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Filantropia, colaboração e estratégias de longo prazo fortalecem investimento social no Brasil

Não há outra maneira de resolver problemas complexos brasileiros sem forte atuação em rede e de forma perene

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Paula Fabiani

Diretora-presidente do Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, destaque no Prêmio Empreendedor Social 2020 e membro do Catalyst 2030

Gabriella Bighetti

Diretora-executiva da ONG United Way Brasil

A filantropia tem amadurecido no Brasil nos últimos anos. Com início profundamente assistencialista, hoje conseguimos ver seu poder transformador vivido pelas pessoas em gerações. Isso porque filantropos e doadores —sejam pessoas físicas ou organizações— perceberam que problemas complexos e sistêmicos demandam soluções colaborativas, estratégicas e de longo prazo.

A pandemia foi um ponto de inflexão nesse caminho de aperfeiçoamento. As colaborações sempre aconteceram, mas, especialmente neste período, elas ganharam luz e dimensão nunca antes vistas.

O investimento social privado obteve aporte recorde. De acordo com o Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que acompanhou o aumento das doações de março de 2020 até agosto de 2021, mais de R$ 7 milhões foram doados em resposta à Covid-19. Destes, 85% foram realizados por empresas.

Pessoas recebem doações de alimentos em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, durante a pandemia - Marlene Bergamo/Folhapress

Do ponto de vista da doação individual, também experimentamos mudanças. De acordo com o World Giving Index 2022, ou Ranking Global de Solidariedade, o Brasil passou da posição 54 para a posição 18 entre 119 nações.

O levantamento feito pela organização britânica Charities Aid Foundation leva em consideração doações em dinheiro, trabalho voluntário e ajuda a desconhecidos.

Foi nesse momento que, felizmente, a filantropia intensificou a colaboração. Não por coincidência, as últimas edições dos principais eventos brasileiros sobre o tema abordam essa conexão.

Foi o caso da 11ª edição do Fórum Brasileiro de Filantropos e Investidores Sociais do Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, no fim de setembro, e do Fórum Latino-Americano de Impacto Coletivo, da United Way Brasil (UWB), organização filantrópica presente em mais de 40 países, realizado em outubro.

Ambos trouxeram a mesma premissa: juntos vamos mais longe. A tendência é pauta em todo o mundo.

Em novembro, o Global Philanthropy Forum 2022, que acontece desde 2013 nos Estados Unidos, trouxe a colaboração como tema do seu encontro. "Shifting power, collective action" ou, em tradução livre, "Mudando o poder, ação coletiva" foi a agenda da vez.

A partir da união entre filantropia e colaboração chegamos, enfim, ao que chamamos de filantropia transformadora –provando que uma doação pontual ou doações feitas ao longo de um ano, por exemplo, não promovem transformações consistentes.

Não tem outra maneira de resolver problemas complexos brasileiros, como desigualdade social, racismo estrutural e outras questões sistêmicas, sem forte atuação em rede e de forma perene.

Por isso, a UWB acredita tanto na força do impacto coletivo e difunde a atuação a partir desta metodologia. Criada em Stanford pelos pesquisadores John Kania e Mark Kramer e divulgada em um artigo publicado em 2011 no Stanford Social Innovation Review, é uma abordagem em que um grupo de atores importantes, de diferentes setores, com compromissos de longo prazo com uma agenda comum, trabalha junto para resolver um problema social específico com escala.

A metodologia ainda é pouco conhecida na América Latina. Ela pressupõe que é necessário ouvir e incluir atores que figuram nas pontas dos processos. Afinal, eles detém o conhecimento das necessidades reais da comunidade, do território e têm capacidade ímpar de garantir a implementação de ações e projetos com agilidade.

No Brasil, o Global Opportunity Youth Network São Paulo coloca em prática a metodologia, conectando jovens, empresas e organizações em prol da inclusão produtiva.

Atuando na capital paulista, possui em sua rede 80 organizações, como Itaú Educação e Trabalho, Instituto Coca-Cola Brasil, Fundação Tide Setubal, Fundação Arymax, Secretaria Municipal de Juventudes e PepsiCo e, só em 2022, impactou mais de 8.000 jovens das periferias.

Embora seja possível apontar visíveis avanços e olhares mais atentos à temática da filantropia, há ainda muitos desafios pela frente. Houve uma mudança na cultura das organizações, que estão se tornando criteriosas em relação à importância de avaliar o impacto de projetos, mas ainda há gargalos na hora de comprovar se os investimentos geram as transformações desejadas.

No Idis, entre 2019 e 2020, foram realizadas sete consultorias dessa natureza. No biênio 2021-22, esse número saltou para 54, em sua maioria com a aplicação do protocolo de retorno social sobre investimento (SROI).

Esse processo gera uma agenda propositiva a investidores sociais e projetos, pois ao mesmo tempo em que identifica o sucesso de suas ações, aponta sugestões de melhoria, unindo investidores e beneficiários.

Por tudo isso, a perspectiva de futuro para o investimento social privado no Brasil é otimista, mas só seguirá evoluindo de forma consistente se não esquecer a colaboração e as estratégias de longo prazo pelo caminho.

Vamos desafiar o ditado e mostrar que juntos é possível ir longe e ainda mais rápido.

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