Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP.

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Samuel Pessôa
Descrição de chapéu copom Selic juros

As três dúvidas do Copom

Inflação nos EUA e, no Brasil, desempenho das contas públicas e preços de serviços definirão próximos passos do BC sobre os juros

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Há duas semanas, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, de 11,25% para 10,75%.

Adicionalmente, o Copom, no seu comunicado após a decisão, escreveu que "os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude na próxima reunião e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".

No comunicado da reunião anterior, lia-se: próximas reuniões, no plural. O Copom sinalizou que na próxima reunião, nos dias 7 e 8 de maio, reduzirá a taxa Selic para 10,25% e, pode, na reunião seguinte, reduzir o ritmo de queda de 0,5 para 0,25 ponto percentual.

Diretores do Banco Central durante reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)
Diretores do Banco Central durante reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) - Raphael Ribeiro - 31.jan.24/Divulgação Banco Central

Três fatores determinarão o ritmo da política monetária: 1) a evolução do processo inflacionário nos EUA e o possível ciclo de queda dos juros por lá; 2) o desempenho das contas públicas ao longo do ano e a resposta do Executivo a ele; 3) o comportamento da inflação de serviços.

Nos EUA, após sete leituras muito positivas, a inflação em janeiro e fevereiro veio um pouco salgada. Nada que preocupe, mas o suficiente para ser um banho de água fria no clima de "já ganhamos a batalha contra a inflação", que vigorou nos mercados em dezembro, quando Wall Street chegou a sinalizar sete cortes da taxa básica americana em 2024. Hoje o mercado acompanha a sinalização do banco central americano, de três cortes de 0,25 ponto percentual ao longo do ano.

No front fiscal, a dúvida maior é o grau de revisão da meta de primário que será feita provavelmente em maio. Se a revisão for muito intensa, por exemplo de uma meta de 0% do PIB para um déficit primário de 1%, o novo objetivo será atingido. Com o atingimento da meta, nenhum dos gatilhos e mecanismo autocorretivos previstos no novo arcabouço fiscal será acionado. A dinâmica da dívida pública sofrerá nova piora.

Finalmente, a inflação de serviços, excluindo o item muito volátil das passagens aéreas, rodou nos últimos três meses a mais de 6% ao ano. É fato que os aumentos dos serviços se concentram no início do ano. No entanto, quando olhamos em 12 meses, serviços rodam ainda a 5% ao ano.

Contribui para a preocupação com a inflação de serviços o mercado de trabalho muito apertado, com salários reais rodando a 4% ao ano, bem acima da produtividade.

Há sinais de que há alguma desaceleração na inflação de serviços e nos salários reais. A ver.

Por ora, a inflação aparenta fechar o ano em 3,5%, mas com uma configuração desfavorável: bens industriais, em razão da desinflação chinesa, rodando a 1%; alimentos a 3% (a inflação de hortifrutigranjeiros do início do ano deve reverter no outono); e serviços a 4,5%.

Não podemos descartar que a inflação se eleve em 2025. Nesse caso, após a taxa Selic atingir um mínimo ainda em 2024 de 9% a 9,5%, o Banco Central será forçado a iniciar novo ciclo de alta de juros em algum momento no segundo semestre de 2025.

A questão é que não vivemos um equilíbrio macroeconômico. A dívida pública em dezembro de 2026 será uns 10% a 12% do PIB maior do que em dezembro de 2022. Não está claro como arrumaremos as contas públicas. Os três pontos de atenção do Copom também serão importantes para determinar a dinâmica da dívida pública.

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