Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ross Douthat
Descrição de chapéu partido democrata

Candidatura de Biden reafirma que não há alternativa confiável no Partido Democrata

Nenhum nome da sigla parece querer assumir o risco de ser culpado por uma Presidência de Donald Trump ou Ron DeSantis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

O caminho de Joe Biden para uma nova nomeação pelo Partido Democrata para disputar a Casa Branca representa o triunfo de uma aparente implausibilidade sobre outra.

Desde o início da Presidência Biden, todas as conversas sérias sobre sua reeleição começaram com a quase impossibilidade de imaginar um homem claramente velho demais para o cargo se submetendo aos rigores de mais uma campanha presidencial, vendendo-se como uma mão firme quando sua instabilidade é amplamente reconhecida até mesmo pelos eleitores de sua coalizão.

Biden durante evento na Casa Branca, em Washington - Aaron Schwartz - 24.abr.23/Xinhua

No entanto, essa impossibilidade colide com a impossibilidade de descobrir como Biden pode ser deixado de lado —exceto numa emergência médica, ele claramente não pode ser— ou de discernir como qualquer democrata ambicioso pode ser induzido a desafiá-lo.

A dinâmica que fez de Biden o candidato —sua moderação e seu posicionamento apenas suficientemente de esquerda— ainda o protegem de uma oposição consolidada em ambos os flancos. Os rivais mais jovens que o desafiaram em 2020, Pete Buttigieg e Kamala Harris, foram cooptados para seu governo (onde suas marcas não estão exatamente florescendo). Enquanto isso, a geração ascendente de governadores democratas –Gavin Newsom, Jared Polis, Gretchen Whitmer e Josh Shapiro– se posicionou (especialmente Newsom) para o cenário pós-Biden, pronta para entrar em cena apenas se ele sair.

Biden também evitou o tipo de artimanhas que poderiam deixar um grande eleitorado pronto para a revolta —o Build Back Better encolheu para a Lei de Redução da Inflação, mas foi aprovado; o envolvimento na Ucrânia satisfez os falcões liberais, ao mesmo tempo em que parou antes do conflito direto com a Rússia que poderia agitar a esquerda antiguerra. E ele se beneficiou do modo como a polarização e o antitrumpismo produziram um progressismo unificado, impregnado de um espírito de confiança no establishment que faz com que um desafio nas primárias pareça não apenas perigosa, mas desonrosa.

Nada disso elimina a dificuldade de imaginar sua campanha por mais quatro anos. Mas é superada pela dificuldade de ver como qualquer força séria dentro dos democratas poderia se organizar para detê-lo.

No entanto, como a era Trump nos ensinou, o sério e o respeitável não são as únicas forças na política americana; a má reputação também é poderosa. No momento, não há uma abertura clara para um rival importante como Newsom substituir Biden como candidato democrata.

Mas com os números do presidente consistentemente ruins e uma clara pluralidade de democratas que não querem que ele concorra novamente, há espaço para alguém disposto a fazer o mesmo jogo de Eugene McCarthy em 1968, Pat Buchanan em 1992 ou Bernie Sanders em 2016 –apresentar-se como um nome de protesto, para canalizar queixas ou descobrir, na campanha, quais podem ser essas queixas.

Hoje, a única figura importante fazendo o teste para esse papel é Robert F. Kennedy Jr., o notável ativista antivacina que lançou sua campanha em Boston. Ele é um caso interessante, porque, embora esteja fora da atual corrente dominante progressista, seu nome passa um claro tipo de nostalgia do velho democrata, enquanto sua irritabilidade anticorporativa fala de uma tendência que costumava ser poderosa na esquerda, antes que o trumpismo absorvesse grande parte da energia paranoica e do conspiracionismo.

Isso torna possível imaginá-lo descobrindo um eleitorado real de democratas não totalmente feliz por fazer parte da coalizão que valoriza a experiência oficial, que mistura visões holísticas da medicina com dúvidas sobre a narrativa dominante sobre... bem, os assassinatos dos Kennedy, para começar (embora ele tenha que competir com Marianne Williamson, que também está no ringue novamente).

Ao mesmo tempo, sua reputação de conspirador torna RFK Jr. um veículo ruim para os democratas que podem querer votar contra Biden sem fazer uma declaração antivacina. Portanto, deve ser relativamente fácil para o partido estabelecer um cordão sanitário em torno de sua candidatura, de modo que 10% dos votos sejam possíveis, mas 30%, inimagináveis.

É esse limite de 30% que criaria problemas reais para Biden se fosse superado. Suspeito que haja descontentamento suficiente com base só em questões de idade e condicionamento físico para que tal ruptura aconteça. Mas há alguém mais próximo da corrente dominante do que RFK Jr. disposto a criar esses problemas, realçando seu perfil sob o risco de ser culpado por uma vitória de Trump ou DeSantis?

Idealmente, uma coluna como esta terminaria identificando essa pessoa, num floreio profético. Mas, como não tenho à mão um candidato pronto, talvez Biden possa respirar tranquilo –com todos os impedimentos da idade superados, mais uma vez, pela ausência de qualquer alternativa confiável.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.