Gente
no lugar de carro
Uma das grifes da arquitetura
brasileira, Paulo Mendes da Rocha foi convidado a arrancar grades, expulsar automóveis
e construir uma praça pública no meio de uma área totalmente
ocupada por prédios.
Autor da reforma da Pinacoteca
do Estado, Paulo Mendes desenhou a praça numa área de 54 mil m2
(cerca de oito campos de futebol), na Chácara Santo Antônio, bairro
onde habitam marcas famosas -é um dos principais pólos de desenvolvimento
econômico da cidade, que abriga Bayer, Globocabo, Chase, Caterpillar, Dresdner
Bank, Rhodia e Unisys. A poucos metros dali, está a Câmara Americana
do Comércio.
Os executivos saem dos modernos
edifícios e, no caminho dos restaurantes, vêem-se obrigados a andar
por calçadas minúsculas, esburacadas, disputando espaço com
os carros. Se os prédios lembram Nova York, as calçadas lembram
Nova Déli.
Desse incômodo, nasceram
uma associação de bairro (Verbo) e a vontade de pôr em prática
uma idéia tão inovadora quanto as que se desenvolvem nos negócios
privados. Da prancheta, surgiu uma passarela arborizada, rodeada por espelhos
d'água, levando a uma concha acústica, destinada a atividades culturais
durante as refeições.
O plano interessa aos executivos
por melhorar a qualidade de vida dos funcionários, o que significa mais
produtividade. E também a donos de prédios, que alugam as salas,
pois valoriza seus imóveis.
A associação
já pediu ajuda ao poder público para a aprovação do
projeto na prefeitura. "Adoramos", respondeu o presidente da Emurb (Empresa
Municipal de Urbanismo), Maurício Faria, dizendo-se disposto a montar uma
comissão de empresas com os governos estadual e municipal para ajudar na
viabilização da praça.
Muito além da passarela
vão os sonhos de Paulo Mendes. Atraído pela idéia de uma
intervenção pioneira, ele quer construir, nas cercanias, um estacionamento
para mil veículos, absorvendo os carros das empresas.
Devidamente remodeladas
e arejadas, as vagas sumiriam das garagens subterrâneas de prédios
e seriam incorporadas à praça, cedendo espaço a escolas,
creches, teatros e centros de convivência para funcionários e seus
filhos.
Dariam espaço, especialmente,
para uma idéia transgressora em São Paulo: a de que gente merece
ocupar o lugar do automóvel.
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