninguém vai querer ir para a Ucrânia neste momento nem daqui para a frente, até que as coisas estejam calmas. E não só Ucrânia. Também gera uma expectativa negativa para o turismo na Polônia, Romênia, Bulgária, países ligados à Otan, posicionando tropas, equipamentos militares.

Isso com certeza terá impacto no setor de viagens. Já teve cancelamento de voos da Aeroflot e fechamento de espaço aéreo. Gera impacto dentro da própria Europa, no fluxo de turistas para a Rússia.

O sr. também é presidente da câmara de indústria e comércio Brasil-Ucrânia? Isso. É um projeto recente. Estamos reiniciando um projeto feito há muitos anos de Brasil e Ucrânia, voltado para áreas de indústria e inovação, porque a Ucrânia é um país com produção tecnológica muito forte. E é evidente que isso compromete qualquer movimentação de missões de lá para cá e daqui para lá.

Estávamos projetando a vinda de delegações ucranianas para cá a partir de maio, visitas técnicas, principalmente aqui no Paraná, voltadas para tecnologias no agronegócio. Está suspenso. Não podemos nem pensar em alguém viajar neste momento.

Os empresários ucranianos aqui têm se reunido para falar disso? Sim. Deve ter um impacto no fluxo de comércio. É prematuro falar. De imediato, é a perplexidade do mundo e nossa diante de uma atrocidade feita por país com essa capacidade militar.

É uma atitude covarde contra um país que, em 1994, no Memorando de Budapeste, abriu mão de todo o seu arsenal nuclear em benefício da paz mundial. E, agora, lamentavelmente, está sendo atacado por não ter essa capacidade.

Isso vai gerar uma desconfiança de outros países com a Rússia, um pária internacional que vai perder relações. Vai gerar um desequilíbrio grande com a Rússia na área comercial. Mas com a Ucrânia, temos que aguardar.

Vocês da comunidade ucraniana estão fazendo contato com o governo? Sim, estamos centralizando as nossas comunicações com os governos estaduais, como o do Paraná, do Ratinho Júnior, que tem nos dado apoio total.

Recebemos um comunicado da Secretaria de Justiça de São Paulo, colocando o estado à disposição de eventuais refugiados nas questões de habitação, documentação, e agradecemos muito em nome da comunidade.

Temos que estar preparados, porque pode ter uma saída enorme de pessoas de lá para buscar alternativas.

Sobre o governo, quando o presidente Bolsonaro foi à Rússia, houve um posicionamento importante da comunidade ucraniana em que manifestamos que o Brasil é um país soberano, que tem relações comerciais. Não nos opusemos à ida dele à Rússia, mas que também pudesse, no retorno, parar na Ucrânia, conversar com o presidente Zelenski, mas não foi possível.

Acompanhamos a manifestação do vice-presidente Mourão, que foi contundente [disse não concordar com o ataque feito pela Rússia] e foi até contestado pelo presidente.

Queremos que o Brasil também manifeste repúdio à invasão do território ucraniano.

Acho importante para o Brasil, apesar de ter relações comerciais com a Rússia. Mas tem que entender que a atitude que a Rússia tomou não é a de um país correto, que quer ter relações com o mundo.

Tem que se manifestar sim e pedimos isso ao governo brasileiro por meio de nossos representantes, deputados e senadores, para que cobrem posição efetiva do presidente, para que repudie essa atrocidade que está sendo feita contra o território de um país independente e um povo pacífico.

Raio-X

Diretor da empresa Dnipró Gold Turismo, especializada em viagens para a Ucrânia e presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Inovação Brasil-Ucrânia. Foi também vice-presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira

Joana Cunha com Andressa Motter e Ana Paula Branco

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