Trilha
de Esmeralda
Um dos
sinais da decadência do centro histórico de São
Paulo é o afastamento das crianças - exceto
das crianças de rua, símbolos ambulantes da
degradação. No próximo sábado,
estudantes se reúnem em frente ao Pátio do Colégio,
onde a cidade nasceu, para uma brincadeira de rua - desta
vez uma brincadeira educativa para tentar atrair crianças
de volta ao centro.
Eles vão
criar peças de azulejo para compor, nas calçadas,
uma trilha permanente que unirá os pontos históricos
mais significativos do centro; as oficinas ocorrerão
nas ruas por vários meses para que saia dali uma obra
coletiva. Será elaborado, com base na trilha, um guia
para as escolas, com dados sobre a memória paulistana,
numa mistura de mapa do tesouro com texto didático.
"A distância espacial também produz a distância
da história. As crianças estão enclausuradas
nos shopping centers, sem identificação cultural.
O adolescente riscou do mapa o centro", analisa Maurício
Faria, presidente da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb).
A trilha
é uma parceria do Procentro, presidido pela professora
de urbanismo Nadia Somekh, autora de livros sobre a história
de São Paulo, e o PraTiCidade, programa de recuperação
urbana da Fundação BankBoston. "Queremos
deixar a história mais próxima das crianças
e, assim, ajudá-las a compreender e a preservar sua
cidade. Ninguém cuida daquilo que não é
próximo", afirma Nadia.
Antes
da oficina de sábado, será apresentada a maquete
da trilha, já com o primeiro azulejo. A primeira peça
está sendo produzida por Esmeralda Ortiz, jovem que
passou boa parte de sua vida perambulando por aquela região,
onde conheceu o vício em crack e se tornou traficante
da droga. Aos oito anos de idade, foi morar na praça
da Sé. Em seus primeiros passos para tentar sair das
ruas, aprendeu um pouco da história do Pátio
do Colégio. Era um caminho para a menina que esperava
ganhar algum dinheiro como guia turística. "Não
deu. Não podia ficar ali, a droga ia ser mais forte",
conta Esmeralda, que, de símbolo da degradação,
virou símbolo de esforço de recuperação:
afinal, neste ano, passou no vestibular e começou a
estudar jornalismo.
"Nosso
sonho é que o centro histórico siga a trilha
de Esmeralda", diz Maurício Faria. É uma
área que, por enquanto, está com cara mais de
menino de rua do que de estudante que entra na faculdade.
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