Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tatiana Prazeres
Descrição de chapéu China

Xi Jinping fez política externa da China ser mais assertiva do que nunca

Dez anos de Xiplomacia revelam ambições de Pequim, mas embutem riscos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Neste ano, Xi Jinping completa uma década à frente do Partido Comunista Chinês. O período é marcado por uma mudança estrutural na ordem internacional, com a consolidação da China como superpotência.

Não surpreende que, nesse tempo, a política externa chinesa tenha também mudado. Pequim pretende ter, no plano internacional, a importância correspondente a de um país que avança para ser a primeira economia do mundo.

Para isso, as autoridades já vinham deixando para trás a orientação de Deng Xiaoping de que o país deveria manter um perfil baixo, esconder suas forças e ganhar tempo. Batizada de Xiplomacia pela imprensa oficial, a política externa de Xi é mais ativa e assertiva do que no passado. Revela as ambições dos chineses. E embute riscos.

O líder chinês, Xi Jinping, desembarca em Nursultan, no Cazaquistão - Divulgação Presidência do Cazaquistão - 14.set.22/Reuters

Sob esse líder, Pequim lançou a Iniciativa do Cinturão e Rota em 2013, um megaplano de investimentos mundo afora. Liderou a criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, em 2015. Mudou sua agenda climática para assumir compromissos de descarbonização. Praticou diplomacia da vacina durante a pandemia, fornecendo imunizantes e fortalecendo vínculos com o mundo em desenvolvimento. Expandiu sua presença na América Latina e na África. Modernizou as Forças Armadas e estabeleceu, no Djibuti, sua primeira base militar no exterior (os EUA têm aproximadamente 750). Viu seu programa espacial decolar, inclusive com uma estação própria. Na Guerra da Ucrânia, aproximou-se de Moscou, no que analistas chamaram de neutralidade pró-Rússia.

Nesse período, o país tornou-se a primeira potência comercial e a principal fonte de financiamento bilateral no mundo.

Dizem os críticos que, mais do que assertiva, a atuação externa da China é agressiva. Contribui para essa percepção não apenas o ativismo, mas também uma mudança de estilo, talvez temporária. Pequim revelou uma forma menos diplomática de fazer diplomacia, diante de críticas, por exemplo, sobre direitos humanos ou seu comportamento no início da pandemia.

Diplomacia do lobo guerreiro —assim foi batizada a atuação chinesa, ao ter substituído o proverbial tom conciliador por um muito mais combativo. Na Suécia, o embaixador disse que os amigos eram tratados com vinho fino e os inimigos, a tiros. A Austrália foi descrita, por um jornal ligado ao partido, como o chiclete que gruda no sapato da China.

Mais recentemente, Pequim parece ter recalibrado o tom. Ainda assim, segue valendo a orientação de não levar desaforo para casa. No Havaí, ao lado do secretário de Estado americano, o principal diplomata do país, Yang Jiechi, fez um longuíssimo discurso atacando a hipocrisia americana depois de ouvir palavras duras do seu anfitrião, no primeiro encontro entre os dois. Em política internacional, forma é conteúdo.

Na década sob Xi, o ambiente externo se tornou mais desafiador para Pequim —até mesmo hostil em alguns países. Em 2012, havia um equilíbrio entre visões negativas e positivas sobre a China entre os americanos. Hoje, 82% deles veem o país asiático de maneira desfavorável, segundo o Pew Research Center.

A política de engajamento construtivo, que vigorava nos EUA quando Xi assumiu o poder, ficou para os livros de história. Abriu-se um novo capítulo de rivalidade estratégica. Como potência ascendente, a China terá que lutar contra os índices de rejeição entre as potências estabelecidas. Enquanto isso, cultiva vínculos e alimenta boa vontade sobretudo no mundo em desenvolvimento.

Num documento comemorativo dos 70 anos da República Popular da China, em 2019, o partido falava em fazer uso da "sabedoria chinesa" para propor "ideias inovadoras para a governança global". O sucesso da Xiplomacia, de fato, requererá muita sabedoria.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.