Descrição de chapéu violência

Ao defender mortes pela PM, Tarcísio repete discurso linha-dura de antecessores; relembre

Governador de SP diz que não tomou conhecimento de abusos em Guarujá, mas que eventuais excessos serão investigados e punidos

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São Paulo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), defendeu novamente nesta terça (1º) a megaoperação policial em andamento na Baixada Santista, iniciada em reação ao assassinato de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, força de elite da PM paulista) na semana passada.

"Não existe combate ao crime organizado sem efeito colateral ", disse o governador, negando excessos na ação da PM, que já deixou 14 mortos e se tornou a segunda mais letal da história da corporação –atrás apenas do massacre do Carandiru, com 111 vítimas.

"O que nós temos de relato até agora, e isso será investigado, é que os policiais foram recebidos a bala e reagiram. Uma reação que nós não desejamos. Agora, se tiver confronto, vai ter reação. A polícia tá lá para isso. Ela não pode se acovardar", afirmou o governador, que um dia antes se disse "extremamente satisfeito" com o andamento da operação.

A atuação dos agentes de segurança será investigada pelo Ministério Público de São Paulo.

Movimentação de policiais militares do Baep na Vila Baiana, em Guarujá, onde suspeito foi morto por policiais. - Danilo Verpa/Folhapress

A fala de Tarcísio em defesa da corporação está alinhada com o discurso de antecessores, que também defenderam ações letais da PM.

"Quem não reagiu está vivo", disse o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) em 2012, após policiais da Rota matarem nove suspeitos em ação na cidade de Várzea Paulista, no interior do estado –na época, Alckmin ainda era filiado ao PSDB.

Na ocasião, cerca de 40 policiais se envolveram em perseguição e troca de tiros com grupo suspeito de integrar tribunal do crime. Cinco pessoas foram presas e nenhum policial se feriu.

Em 2003, também na condição de governador de São Paulo, Alckmin defendeu policiais envolvidos da chamada Operação Castelinho, na época a segunda mais letal da PM paulista e alvo de julgamento na Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Investigações da Promotoria comprovaram que a ação foi forjada por agentes estatais com o objetivo de executar 12 suspeitos de integrar o crime organizado. Uma perícia realizada na época indicou que as vítimas não trocaram tiros com a polícia. Ainda assim, o então governador considerou que a PM "agiu corretamente".

Mais recentemente, em 2018, o ex-governador Márcio França (PSB) contrariou esforço do comando da PM na redução da letalidade policial no estado ao homenagear a cabo Katia Sastre, que matou ladrão durante tentativa de roubo.

"As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser", disse França na ocasião.

No ano seguinte, o sucessor no governo João Doria, atualmente sem partido mas à época no PSDB, também homenageou policiais militares envolvidos em confronto com mortes. "Ao reagir e colocar em risco a vida dos policiais, quem vai para o cemitério é bandido", disse Doria sobre a morte de 11 criminosos durante tentativa de assalto a banco em Guararema, na Grande São Paulo.

Durante a gestão de Doria, as mortes em decorrência de intervenções policiais registraram consecutivas altas. Eleito com discurso linha-dura, o ex-governador mudou de postura após ação policial que levou à morte nove jovens na favela de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista.

Em agosto de 2020, teve início a implementação do programa de câmeras corporais nas fardas de agentes, política que fez despencar as mortes provocadas por policiais nos últimos anos.

Em maio do passado, Rodrigo Garcia (PSDB), logo após assumir o governo, quando Doria deixou o cargo em sua tentativa frustrada de se candidatar à presidência da República, disse que "bandido que levantar arma para polícia vai levar bala".

A declaração de Garcia foi feita durante um evento para anunciar aumento de efetivo de policiais militares nas ruas.

O programa Olho Vivo foi criticado por Tarcísio de Freitas durante a campanha eleitoral de 2022. O então candidato chegou a afirmar que a política passaria por revisões, mas recuou após críticas.

Os primeiros meses da atual gestão no Palácio dos Bandeirantes têm sido marcados por nova escalada na letalidade da PM, e parlamentares da base do governador pressionam pela retirada das câmeras de fardamentos.

Nesta terça, durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio disse que a gestão tem sido transparente na condução da operação, e que as imagens das câmeras corporais dos agentes serão utilizadas para investigar eventuais abusos. "A gente não vai se furtar a investigar nada. Se houver excesso, se houver falha, nos vamos punir os responsáveis", disse.

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