Saiba como funciona a competição que premia os melhores queijos do mundo

Mundial de Tours, na França, avalia aparência, aroma, textura, sabor e equilíbrio

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Tours (França)

Tours é a cidade que abriga um dos dois principais concursos de queijos da França (e do mundo). A ideia do Mundial do Queijo de Tours, que encerrou sua sexta edição na semana passada, é celebrar a cultura em torno desse laticínio, elevado a uma forma de arte, com direito também a seus curadores.

Criado por Rodolphe Le Meunier, uma grife do queijo francês que se tornou um forte exportador de produtos artesanais, o evento é organizado com a Guilda Internacional dos Queijeiros. Ele reúne a cada dois anos produtores de dezenas de países e, neste agora, cerca de 1.600 produtos.

Queijos sendo curados no estande de Rodolphe Le Meunier no Mundial do Queijo de Tours
Queijos sendo curados no estande de Rodolphe Le Meunier no Mundial do Queijo de Tours - Alexandra Moraes/Folhapress

Le Meunier mesmo é um queijeiro premiado e um mestre-curador, o responsável por proporcionar ao produto as condições ideais para que exerça todo o seu potencial para o consumo.

Quando atinge esse grau de maturidade, determinado pelo curador, o queijo deixa seu descanso em alguma prateleira de temperatura e umidade controladas, é embalado e parte para sua vida como iguaria.

No dia a dia de Tours, os queijos de cabra disputam o estrelato com o charme da cidade e dos castelos do vale do rio Loire, como os de Chenonceau e Chambord. A competição, porém, enche um galpão de exposições com uma maioria de queijos de vaca que também vão disputar os títulos.

No calor do verão francês, os pedaços e rodas de laticínio sofrem como os demais mortais, portanto é preciso não demorar demais quando o concurso começa. Os mais frágeis deles ficam separados num espaço refrigerado.

O evento tem mesas de cerca de três metros de comprimento com cerca de 20 produtos em cada uma delas. Há também mesas dedicadas a iogurtes, manteigas e outros produtos processados, como telhas crocantes e cheesecakes.

Os jurados são os próprios produtores inscritos no concurso. Uns julgam os queijos dos outros, que ficam em bandejas identificados apenas por números, numa espécie de revisão dos pares do mundo queijeiro.

"São cinco categorias para avaliar: aparência, aroma, textura, sabor, equilíbrio", mostra Cadu Vidigal na planilha de pontuação. O mineiro veio ao concurso para representar a queijaria La Porta, de Belmiro Braga (MG), com a sócia Gabriela La Porta.

A dupla levou bronze com o queijo Belmiro Blu. Aqueles que conseguem um ouro nessa etapa vão adiante para a premiação final, em que um júri especializado faz a degustação e tira da mesa a lista dos 12 melhores do mundo.

Desta vez, o brasileiro que figurou na lista entre dez franceses e um suíço foi Fabrício Vieira, de Valença (RJ), com o queijo Caprinus do Lago.

A dedicação dos produtores é recompensada com o prestígio, a maior procura e, consequentemente, o aumento no valor do produto.

"O preço do queijo que ganha uma medalha no concurso vai aumentar em torno de 15% a 20%", diz Débora de Carvalho Pereira, parte do júri especializado no Mundial de Tours e líder da associação que representa produtores de 11 estados brasileiros. No Brasil, segundo ela, o incremento pode chegar a 200%."Realmente muda a vida dos produtores." A gente não tem interesse de vender na França, a gente não acha sustentável e a gente quer só valorizar ele no Brasil mesmo."

Na França, economia que gira apenas em torno dos queijos curados encosta nos 7 bilhões de euros.

A chegada dessa produção ao Brasil, porém, vem caindo. Em 2022, a França exportou 406 toneladas de queijos para o Brasil, ou 3,3 milhões de euros, ante 843 toneladas em 2021, ou 5,6 milhões de euros. O resultado 52% menor é atribuído a maiores dificuldades aduaneiras e sanitárias no Brasil.

"É o país mais difícil para vender queijo", diz Charles Duque, representante para as Américas do Cniel (Centro Nacional Interprofissional da Economia Leiteira), entidade que reúne os produtores de laticínio franceses.

A dificuldade é expressa também pelos produtores brasileiros. A comitiva da SerTãoBras incluía agentes governamentais e da vigilância sanitária de estados como Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Paraná, numa tentativa de turbinar também a educação queijeira no país.

"O governo precisa ter políticas públicas para que os produtores se legalizem", diz Débora sobre as restrições para fabricação e venda do produto. "Hoje não há fiscal suficiente, não tem carro suficiente, não tem cabeça aberta suficiente."

A próxima parada é em fevereiro de 2024, pouco antes dos Jogos Olímpicos de verão de Paris, quando o mundo do queijo também se reunirá na capital francesa para disputar mais uma corrida láctea.

A jornalista viajou a convite do Mundial do Queijo de Tours

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