Navio-hospital é ativo raro e de eficácia limitada na pandemia

EUA anunciaram que vão ancorar uma embarcação em NY e outra na costa oeste do país

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São Paulo

O uso de navios-hospitais para auxiliar as regiões sobrecarregadas com o atendimento aos pacientes com Covid-19, anunciado pelos Estados Unidos, é uma medida de implementação difícil e eficácia limitada.

O navio-hospital USNS Comfort durante a operação de amparo ao Haiti após o terremoto de 2010
O navio-hospital USNS Comfort durante a operação de amparo ao Haiti após o terremoto de 2010 - Chelsea Kennedy - 20.jan.2010/Marinha dos EUA/Reuters

O presidente Donald Trump determinou que os dois navios-hospitais da Marinha dos EUA, o Comfort e o Mercy, sejam deslocados respectivamente para Nova York e para pontos ainda a definir na costa oeste do país. Cada um tem cerca de mil leitos.

A ideia é desafogar o sistema de saúde local, sobrecarregado antes do pico da doença. São mais de 2.300 casos de Covid-19 no estado de Nova York, e o governador Andrew Cuomo estima que sejam necessários mais 50 mil leitos para a emergência em curso —30 mil deles de UTI.

É um paliativo, portanto, para receber pacientes com outras enfermidades. Os navios americanos levam 956 médicos navais cada, além da tripulação, mas não estão preparados para atender casos infecciosos graves em larga escala.

Navios-hospitais são itens caros e raros, destinados a dar suporte a missões de guerra e emergências sanitárias. O Comfort, por exemplo, foi enviado para apoiar as vítimas do terremoto que devastou o Haiti em 2010, deixando 200 mil mortos.

Apenas oito países do mundo os têm de forma dedicada, com grandes diferenças de modelos.

O Brasil, por exemplo, tem cinco embarcações que atuam em regiões ribeirinhas, duas delas da classe Oswaldo Cruz, que opera na bacia amazônica. Em muitas áreas atingidas, são a única coisa parecida com um hospital que os moradores à beira-rio têm acesso.

Mas são navios pequenos (47 metros de comprimento e 360 toneladas de deslocamento, ante os 272 metros e 70 mil toneladas dos americanos), com enfermarias com seis leitos e clínicas restritas, para atendimento pontual. Podem fazer atendimentos emergenciais, mas não internações.

No caso de um descontrole da situação, países como os EUA ainda podem lançar mão dos hospitais a bordo de vários de seus grandes navios de guerra. Cada 1 dos 10 porta-aviões de propulsão nuclear da classe Nimitz, por exemplo, é equipado com clínicas, centros cirúrgicos, laboratórios e 53 leitos, mais 3 de UTI. Os navios de assalto franceses da classe Mistral têm 69 leitos, e 7 de UTI.

Ainda assim, o apoio de embarcações é mais psicológico no caso de uma escalada da pandemia, além de esbarrar em considerações práticas.

O Ministério da Saúde informou nesta semana que um navio de cruzeiro estaria disponível para o Rio de Janeiro, por exemplo, mas apenas se o estado pudesse equipar as mil cabines com o grau de segurança necessário para receber pacientes atingidos pelo novo coronavírus.

Como a saúde estadual está em estado pré-falimentar, com falta de insumos básicos, é uma especulação fantasiosa em grande medida. Além disso, mesmo que houvesse o recurso, há considerações sanitárias.

O trato de rejeitos como esgoto é muito mais complexo num navio do que, por exemplo, se o estado decidisse utilizar hotéis fechados —com a vantagem de que o ambiente é menos confinado, reduzindo relativamente a exposição dos profissionais da saúde à doença.

Já outra ideia ventilada, a de transformar cruzeiros em centros de quarentena para doentes com sintomas leves, sem necessidade de apoio especializado e mecanismos como ventiladores pulmonares, soa menos complicada na prática.

Segundo a estimativa inicial do governo paulista, analisando os casos de infecção no estado, 15% deles precisaram de internação e 5%, de terapia intensiva.

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