É falso que MST tenha destruído estação de energia no Amapá

Vídeo que viralizou nas redes é de 2017 e mostra protesto de agricultores na Bahia, sem ligação com o movimento

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São Paulo

É falso o vídeo que circula em diversos grupos no Facebook e no Twitter afirmando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é responsável pelo apagão que ocorreu no Amapá, no mês passado. A gravação, verificada pelo Comprova, mostra um grupo de pessoas destruindo postes de energia em um lugar indefinido e traz como legenda: “Militantes do MST destruindo uma estação de transmissão no Amapá. Isso a mídia podre não mostra”. Não é verdade. Como mostrou reportagem da Globo, essas imagens são de 2017, quando um grupo de agricultores invadiu uma fazenda em Correntina, na Bahia, para protestar contra obras de irrigação que reduziram o nível de um rio da região –eles não são ligados ao MST.

Imagem feita à noite, bem escura, mostra frente de uma casa ou comércio com pessoas com uma micro fonte de luz (vela, talvez, não é possível identificar)
Moradores de Macapá em uma das noites de apagão - Rudja Santos - 7.nov.2020/Amazônia Real

As causas do apagão, que se iniciou com um incêndio durante uma tempestade, ainda estão sendo investigadas, mas segundo o que o governo do Amapá, o vídeo não foi feito no estado e “não se tem nenhuma evidência de envolvimento do MST no apagão; trata-se de uma fake news”.

Também contatado pela reportagem, o MST disse que as acusações são infundadas e que “essas pessoas e esse tipo de ataque não têm nenhuma relação com o movimento”.

Vídeo antigo

A gravação da postagem verificada é do início de novembro de 2017, conforme mostrou uma busca na ferramenta InVID, que trouxe uma reportagem do G1 sobre um protesto de agricultores em uma fazenda da empresa Lavoura e Pecuária Igarashi Ltda., em Correntina, na Bahia.

Os agricultores invadiram a propriedade em um ato contra obras de irrigação que reduziram o nível da água do rio Arrojado e, de acordo com o delegado ouvido na época pelo G1, eram ligados a “pequenas associações existentes nos povoados ao longo do Arrojado”. Ou seja, a derrubada dos postes de energia mostrada no vídeo não contou com a participação do MST e nada tem a ver com o recente apagão no Amapá.

Os autores

O vídeo da derrubada de postes na Bahia voltou a circular nas redes sociais no dia 26 de novembro de 2020, desta vez com o texto sugerindo que se tratava de um ato de vandalismo de membros do MST no Amapá. Segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle, houve 110 postagens do vídeo em páginas e grupos do Facebook até o fim da tarde de 30 de novembro, com um total de 1,7 mil reações.

As postagens aparecem em grupos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a figuras ligadas ao governo federal como o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Das 110 postagens identificadas na plataforma, 45 foram em grupos que tinham no nome menções a Bolsonaro ou ao grupo político Aliança pelo Brasil.

Em pesquisa no próprio Facebook, aparecem ainda 80 publicações do vídeo feitas em perfis pessoais. As duas postagens com maior alcance apresentam no campo de busca um total de 3 mil e 2,7 mil visualizações, respectivamente.

Os vídeos foram publicados também no Twitter, onde houve 47 publicações nos últimos sete dias de novembro, segundo o CrowdTangle.

O Comprova tentou contato com alguns dos perfis que compartilharam esses vídeos com a afirmação de que se trataria de um ato do MST, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Verificação?

Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal, com a pandemia e com as eleições municipais.

É o caso das várias publicações deste vídeo nas redes sociais, que registrava 110 postagens e 1,7 mil reações no Facebook até o dia 30 de novembro. A falsa relação feita entre o vídeo filmado na Bahia em 2017 e uma suposta participação do MST no apagão do Amapá pode confundir a opinião pública sobre as causas do blecaute que deixou o Estado por mais de 20 dias com comprometimento no serviço de energia elétrica. Também pode reduzir a atenção à identificação de fragilidades no sistema de abastecimento do estado a fim de evitar repetições do mesmo problema.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha, NSC e Favela em Pauta e publicada na quarta-feira (2) pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 28 veículos na checagem de conteúdos sobre coronavírus e políticas públicas. Foi verificada por UOL, GZH, O Povo e Correio.

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