A renúncia do ministro do Petróleo Tareck El Aissami e a detenção de mais de 20 funcionários do regime, além de juízes e prefeitos, acendeu o alerta de uma crise dentro da ditadura da Venezuela e alvoroçou a oposição, de olho na possível eleição presidencial de 2024.
Há hoje uma forte divisão interna no chavismo, e, com essa ação, Nicolás Maduro extirpou uma ala que vinha ameaçando seu poder.
A razão oficial para essa "faxina" é o suposto desaparecimento dos cofres da estatal petrolífera PDVSA de US$ 5 bilhões em 2022, que se somam a perdas de outros US$ 9 bilhões desde 2019. O motivo, diz o regime, seriam desvios e fraudes cometidos por esses funcionários.
Maduro anunciou que uma imensa força-tarefa estaria sendo mobilizada para investigar e punir os suspeitos desse roubo.
A PDVSA costumava ser uma das maiores produtoras de petróleo no mundo. Mas, desde que o chavismo tomou posse, num longínquo 1999, a estatal passou a ser operada por figuras de confiança e a produzir cada vez menos, endividar-se e ter sua produção desviada por corrupção.
Hoje, fruto de sanções dos Estados Unidos, a PDVSA só pode exportar petróleo por meio de empresas intermediárias. Ocorre que, segundo o respeitado portal de jornalismo investigativo Armando.info, que opera praticamente desde o exílio na Colômbia, ao menos três dessas grandes empresas de intermediação são fantasmas.
Suspeita-se que, por trás, estejam empresários amigos do chavismo, que devolveriam expressivas comissões aos homens fortes do poder.
Enquanto o regime adota a narrativa eleitoral de que está "limpando o país da corrupção", líderes opositores como Henrique Capriles e Juan Guaidó fazem o mesmo, só que batendo na tecla: se a empresa é gerida há quase 25 anos pelo chavismo, é ele o responsável pela deterioração da principal fonte de riqueza nacional —deterioração esta que agrava a crise humanitária em que vive a maior parte da população.
O agora ex-ministro Tareck El Aissami afirma que sua renúncia ocorre para facilitar as investigações e que continua um "revolucionário". Suas próximas ações, porém, devem ser acompanhadas passo a passo. Segundo Geoff Ramsey, diretor para a Venezuela da organização americana WOLA, voltada para América Latina, "se alguém sabe onde os mortos estão enterrados, esse alguém é El Aissami".
Há tempos no regime, antes como vice-presidente, chanceler, ministro da Justiça e governador, o político de 48 anos, de ascendência síria e libanesa, é também o construtor do elo estratégico da Venezuela com países como Irã e Turquia.
Maduro pode optar por mandá-lo à prisão, como já fez em outros supostos esquemas de corrupção na PDVSA, a exemplo do ex-ministro do Petróleo Nelson Martínez, que morreu atrás das grades, em 2018.
El Aissami, porém, é muito mais poderoso e cheio de contatos do que Martínez. Sem poder sair da Venezuela, já que é buscado pelos EUA por narcotráfico, ele pode negociar com Maduro ou coordenar uma célula antimadurista dentro do próprio chavismo.
A faxina na cúpula do regime pode renovar o chavismo e fortalecer Maduro em seu projeto de uma nova reeleição em 2024. Por outro lado, o tiro também pode sair pela culatra, pois abre um flanco para críticas e dá munição para a oposição realizar sua campanha.
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