Descrição de chapéu Coronavírus

Em 24h, Brasil registra mais de 2.300 mortes por Covid, maior marca da pandemia

Pela primeira vez país supera 2.000 mortos pela doença em um só dia; inédito, salto sobre recorde anterior é de 20%

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São Paulo

Pela primeira vez desde o registro da primeira morte decorrente da Covid-19 no país, o Brasil superou a marca dos 2.000 mortos pela doença em um só dia. E superou com larga margem: nas 24h até a noite desta quarta-feira (10), 2.349 brasileiros perderam a vida para a doença. Ou seja: a cada 5 minutos, 8 brasileiros foram mortos pelo novo coronavírus.

O aumento do número diário de mortos é tão veloz que representa um salto de 20% sobre o ápice anterior —as 1.954 mortes registrados na véspera.

Os dados do Distrito Federal não foram divulgados nesta quarta. Com isso, os mortos em um ano de pandemia no Brasil somam 270.917.

Em um ano desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarava que a Covid-19 era uma pandemia, em 11 de março de 2020, o país saltou de uma posição retardatária na doença (quando matou pela primeira vez por aqui a Covid já devastava a Europa) para a de altos números e relativo controle e, agora, uma sequência aterrorizante de recordes de mortes e média móvel de registro de casos. Pior, sem sinalização de um horizonte vacinal nem medidas sanitárias que possam conter a situação.

Pressionadas, UTIs colpasam de norte a sul do país.

O desolador padrão de números excepcionais também se repete na média móvel de óbitos dos últimos sete dias, um instrumento estatístico que busca amenizar grande variações nos dados (como costumam ocorrer nos finais de semana e feriado). Nesta, quarta-feira (10), a média chegou ao assustador número de 1.645.

Agora já são 12 dias seguidos da média batendo recordes, além de 49 dias com ela acima das 1.000 mortes diárias.

O país também registrou 80.955 novos casos nesta quarta, acumulando 11.205.972 de infecções confirmadas desde 25 de fevereiro.

A crise acentuada em nível nacional também encontra reflexo nos estados: sete tiveram recorde de média móvel de mortes. São eles: Bahia, Goiás, Rondônia, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul —esses dois últimos também tiveram recorde de média móvel de casos.

Os corpos se acumulam no Brasil de tal forma que a situação, inimaginável até pouco tempo atrás, parece ter sido normalizada, ao ponto de as máscaras (arma relativamente simples contra o Sars-CoV-2) serem deixadas de lado a qualquer chance, inclusive por autoridades, como o presidente Jair Bolsonaro, e de pessoas protestarem contra medidas restritivas de distanciamento social (outra arma encontrada e já conhecida antes da pandemia atual).

Ao mesmo tempo em que a vida parece correr normal para parte da população em meio às mortes, as UTIs brasileiras de todas as regiões apresentam, ao mesmo tempo, níveis alarmantes de ocupação.

Em São Paulo, que possui a maior rede hospitalar do país, o sistema vê a aproximação do risco de um colapso, com as taxa de ocupação atual em mais de 80% no estado, que teve recorde de mortes na terça —517 vidas perdidas e 469 nesta quarta. Cidades grandes do interior, inclusive Campinas, têm seus hospitais lotados. Nesta semana, ao menos 11 pessoas morreram em Taboão da Serra, na Grande SP, à espera de transferência.

Se tragédias que acontecem em um momento isolado costumam chamar a atenção, vale uma comparação. Afinal, o que significam as mais de 2.000 pessoas que morreram nesta quarta?

As mortes registradas nesta quarta, 2.349, são um múltiplo de diversas tragédias no país: nove vezes o número de mortos no rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), em 2019 (259). Mais de dez vezes os 242 mortos no incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013, e quase 12 vezes o número de vítimas do acidente do voo 3054 da Tam, em São Paulo (SP), que matou 199 pessoas em 2007.

A situação atual brasileira é grave ao ponto de a Fiocruz, em uma nota técnica extraordinária, ter afirmado que a conjuntura de fatores —como números de casos, mortes, sobrecarga de hospitais e positividade de testes— aponta dados preocupantes, mas "que são somente a 'ponta do iceberg'".

O agravamento da pandemia no país aparenta ter começado já no fim do ano passado, com maior movimentação e encontros de pessoas, que acabavam por desrespeitar regras de distanciamento social e uso de máscaras, reuniões de Natal e Ano-Novo e a circulação de novas variantes mais contagiosas e, dessa forma, com potencial de provocar mais mortes.

As variantes também circulam por outros países, mas a ação de contenção —e mesmo de monitoramento de mutações no Sars-CoV-2— difere em relação ao visto no Brasil. O Reino Unido, por exemplo, ao perceber o alastramento e início de predomínio da variante B.1.1.7 observada inicialmente no país, tomou ações restritivas drásticas que culminaram em um lockdown.

No Brasil, com recorde após recorde, as ações e afirmações federais não refletem a gravidade da situação.

“Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”, afirmou Bolsonaro, no último dia 4, em São Simão (GO).

Na véspera, o país tinha registrado 1.840 mortes por Covid-19 em 24 horas, então um recorde.

Além disso, mais uma vez o país aparece na contramão de outras nações —que têm visto os casos e mortes por Covid caindo— têm avançado de modo mais veloz do que o Brasil com a vacinação. Os EUA chegam a aplicar milhões de doses de vacina em um único dia. No Brasil, a realidade tem sido de poucas centenas de milhares de doses por dia.

Nesta quarta, por exemplo, foram 468.725 doses, de acordo com dados do consórcio de imprensa atualizados a partir de secretarias estaduais de saúde de 23 estados e do Distrito Federal.

Desde o início da vacinação no fim de janeiro, o Brasil aplicou 12.179.828 de doses de vacinas. Considerando somente os maiores de 18 anos que receberam a segunda dose, só 1,97% dos elegíveis para a imunização a receberam de fato.

Uma das razões da lentidão é a falta de vacinas para aplicar, o que, inclusive, resultou em paralisações nas vacinações pelo país. Só estão disponíveis no momento para aplicação no Brasil dois imunizantes: a Coronavac, do Butantan e da farmacêutica Sinovac, e a Covishield, imunizante da Fiocruz desenvolvido pela parceria entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca.

A vacina da Pfizer tem o registro definitivo da Anvisa, mas ainda não está disponível no país. A farmacêutica começou a tentar contato com o governo Bolsonaro para disponibilização de vacinas (já a partir de dezembro de 2020) em 14 de agosto. As tentativas da empresa não tiveram sucesso e o Brasil acabou ficando para trás na fila mundial da vacina.

Somente em 2021 o governo voltou a correr atrás de mais doses, buscando acordos também com a Janssen e Moderna.

Cientistas há muito tempo alertavam que a única saída da pandemia provavelmente seriam vacinas. Enquanto isso, Bolsonaro, seus ministros e apoiadores apostavam —e continuam apostando— e indicavam drogas que se mostram ineficazes contra a Covid-19, como cloroquina, azitromicina, ivermectina e nitazoxanida.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado de início, a média móvel de mortes está em patamar acima de 1.000 há 49 dias seguidos, não 48. O texto foi corrigido.

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