Jardim
dos gays
Na busca
de aventura, Roberto Lima, de 22 anos, preparador de refeições
para aviões, prefere o parque Siqueira Campos, mais
conhecido como Trianon. "É um point de caça",
define. Mas não é um território liberado:
"Dois homens de mãos dadas correm o risco de sofrer
repressão policial."
Numa cidade
em que os homossexuais fazem as maiores manifestações
públicas (bem maiores que as do Dia do Trabalhador),
eles ainda não conseguiram uma área pública
onde não se sintam ameaçados ou constrangidamente
tolerados. Se depender de Stela Goldenstein, secretária
municipal do Meio Ambiente, os gays terão direito ainda
este ano a um jardim no Ibirapuera.
Stela
decidiu lançar uma batalha contra o Detran (Departamento
Estadual de Trânsito), que abocanhou um naco do Ibirapuera
e fez dali um estacionamento. Essa área, protegida
por tapumes, acabou entrando no roteiro dos "points de
caça" e de prostituição masculina.
A idéia
é oficializar a área como um ponto de encontro
homossexual, mas revitalizado. Arquitetos, decoradores e paisagistas
seriam convidados a entrar num concurso para o projeto. O
plano corre, porém, o risco de resistência. Vizinhos
do Ibirapuera, os moradores do Jardim Lusitânia pressionam,
há anos, as autoridades para que expulsem os gays dali.
Para amenizar
as pressões dos vizinhos e não se criarem restrições
aos frequentadores do parque, Stela quer fazer parceria com
uma entidade de defesa dos homens homossexuais, que ajudaria
a fazer um pacto de conduta. Inspirado na experiência
com prostitutas da praça da Luz, o pacto proibiria
a prática de sexo em público ou nas redondezas,
a circulação de cafetões e qualquer atitude
ofensiva.
Não
vai ser fácil a idéia sair do papel, apesar
da simpatia da prefeita Marta Suplicy. Há muitas pessoas
influentes no Judiciário que vivem no Jardim Lusitânia,
o Detran terá de devolver o terreno (que não
lhe pertence) e as verbas para o jardim dependem ainda de
um patrocínio -não é sempre que se encontra
uma empresa tão aberta culturalmente a ponto de associar
seu nome a esse tipo de iniciativa.
Apoio,
em tese, não falta: bastaria que cada uma das 600 mil
pessoas que foram neste ano à Parada Gay doassem uma
moeda de 25 centavos para que se arrecadassem R$ 150 mil,
suficiente para fazer do estacionamento o primeiro jardim
gay do Brasil.
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