Donald Trump seguiu duas políticas econômicas principais. Quanto aos impostos, ele foi um republicano ortodoxo, pressionando por grandes cortes de impostos para as empresas e os ricos, e seu governo prometeu que isso levaria a uma grande alta no investimento.
No comércio internacional, ele rompeu com as políticas de (mais ou menos) livre comércio de seu partido e impôs grandes tarifas, que, prometeu, reanimariam a indústria dos Estados Unidos.
Na quarta-feira (31), o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, cortou as taxas de juros, embora o índice de desemprego esteja baixo e o índice geral de crescimento econômico continue decente, ainda que não ótimo.
De acordo com Jerome Powell, chairman do Fed, o objetivo era fazer seguro contra os sinais preocupantes de uma futura desaceleração econômica –especialmente no investimento empresarial, que já vinha fraco e caiu no trimestre mais recente, e na indústria, que está em queda desde o começo do ano.
Powell evidentemente não podia dizer abertamente que as ideias econômicas de Trump fracassaram, mas esse foi o subtexto de suas declarações. E os esforços frenéticos do presidente para pressionar o Fed a decretar um corte maior de juros significam admitir a mesma coisa.
A justiça requer afirmar que a economia continua bem forte, o que não deveria surpreender dada a disposição do Partido Republicano de operar com imensos déficits orçamentários desde que os democratas não ocupem a Casa Branca.
Como escrevi três dias depois da eleição de 2016 –assim que o choque inicial do resultado passou–, “é pelo menos possível que déficits orçamentários maiores de fato reforcem a economia por um breve período”. E foi exatamente isso que aconteceu. Houve um solavanco positivo em 2018, mas a esta altura mais ou menos retornamos ao ritmo de crescimento pré-Trump.
Mas por que as ideias econômicas de Trump foram incapazes de produzir grande coisa além de um déficit orçamentário trilionário? A resposta é que tanto os cortes de impostos quanto a guerra comercial se baseiam em visões falsas sobre como o mundo funciona.
A fé republicana na magia dos cortes de impostos –e, correspondentemente, a crença em que aumentos de impostos condenarão a economia– é o grande zumbi da política, uma posição que deveria ter sido morta pelas provas em contrário décadas atrás, mas continua perambulando, devorando os cérebros republicanos.
O histórico na verdade é espantosamente coerente. A alta de impostos de Bill Clinton não causou depressão, os cortes de impostos de George W. Bush não trouxeram um boom, o aumento de impostos de Jerry Brown na Califórnia não foi um “suicídio econômico”, o “experimento” (o termo é dele) de Sam Brownback com o corte de impostos no Kansas foi um fracasso.
Mesmo assim, os republicanos persistem. Desta vez, a peça central do corte de impostos era um incentivo fiscal gigantesco para as empresas, que supostamente as induziria a trazer de volta aos Estados Unidos o dinheiro que têm investido no exterior, e colocá-lo para funcionar em nossa economia. Em lugar disso, elas basicamente usaram o dinheiro que economizaram com o corte de impostos para recomprar suas ações.
O que houve de errado? O investimento empresarial depende de muitos fatores, e as alíquotas tributárias não têm posição elevada na lista. Embora a observação casual dos fatos possa sugerir que as empresas investem muito em países que têm impostos baixos, como a Irlanda, isso é quase sempre uma ilusão: empresas usam truques de contabilidade para reportar imensos lucros e daí os grandes investimentos em paraísos fiscais, mas eles não correspondem a qualquer coisa de real.
Jamais houve razão para acreditar que o corte de impostos empresariais nos Estados Unidos levaria a uma grande alta no investimento de capital e do emprego e, como seria de esperar, isso não aconteceu.
E quanto à guerra comercial? As provas são esmagadoras: as tarifas não têm muito efeito sobre a balança comercial geral. Elas no máximo transferem o déficit de lugar: estamos importando menos da China e mais de outros lugares, como o Vietnã.
E há bons argumentos para afirmar que as tarifas de Trump na verdade prejudicam a indústria dos Estados Unidos. Para começar, muitas delas incidem sobre “bens intermediários”, ou seja, coisas que empresas americanas usam em seus processos de produção, e com isso as tarifas elevaram custos.
Além disso, a incerteza criada pelos caprichos de Trump na formação de políticas –ninguém sabe o que ele vai tomar por alvo em seguida– seguramente desestimulam o investimento. Para que construir uma fábrica quando, até onde você sabe, na semana que vem um tuíte destruirá seu mercado, sua cadeia de suprimento, ou ambos?
Nada disso levou a uma catástrofe econômica –ainda. Como Adam Smith escreveu certa vez, “há muita ruína em uma nação”. Exceto em tempos de crise, presidentes importam menos do que a maioria das pessoas pensa, para a economia, e embora as ideias econômicas de Trump tenham fracassado de todo em cumprir o que ele prometeu, não são horríveis o bastante para causar enormes estragos.
Por outro lado, pense nas oportunidades perdidas, imagine o quanto estaríamos melhor se as centenas de bilhões de dólares desperdiçados em cortes de impostos para empresas tivessem sido usados para reconstruir a infraestrutura deteriorada do país.
Imagine o que poderíamos ter feito com políticas públicas que promovessem empregos do futuro em coisas como energia renovável, em lugar de guerras comerciais que tentam em vão recriar a economia industrial do passado.
E já que tudo hoje em dia é político, permita-me dizer que os sabichões que acreditam que Trump vencerá a eleição ao alardear a força da economia estão quase certamente errados. É muito provável que ele não encare uma recessão (em tese), mas definitivamente não recuperou a grandeza da economia.
Assim, ele provavelmente vai ter de fazer o que já está fazendo e claramente deseja fazer: disputar a eleição com o racismo como plataforma.
The New York Times, tradução de Paulo Migliacci
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