Local
da morte ainda é incerto
Da
enviada a Maceió
Uma
das últimas descobertas sobre a trajetória de
Zumbi de Palmares refere-se ao local de sua morte, uma gruta
na serra Dois Irmãos, em Alagoas. Sobre esse local,
todas as pesquisas citam observações do historiador
alagoano Alfredo Brandão, no livro ''Viçosa
de Alagoas'' (ed. Imprensa Industrial, Recife, 1914).
Brandão foi o primeiro a esclarecer por que Zumbi teria
sido morto na serra Dois Irmãos e não na serra
da Barriga: ''Os últimos combates dos Palmares se realizaram
na serra do Bananal, nome que servia para designar não
somente o atual prolongamento da serra Dois Irmãos
como também esta última''.
O historiador afirma que Zumbi estava escondido em um ''sumidouro'',
espécie de gruta escavada pela ação do
curso subterrâneo das águas de um rio. Brandão
cita documento de 18 de agosto de 1696, do Conselho Ultramarino,
que se refere a um sumidouro que teria sido ''artificiosamente''
construído por Zumbi.
Segundo Zezito de Araújo, professor da Universidade
Federal de Alagoas, as únicas pesquisas feitas até
hoje nesta região da serra Dois Irmãos, local
de difícil acesso, são de autoria do arqueólogo
Aloísio Vilela e do geógrafo Ivan Fernandes
Lima, morto em 1994.
Procurado pela Folha em Alagoas, Aloísio Vilela não
quis atender a reportagem, que, no entanto, teve acesso ao
trabalho ainda inédito de Fernandes Lima, o livro ''O
Quilombo dos Palmares - Uma Geografia da Liberdade, Contribuição
ao Estudo Geográfico do Quilombo dos Palmares'', resultado
do estudo geomorfológico da serra Dois Irmãos,
onde o geógrafo esteve entre 1988 e 1992.
Fernandes Lima faz a descrição do sumidouro
onde Zumbi foi morto, contestando a localização
proposta por Brandão.
(MARILENE FELINTO)
O
que diz Alfredo Brandão:
''Não é pois de admirar que o Zumbi se tivesse
refugiado a princípio no (mocambo de) Sabalangá
e mais tarde na serra que lhe fica próxima _a serra
Dois Irmãos_, a qual, por causa dos seus desfiladeiros,
seus penhascos abruptos e suas gargantas profundas, por uma
das quais se precipita o Paraíba, poderia oferecer
as condições de estratégia e resistência.
(...)
Um velho caboclo narrou a uma pessoa do meu conhecimento que,
estando a pescar de mergulho num poço do Paraíba,
ao pé da serra, viu que do lado da escarpa, por baixo
d'água, se abria um sumidouro (...). Afirmava ainda
que percebera nas paredes uns letreiros que não entendera
(...).'' (1)
O que diz Fernandes Lima:
''Até o momento não tivemos oportunidade de
encontrar (...) uma referência a um 'escavado' (...),
conforme o relato do 'velho caboclo' ao historiador Alfredo
Brandão (...). Para tirar as dúvidas do informe,
o arqueólogo viçosense Aloísio Vilela
(...) tentou 'barrar' o Paraíba (...). Nada do que
se falava encontrou.
Fomos levados a pesquisar o mesmo local e suas imediações
(...).
A alusão ao sumidouro nos leva a pensar que este seria
um local de esconderijo camuflado pela natureza, no qual o
chefe Zumbi escondia-se nos momentos de ataque ao seu novo
mocambo (...).
Se essa nova povoação ou o quilombo Zumbi 2
ficava nas proximidades do sumidouro, não estava, como
se pode supor, um tanto próxima daquela de Sabalangá
ou Dambrabanga, bem como da cidade de Viçosa; estaria
a sudeste de ambas, um morro na frente e ao norte da serra
Dois Irmãos, formando, antes de o rio Paraíba
descer, seu 'cañón' (...).'' (2)
FONTES
1. Alfredo Brandão, ''Viçosa de Alagoas'', ed.
Imprensa Industrial, Recife, 1914
2. Fernandes Lima, ''O Quilombo dos Palmares'', Sergasa, Gráfica
do Estado de Alagoas. O livro está no prelo, aguardando
verba para publicação
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