Oficina
do tempo
Júlio
Barros nasceu em Ouro Preto e tornou-se andarilho por causa
do patrimônio histórico. Formado em restauração
na Alemanha, viaja pelas cidades brasileiras para recuperar
prédios, fachadas e esculturas -envolveu-se, por exemplo,
na reforma do Pelourinho, em Salvador. E agora está
desembarcando na avenida São João.
Contratado
para salvar a fachada do Conservatório Dramático
e Musical de São Paulo, ponto de encontro de intelectuais
e de músicos no começo no século 20,
na então elegante avenida São João, Júlio
Barros vai tentar recuperar também o tempo perdido.
Havia um tempo em que a arte do restauro, manejada pelos imigrantes
italianos, passava de geração a geração.
Mas o elo foi rompido; os mestres desapareceram e não
deixaram herdeiros.
Numa parceria
do Senai-MG, onde há curso para restaurador, com a
Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Júlio
quer treinar jovens em restauro de prédios históricos
-e, a partir desse núcleo, formar permanentemente mão-de-obra
especializada para novas encomendas.
Ele quer
repetir a experiência que iniciou no Pelourinho. "Nós
colocávamos meninos de rua e filhos de prostitutas
para trabalhar com obras de arte", conta. Trabalhava-se,
ao mesmo tempo, com a história do país e da
cidade e com a história individual -numa mistura de
possibilidades profissionais e educação com
a recuperação da auto-estima.
É
um mercado promissor -até porque há incentivo
fiscal para quem investir na recuperação de
prédios tombados e falta mão-de-obra. Ali mesmo,
nas imediações da São João, articula-se
um projeto com recursos federais, estaduais e municipais,
além de financiamento externo, para dar vida aos antigos
cinemas, hoje abandonados ou servindo para exibir pornografia.
A idéia é fazer dali uma área para musicais,
articulada com os espaços culturais das redondezas
(Correios, Masp da praça Patriarca e Centro Cultural
Banco do Brasil, além do novo Sesc, no antigo prédio
da Mesbla). Com projeto de Paulo Mendes da Rocha, autor da
reforma da Pinacoteca do Estado, o prédio do Cine Olido
vai receber várias secretarias municipais, entre elas
a da Cultura e a do Meio Ambiente.
Alguns
jovens matriculados na oficina de restauro já estão
mostrando do que são capazes: fizeram murais, expostos
na Casa Cor, inaugurada na segunda passada, onde dividem a
atenção com os mais requisitados arquitetos
e decoradores do país.
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