Descrição de chapéu Vôlei de praia

Isabel deixou filhas de luta no vôlei e em todo canto

Engajada e ousada, atleta inspirou mulheres e se tornou eterna

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Renata Mendonça

Jornalista, comenta na TV Globo e é cofundadora do canal Dibradoras. Na Folha, assina coluna semanal sobre esportes.

Há muitos clichês quando tentamos falar sobre morte. Talvez o maior deles seja que representa o fim de tudo. Morreu, acabou, sumiu, esqueceu, sucumbiu. Mas há aqueles que, de tão grandiosos neste plano, fazem da morte sinônimo de vida, de eternidade. Aqueles que não permitem que seus verbos sejam conjugados no passado, pois são presentes, são presença até na ausência física. Assim é Isabel Salgado. Ou, simplesmente, Isabel do vôlei.

E este texto, afinal, não é para falar sobre morte. Há vida após. Para Isabel, sempre haverá. A mulher que pavimentou os caminhos vitoriosos do vôlei feminino de quadra e de praia no Brasil deixou cinco filhos biológicos. E eu não saberia contabilizar quantas somos nós, as filhas de Isabel em todos os cantos deste país —filhas de luta.

Numa sociedade que insiste em nos dizer como temos que nos comportar, como temos que nos vestir, o que devemos ser, onde devemos pisar… Isabel mostrou que não. Não são os outros que vão nos moldar. A bela, recatada, do lar, idealizada pelos costumes de um passado que, na época dela, era presente, virou bela, ousada, da quadra, do esporte, da política, da luta.

Haveria ousadia maior que aparecer grávida para treinar, jogar, disputar campeonatos, enquanto a sociedade tentava aprisionar os corpos das mulheres e determinar os lugares a que eles pertenciam (nos limites da casa, da cozinha, dos afazeres domésticos/maternos)? Isabel nos mostrou que liberdade de vida é nossa liberdade de luta, e dela não vamos fugir, nem abdicar.

Aquela que herdou seu sangue, Carol Solberg, também herdou sua luta quando teve seus dois filhos sem parar de jogar e buscando condições mínimas para seguir a carreira no vôlei de praia sem abrir mão de ser mãe.

Jogadora, treinadora, pioneira, inspiradora, exemplo. Toda mulher que ousou desafiar o status quo do esporte —que sempre exaltou homens como campeões e mulheres como musas— é hoje uma "filha de Isabel".

Fabi Alvim, bicampeã olímpica, feminista, ativista LGBT, filha de Isabel. Joanna Maranhão, ex-nadadora e atleta olímpica, feminista, voz ativa contra uma gestão corrupta no esporte brasileiro, filha de Isabel. Aline Silva, vice-campeã mundial da luta olímpica, mulher preta que busca abrir caminhos para que outras como ela também tenham a chance de chegar mais longe, filha de Isabel.

Nós, mulheres do esporte, que lutamos por espaço num meio tão machista, misógino, racista e lgbtfóbico, filhas de Isabel. Não há morte real para quem deixa um legado eternizado. Isabel eterna.

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