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Psiquiatras nos EUA prescrevem Wegovy para combater ganho de peso decorrente de medicamentos

Caneta emagrecedora é receitada para pacientes que engordam após uso de antipsicóticos e estabilizadores de humor

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Elissa Welle
REUTERS

Cada vez mais psiquiatras nos Estados Unidos estão prescrevendo o medicamento para perda de peso Wegovy para pacientes que engordam devido a medicamentos usados para tratar desordens mentais, como esquizofrenia ou transtorno bipolar, segundo entrevistas conduzidas pela Reuters com dez entidades médicas em todo o país.

Muitos antipsicóticos e estabilizadores de humor podem resultar em ganho de peso significativo e contribuir para diabetes e doença cardíaca, a principal causa de morte entre adultos com esquizofrenia.

Com a complicação adicional de outros fatores, como a insuficiência de alimentação saudável e atividade física, mais da metade dos pacientes com transtorno bipolar e esquizofrenia apresentam sobrepeso ou são obesos.

O Wegovy, da Novo Nordisk, é autoinjetado uma vez por semana e ajuda pacientes a perder cerca de 15% de seu peso corporal, o que o torna o tratamento mais eficiente disponível.

Canetas para autoaplicação do medicamento Wegovy - Jim Vondruska/Reuters

"[O Wegovy] vem sendo um acréscimo realmente bem-vindo para pessoas que sofreram ganho importante de peso em decorrência de antipsicóticos atípicos e que vêm se esforçando ao máximo para superar esse problema", disse Joseph Goldberg, professor de psiquiatria na Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York.

O Wegovy foi aprovado nos EUA como tratamento da obesidade em junho de 2021, e ainda neste ano deve ser autorizado o Mounjaro, medicamento semelhante produzido pela Eli Lilly. Também há novos produtos rivais em desenvolvimento.

O mercado global para medicamentos emagrecedores está previsto para chegar a até US$100 bilhões nos próximos dez anos.

Mas a melhor utilização desses medicamentos em pacientes com diagnósticos psiquiátricos está apenas começando a ser entendida.

Além de desordens graves de saúde mental, outros pacientes com obesidade tendem a sofrer de problemas de saúde mental como depressão e ansiedade em níveis mais altos que a população geral, revelam estudos.

Os ensaios clínicos do Wegovy, que integra uma classe de medicamentos conhecida como agonistas dos receptores de GLP-1 que nasceram como medicamentos antidiabéticos, excluíram pacientes com problemas psiquiátricos. Essa é uma prática comum no desenvolvimento de fármacos.

A Food and Drug Administration (FDA, agência americana que regula alimentos e medicamentos) alertou aos médicos para a necessidade de monitorar pacientes que tomam o medicamento para checar o surgimento de depressão ou pensamentos suicidas. Órgãos reguladores na Europa estão investigando várias notificações sobre pacientes que tiveram ideações suicidas depois de começar a usar Wegovy.

A Novo Nordisk não comentou sobre o uso de Wegovy entre pacientes psiquiátricos, mas seus dados de segurança não apontam para uma ligação entre o fármaco e ideações suicidas.

A empresa farmacêutica dinamarquesa "monitora continuamente os dados de ensaios clínicos em curso e do uso de seus produtos no mundo real", disse em email uma porta-voz da companhia, Natalia Salomão.

PACIENTES PERDERAM PESO E GANHARAM AUTOCONFIANÇA

Psiquiatras entrevistados pela Reuters disseram que já estão atentos para o risco de suicídio entre seus pacientes e que têm experiência em monitorá-los cuidadosamente para avaliar sinais de sofrimento sempre que receitam um novo medicamento.

Dost Ongur, diretor da divisão de transtornos psicóticos do Hospital Mass General Brigham McLean, em Boston, disse que o uso de medicamentos agonistas do GLP-1 para pacientes psiquiátricos vem aumentando tanto que ele está pensando em redigir um guia para seus profissionais sobre a abordagem padrão a ser seguida ao prescrevê-los.

Mas psiquiatras especializados em transtornos alimentares receiam que fármacos como o Wegovy, por serem tão eficazes, possam exacerbar a atenção excessiva dos pacientes sobre a perda de peso.

Um bom candidato a usar Wegovy seria um paciente que é capaz de se autoadministrar o medicamento, ou que pode ser supervisionado quando o faz, e está ansioso para adotar um estilo de vida saudável, disse o psiquiatra K. N. Roy Chengappa, do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh.

O nova-iorquino Alexander Roger, 23, recebeu o diagnóstico de transtorno bipolar quando tinha 10 anos. Em fevereiro o estudante da Universidade Fordham começou a usar Wegovy, receitado para ele graças a uma colaboração entre seu endocrinologista e seu psiquiatra, para combater o persistente ganho de peso provocado por lítio e outros estabilizadores de humor.

"Quando você está usando medicamentos psiquiátricos, sente tanta fome que devora o que estiver disponível", comentou Roger.

Ele disse que nos últimos seis meses perdeu 13,6 kg e ganhou autoconfiança e energia. Mas está tendo dificuldade em obter Wegovy da farmácia, uma experiência comum a pacientes em todo o país, devido à dificuldade da Novo Nordisk em atender à demanda crescente. Alguns psiquiatras disseram que o convênio médico de seus pacientes não aprovou o pagamento do medicamento. Nesses casos eles disseram que vão encaminhar os pacientes para um endocrinologista, um profissional especializado em trabalhar com diabetes e obesidade.

De modo mais geral, os planos de saúde estão adotando restrições ao uso de Wegovy, que custa US$ 1.350 por mês, e outros fármacos para perda de peso, devido ao aumento de seus custos relacionados.

O endocrinologista Michael Weintraub, da NYU Langone Health, disse que idealmente os psiquiatras devem trabalhar com endocrinologistas, porque medicamentos para perda de peso requerem acompanhamento cuidadoso não relacionado a problemas de saúde mental.

Outros dizem que o próximo passo pode ser oferecer esses medicamentos muito antes de o paciente ganhar peso significativo devido aos antipsicóticos.

"Esperar até o paciente ter ganho 25 quilos e desenvolvido diabetes não o beneficia", disse Ongur, do hospital McLean.

Tradução de Clara Allain

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