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Sou do tempo em que Toblerone era suíço e se podia confiar nele

Marca vai perder status suíço porque sua controladora, Mondelez International, vai transferir produção para a Eslováquia

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Sou do tempo em que um Toblerone era um Toblerone. O Toblerone era o chocolate suíço para quem ainda não tinha idade para chocolates suíços.

Mas era suíço. Podia-se confiar nele. Se nos quisessem impingir uma das muitas imitações que havia – um Torricone ou um Tablettone–, podíamos invocar as Convenções de Genebra e aparecia imediatamente um São Bernardo com um Toblerone familiar preso à coleira, pronto para nos ressarcir.

Embalagem amarela de chocolate tem, em letras vermelhas, a palavra Toblerone; à frente, régua de chocolate com gomos em formato de triângulo
Embalagem de Toblerone com referência à Suiça e ao monte Matterhorn - Justin Sullivan/GettyImages/AFP

Agora já não é assim. Como conta Samuel Santos no PÚBLICO, os Toblerones já não são feitos em Berna e, como tal, já não podem ter um urso no rótulo. Ah, pois.

Os Toblerones também não podem continuar a descrever-se como "Of Switzerland", porque –como é que eu hei-de dizer isto?– são fabricados na Eslováquia.

Dirão os petizes que "chocolate eslovaco" não puxa tanto pelas glândulas salivares como "chocolate suíço". Mas, antes que rapem duma tablette Milka para adoçar a boca depois desta amargura, convém ter em mente que também a Milka é fabricada na velha Eslováquia chocolateira, sob o plácido olhar das icónicas vaquinhas eslovacas.

A verdade é que tanto a Toblerone como a Suchard pertencem à multinacional americana Mondelez, que até 2012 se chamava Kraft, nome daquele delicioso queijo que legalmente nem sequer se pode chamar queijo.

E não é só a Toblerone. Pensava que o chocolate da Cadbury era inglês? Não, é mondelês. E as pastilhas Halls? São inglesas? Não, são mondelesas. E o chocolate Green & Black? Esse é com certeza inglês. Não, é mondelês.

Turista tira foto do chocolate Toblerone em frente a montanha na Suiça
Turista tira foto do chocolate Toblerone em frente a montanha na Suiça - Denis Balibouse - 2.jun.2019/Reuters

E a Côte d’Or? É chocolate francês? Não, é mondelês. E o fermento Royal? Mondelês. E as bolachinhas Lu? E as Tuc? E as bolachas de água e sal da Jacob’s? É tudo mondelês, amiga.

Felizmente Johann Jakob Tobler já está morto desde 1905. Cabe-nos a nós, de espírito aberto, experimentar os Toblerones eslovacos e tentar esquecer os suíços, porque já não existem.

Ou não será melhor passar já para o bom chocolate declaradamente eslovaco, como o da Lyra?

Miguel Esteves Cardoso

É crítico, escritor e colunista do jornal português Público

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