Descrição de chapéu Gal Costa

Gal e Preto: uma história de amor e parceria

Produtor musical, que foi garçom e repórter da Ilustrada, só queria uma entrevista com a cantora

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Teté Ribeiro
Teté Ribeiro

Jornalista, autora de "Minhas Duas Meninas", "Divas Abandonadas" e de dois guias de Nova York. Foi apresentadora do programa “Saia Justa” e editora da revista Serafina.

São Paulo

Era setembro de 2013. O jornalista Marcus Preto, hoje aos 49, tinha acabado de sair da Folha, onde cobria música brasileira, e procurava um novo trabalho para dedicar a energia aparentemente infinita que tem.

Ele soube que o cineasta brasileiro Leon Hirszman (1937-1987) tinha filmagens do show histórico de Gal Costa, "A Todo Vapor", de 1971, que posteriormente virou o álbum "Fa-Tal". Preto queria ver o material e planejava fazer um documentário sobre o que aconteceu com a cantora de quando Caetano Veloso e Gilberto Gil foram exilados pela ditadura militar, em 1969, até o dia em que voltaram ao Brasil, em 1971.

Uma mulher, de cabelos negros, sentada, segura o rosto de um homem junto ao seu. ele tem cabelos castanhos curtos e usa óculos de aro de metal. ambos sorriem
A cantora Gal Costa com o produtor musical e jornalista Marcus Preto - Carol Siqueira/Divulgação

"Tudo aconteceu nesses três anos", diz Preto. "O show e o álbum ‘Fa-Tal’, um dos maiores marcos da carreira dela. As dunas do barato, ou dunas da Gal, são dessa época também", conta, referindo-se a um pedaço da praia de Ipanema, no Rio, que era um oásis da contracultura brasileira, com gente jovem e bronzeada botando na prática a paz e o amor do movimento hippie.

Depois de muitas tentativas, Preto conseguiu marcar uma entrevista com Gal, na casa dela, em São Paulo. E ela desmarcou. Marcou de novo, ela desmarcou mais uma vez. "Aconteceu tantas vezes que uma hora eu passei a marcar de ir ao cinema com meus amigos no mesmo horário", lembra. Até que, uma tarde, teve que desmarcar o cinema com os amigos. Gal decidiu recebê-lo.

"Ela adorou a ideia do documentário. Quando terminei a entrevista, levantei para ir embora e ela disse: ‘Olha esse paulista, só pensa em trabalho, acaba o trabalho e já quer ir embora’", contou Preto. Ele sentou de novo ao lado da cantora, e os dois passaram o resto da tarde conversando, da escola do filho dela, da novela das 21h, do celular que tinha acabado de comprar.

Preto a indagou sobre o plano para o novo disco. "Ela disse que não podia contar, mas tava louca pra contar", lembra. E, quando ela revelou que pretendia fazer versões em português de músicas do Chet Baker, ele teve uma reação quase impensável para um repórter entrevistando um ícone da música.

"Quase gritei ‘você não pode fazer isso, pelo amor de Deus’", lembra. Ele achou a ideia careta e antiquada. "Sugeri que ela fizesse uma coisa totalmente diferente, com compositores mais jovens. E ela respondeu: ‘Então, você vai ter que trabalhar’."

Preto foi encontrar Gal com o plano de fazer um documentário e saiu de lá com a missão de produzir um disco. A parceria começou já no ano seguinte, com o show "Espelho D’Água".

"Estratosférica", o primeiro álbum de Gal com Marcus Preto, veio em 2015. Tem músicas de Mallu Magalhães, Céu, Zeca Veloso, Thalma de Freitas, Jonas Sá, Lira, Tom Zé e a primeira parceria entre Criolo e Milton Nascimento. Preto ganhou o prêmio APCA de produção e direção artística em 2015, na categoria popular, pelo trabalho.

Juntos, Gal e Preto fizeram seis espetáculos, três álbuns de estúdio e três ao vivo. Passaram nove anos convivendo quase diariamente. "Até o último dia", diz Preto.

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