Das
prostitutas aos arquitetos
Em meio
a prostitutas, mendigos e drogados, a rua General Jardim,
mais um entre tantos retratos da deterioração
do centro, está prestes a tornar-se neste ano o pólo
mais sofisticado dos arquitetos paulistanos -e, certamente,
uma referência nacional. A rua vai estar para a arquitetura
como a Oscar Freire está para a moda.
Está
ali o premiado internacionalmente Paulo Mendes da Rocha, autor
da reforma da Pinacoteca do Estado, um dos principais marcos
da revitalização de São Paulo. A poucos
metros dele, o escritório Piratininga, onde nasceu,
pela primeira vez, o projeto de transformação
do edifício Matarazzo, no viaduto do Chá, numa
sede de governo; será ocupado até o final do
ano pela prefeita Marta Suplicy.
Propondo-se
a ser um núcleo de vanguarda do ensino de arquitetura,
foi lançada nessa rua a Escola da Cidade.
"Estamos num ponto estratégico onde podemos pensar,
intervir e experimentar concretamente na caótica paisagem
paulistana", diz Ciro Pirondi, diretor da faculdade.
Como parte
do currículo da escola, os alunos serão convidados
a pensar e a executar projetos no bairro, criando um showroom
a céu aberto. O projeto inicial foi uma intervenção
na calçada para se transformar em modelo para o bairro
-parte da calçada torna-se um jardim com árvores
e bancos voltados para os prédios. "Queremos irradiar
a vontade de intervenção urbana por toda a cidade",
anima-se Ciro.
Mudar
a cidade é o plano ainda de outro vizinho da Escola
da Cidade, também instalado neste ano, o Instituto
Polis, que pesquisa e desenvolve políticas públicas
para melhoria da cidade. Com a doação da Fundação
Ford, recuperaram um prédio abandonado. "É
uma feliz coincidência", diz Renato Cymbalista,
arquiteto e pesquisador do Polis, alegre com a sinergia da
vizinhança. O Polis vai desenvolver programas de treinamento
de líderes comunitários.
Há
história por trás dessa tendência. Na
década de 40, foi construído, na rua General
Jardim, o Instituto de Arquitetos do Brasil, que reunia, principalmente
por seu restaurante, batizado de Clubinho, estrelas como Oscar
Niemeyer, que projetou, nas imediações, o edifício
Copam, um dos ícones da arquitetura contemporânea
brasileira.
O prédio
acaba de ser tombado e, em breve, passará por reformas
-e volta a fazer parte de um espaço que, numa cidade
caótica, se mostra como exemplo de recuperação
urbana.
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