Rolando Boldrin viu o Brasil pelo que tem de mais belo

'Ator que canta' deixou legado amplo de preservação da cultura nacional

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Sérgio Martins

jornalista, crítico musical e curador artístico

O cantor, violeiro, compositor, ator e apresentador Rolando Boldrin nasceu a 22 de outubro de 1936, dois anos antes da missão de pesquisa folclórica de Mário de Andrade, que viajou o Brasil registrando manifestações populares. Boldrin deu, à sua maneira, continuidade àquele trabalho pioneiro do intelectual paulistano. Dedicou-se à pesquisa, ao estudo e divulgação da cultura popular através de programas de televisão, além de discos e livros em mais de cinco décadas de atividade artística. Morto no dia 9 de novembro, aos 86 anos, deixa como legado uma visão grandiosa do que o país tem de mais precioso em sua cultura.

"É muita palha, muita história... Uma vida fazendo só o que a gente gosta e acredita’, disse Boldrin em "Eu, a Viola e Deus", documentário que o cineasta João Batista de Andrade fez para comemorar os 85 anos do artista. Nascido em São Joaquim da Barra (a 741 km de São Paulo), Boldrin se encantou pelo cancioneiro de duplas como Alvarenga & Ranchinho.

Seu pai, admirador de música e de filmes de faroeste, incentivou Rolando e o irmão, Leili, a se aventurarem pelo cancioneiro caipira. Nascia então Boy & Formiga, que tinha também como inspiração os caubóis do cinema e o cancioneiro de Bob Nelson, que interpretava canções no estilo tirolês (que a cultura popular adaptou para "tiroleite").

Boldrin tinha 16 anos quando partiu para São Paulo, em busca de oportunidades profissionais, que surgiram inicialmente no rádio e no teatro: integrou os grupos Oficina e o Teatro de Arena.

Envolveu-se com a televisão, participando de teleteatros e novelas. Um dos momentos mais marcantes desse período foi em "Mulheres de Areia", na TV Tupi. Era ele quem matava a tiros Raquel, a perversa irmã gêmea de Ruth (ambas interpretadas por Eva Wilma) na primeira versão da trama de Ivani Ribeiro. Mas nunca deixou a música de lado: "O Cantadô", seu disco de estreia, foi lançado em 1974.

Som Brasil, que estreou na Globo em agosto de 1981, foi onde pôde exercitar seus talentos como ator, cantador e contador de causos. "Sou um ator que canta, compõe e escreve", declarou certa vez. A canção de abertura, "Vide Vida Marvada", acabou por se tornar sua marca registrada. As atrações iam de astros de alta patente da MPB, como Milton Nascimento e Gilberto Gil, a nomes da cultura popular como Patativa do Assaré e Elomar. Som Brasil chegou a ter duas horas de duração na programação da Globo nas manhãs de domingo.

Boldrin saiu da apresentação do Som Brasil em 1984 e levou o formato para a Bandeirantes e posteriormente para a TV Cultura. Ali, criou o Sr. Brasil, que apresentou até seus dias finais, totalizando 17 anos de atividades

Tinha parcerias até com o sambista Adoniran Barbosa. Com este, aliás, compôs "Três Heróis", canção que permaneceu inédita até ser registrada pelo grupo carioca Casuarina, em 2022. Que saudades de um cateretê de Rolando Boldrin...

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