Fantasias paulistanas

Até mesmo para a liberal prefeita Marta Suplicy a proposta soou um tanto ousada: transformar a região da chamada "Cracolândia", nas imediações da estação da Luz, numa versão brasileira da famosa zona de prostituição de Amsterdã, na Holanda, onde as mulheres dispõem de quartos com vitrines para as ruas.

Concebida como uma alternativa para valorizar uma das áreas mais deterioradas da cidade, notabilizada pelo tráfico de crack e pelo chamado "baixo meretrício", a idéia, para a surpresa da prefeita, foi-lhe apresentada, reservadamente, pela cúpula da segurança pública de São Paulo.

Já que a prostituição não vai mesmo sair dali, raciocinam os policiais, melhor institucionalizá-la, garantindo uma rede de proteção de agentes de saúde. A Secretaria da Segurança Pública estaria disposta a manter ali policiamento preventivo - prostituição não é crime. Crime é a exploração de mulheres.

Devido às previsíveis repercussões, a sugestão provavelmente vai ficar no campo das fantasias. Mas, na prática, os aliados principais da prioridade de Marta, a melhoria do centro, são, até agora, os policiais. Na próxima semana, as cúpulas da segurança pública, incluindo os comandos das polícias Civil e Militar, desfilarão pelo viaduto do Chá para ocupar um prédio na rua Libero Badaró, inaugurando a nova sede. A Secretaria da Segurança Pública abandona o aristocrático casarão de Higienópolis.

"É natural que a região se torne mais valorizada", aposta o secretário estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi. "É uma ótima mudança", comemora a administradora da Regional da Sé, Clara Ant, sempre às voltas com a delinquência impune, a começar pela rede que alimenta os ambulantes, movida a contrabando, sonegação e roubo de cargas.

Com a inauguração do comando unificado, aquela rua, com seus mendigos, catadores de papel, meninos de rua e ambulantes, candidata-se a símbolo de reconstrução de uma cidade -o que, para muitos, ainda é fantasia. Está saindo do papel o plano de reforma da praça do Patriarca; a galeria Prestes Maia tornou-se extensão do Masp. A Secretaria do Planejamento já se mudou para o fim da Libero Badaró e, em frente a ela, surgirá uma universidade. A poucos metros dali, no prédio do Banespa, no viaduto do Chá, Marta Suplicy quer instalar no próximo ano a nova sede da prefeitura.

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