E
o rap virou escola
Surge,
em São Paulo, uma nova versão da escola de lata.
Desta vez, vem equipada com uma mesa de som de 16 canais,
dez caixas de som, três microfones sem fio, um telão
de 41 polegadas, iluminação e palco. Montada
sobre rodas, é ambulante e percorre a periferia da
cidade.
Começou
nesta semana a funcionar, naquela unidade móvel, a
"Escola de Rap", com shows e oficinas de música.
Seu professor, Antônio Luiz Júnior, de 29 anos,
cresceu nas redondezas da favela de Heliópolis. Depois
de trabalhar como office-boy e como ajudante de pedreiro,
conseguiu entrar numa faculdade privada, mas teve de abandoná-la
por falta de dinheiro. Boa parte de seus amigos hoje estão
presos no Carandiru -ele preferiu o caminho da educação
musical alternativa, fazendo de um caminhão uma sala
de aula.
Destaque
da atual geração de rappers, virou estrela do
mundo hip hop paulistano e ganhou o apelido de "Rappin
Hood", numa alusão a Robin Hood. "Só
não caí nas drogas e no crime por causa do rap",
conta.
Com o
apoio da gravadora Trama e da Secretaria Municipal da Cultura,
ele, acompanhado de DJs e rappers, deu a aula inaugural de
seu curso no domingo passado, no Capão Redondo, um
dos bairros mais violentos do Brasil. Diante de uma platéia
de 200 crianças e adolescentes, ensinou a batida rapper,
comentou as letras das músicas, mostrou os recursos
tecnológicos e, ao mesmo tempo, levantou questionamentos
políticos e sociais. Grupos locais são, então,
convidados a fazer suas apresentações.
Rappin
Hood sabe que, na paisagem da periferia, quase não
há horizonte para os jovens, e a música torna-se
um elemento na construção da auto-estima. Ele
próprio passou muito tempo sem acreditar em seu talento.
Uma de suas alavancas foi Mano Brown, vocalista do grupo Racionais
MC's, que, ao perceber a sua indecisão, lhe disse:
"Você não pode sumir, mano. Você é
um dos nossos".
Para muitos,
na periferia, a música é uma das poucas chances
de sonhar com dinheiro. "É lógico que nem
todo mundo que sabe fazer rap consegue ganhar dinheiro. Conheci
muita gente boa que não teve oportunidade. Mas pelo
menos fazemos da música um jeito de sonhar -o que,
na periferia, já é muita coisa."
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