Folha
recupera na Holanda, em Portugal e no Brasil a
história documentada do maior herói negro do
país
Zumbi
do Brasil
MARILENE
FELINTO
Enviada especial a Amsterdã (Holanda)
CLEUSA TURRA
Secretária-assistente de Redação
Em busca de elementos que dessem rosto ao simples nome de
Zumbi (1655-1695), líder negro da heróica resistência
do Quilombo de Palmares, a Folha percorreu os caminhos da
pesquisa histórica sobre o assunto, dentro e fora do
Brasil.
Sobre a vida de Zumbi, sabe-se pouco. Nasceu em Palmares e
foi capturado e criado por um padre português até
a adolescência, quando fugiu para o quilombo. Os palmarinos,
embora seu líder falasse latim e bom português,
não deixaram registro da sociedade livre que criaram
durante a escravidão.
A Folha esteve na Holanda e em Portugal, além de quatro
cidades brasileiras (Maceió, Porto Alegre, Recife e
Salvador), para compor um panorama do que se passou há
300 anos. Encontrou no Brasil arquivos em péssimo estado
de conservação e em Portugal catalogações
pouco criteriosas.
Certamente haverá surpresas quando pesquisas mais aprofundadas
sobre o tema forem realizadas. Alguns historiadores, afastando-se
das interpretações oficiais ou militantes, começam
a questionar a atitude de Zumbi ao recusar a paz proposta
pelos portugueses. Discutem se ele não deveria ter
seguido o caminho da diplomacia, como seu tio, Ganga-Zumba,
que celebrou o primeiro acordo com o governo da Capitania
de Pernambuco, em 1678.
Apesar do esforço de pesquisa realizado pelos profissionais
da historiografia brasileira nas últimas décadas,
ainda há muito a ser descoberto. No Museu Ultramarino,
em Lisboa, parte dos manuscritos do século 16, microfilmados
há dois anos, nunca tinha sido consultada até
a visita da Folha ao museu.
Situação semelhante verificou-se na Holanda,
onde muitos documentos sobre a escravidão na colônia
ainda aguardam tradução do holandês. Em
Portugal, arquivos estão sendo leiloados para particulares,
em verdadeiro processo de dispersão, sem que pesquisadores
tenham conhecimento deles.
Neste caderno, a Folha entrevista historiadores estrangeiros
e brasileiros. Compara o velho com o novo, revê teorias,
apresenta novas interpretações da figura desse
homem, cuja vida, entretanto, não valia mais do que
cem mil réis e um punhado de farinha de mandioca para
o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, chefe da milícia
armada contratada pela Coroa portuguesa para matá-lo
e destruir Palmares.
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